O ofício de João Ventura
Publicado em 17 de outubro de 2023
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos – riansantos@jornaldodiase.com.br
“O queridinho de Madonna”. É assim, palavra por palavra, que um evento realizado no sul maravilha (ver nesta página) resume o Curriculum Vitae do sergipano João Ventura – uma jogada comercial das mais rasteiras.
Músicos não estão alheios às relações de poder e influência do mundo real, não habitam o éter. Músicos, no entanto, antes de tudo, fazem música. O predicado atribuído a João Ventura, um pianista de mãos cheias e belas madeixas douradas, ignora o seu maior atributo profissional, o talento.
Ele mesmo, é bem verdade, não faz muito caso das próprias composições. Fosse diferente, não investiria tanto tempo e energia em um número de circo, os tais Contrapontos. Mas além de montar os pileques de Reginaldo Rossi sobre o dorso selvagem de uma sonata composta por Beethoven, uma presepada de pouca inspiração, puro malabarismo, João Ventura escreve. E o faz como gente grande.
Aqui e ali, lampejos da inspiração de João Ventura fulguram na miríade de informação disponibilizada em ambiente digital, uma gota no oceano. Para mim, no entanto, o pouco dado a conhecer de sua faceta como compositor me basta para lamentar tanto o Frankenstein popularesco/erudito aqui já mencionado, quanto a sua disposição para a publicidade. Vendido como adereço de Diva Pop, o músico sergipano é um desperdício.
Esta semana, o queridinho de Madonna se apresenta para dondocas cheias de modos e de notas, acompanhado por James Bertisch, perto demais das capitais. A presença deste, no entanto, adverte os incautos, afeitos a colunas de fofoca: o seu ofício é só o de fazer música.