O método Bolsonaro
Publicado em 10 de maio de 2020
Por Jornal Do Dia
Pode até acabar em pizza, mas a CPI das Fake News tem o potencial de ainda dar muita dor de cabeça ao presidente Bolsonaro. Há poucos dias, documentos oficiais revelaram que o dinheiro público irrigou uma verdadeira rede de sites suspeitos. Tudo indica, a desinformação é esteio do projeto de poder cultivado pelo presidente e os seus familiares.
Não se trata aqui de mera especulação, mas de fatos. O governo de Jair Bolsonaro veiculou publicidade sobre a reforma da Previdência em sites de fake news, de jogo do bicho, infantis, em idioma russo e em canal do YouTube que promove o presidente da República. Por óbvio, não foi investido pouco dinheiro.
O caso em tela é revelador de um método. Por um lado, o governo federal financia o disparo de notícias falsas e o culto personalista à imagem do presidente Bolsonaro. Por outro, atenta contra a transparência. A Secretaria de Comunicação da presidência negou acesso aos dados oficiais repetidas vezes. Após recursos, a Controladoria Geral da União determinou em fevereiro que a Secom deveria disponibilizar o relatório pedido no prazo de 60 dias contados da notificação da decisão.
A bem da verdade, a eleição que consagrou o presidente Bolsonaro nas urnas foi disputada na base do vale tudo. As calúnias mais infames foram reproduzidas à exaustão, até acabarem aceitas como verdade. Nem mesmo o trabalho saneador realizado pelo bom jornalismo, contrário à simples especulação, apoiado em fatos, foi suficiente para orientar o eleitorado. A desonestidade virou a regra do jogo. Deu no que deu. Infelizmente, o Tribunal Superior Eleitoral não esboçou reação mais efetiva, apesar de todos os avisos, não se mostrou à altura do desafio sob a própria alçada.