Quinta, 02 De Maio De 2024
       
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O motor da História


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Publicado em 02 de abril de 2024
Por Jornal Do Dia Se


Marx e Engels: 175 anos nomeando exploradores e explorados. (Divulgação)

Rian Santos
 
O Manifesto do Partido Comunista já conta quase 200 anos, desde quando Karl Marx e Friedrich Engels deram fé de um fantasma rondando a Europa. Concebido como um panfleto político, o documento dividiu o mundo inteiro em duas bandas. De um lado, os donos dos meios de produção. Do outro, os trabalhadores, donos somente da sua força de trabalho, os próprios braços. A luta de classes e não o carvão no forno das fábricas, expulsando fumaça das chaminés, alimentaria o motor da História.
Mesmo para quem, como eu, só entende na política a revolta, o Manifesto é emocionante. Não apenas pelo enunciado – no fim das contas, uma peça de propaganda. Mas, sobretudo, pela forma. A retórica poderosa do texto, conclamando os proletários do mundo inteiro à união, não sobreviveria tanto tempo sem a têmpera da linguagem esmerada. Qualquer comparação com os embates travados hoje, com a participação dos maiores partidos e sindicatos, à esquerda e direita, tão pragmáticos, resultaria constrangedora.
Sempre que folheio o Manifesto, me comovo com a capacidade de suas palavras definirem as feições da realidade. É como se, antes da nomeação, a coisa em si não existisse. Só então o homem livre e o escravo, o patrício e o plebeu, senhor e servo, chefe de corporação e assalariado ganharam o nome próprio de opressor e oprimido, explorador e explorado.
Evidente que tanta força deriva não apenas da narrativa, como em uma obra de ficção, mas justamente de uma comunicação imediata com o entorno de contrastes gritantes. Leandro Karnal fez o resumo da ópera, em artigo no Estadão: “Utopias, movimentos históricos e sangue correram em torno das ideias do Manifesto Comunista. Passados 170 anos, ainda estamos aqui pensando na obra e em como resolver as desigualdades do mundo”.
Ontem, batendo perna pela centro de Aracaju, dei de cara com evento promovido pelo Sintese, em alusão ao sexagésimo aniversário do golpe de 64. Sindicalistas de voz cansada e pigarro na garganta vociferavam contra os generais, ao microfone. Comparo o discurso inesperado, o berro mais justo sob o sol de uma manhã incandescente de outono tropical, com o texto clássico. E morro de tristeza.O resto é silêncio.
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