O PesquEle, a transparência nas pesquisas e alguns dados das eleições em Aracaju, referentes a agosto
Publicado em 13 de setembro de 2024
Por Jornal Do Dia Se
* Cleverton Costa Silva
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Tendo estreado na página 4 da edição de 12 de julho do Jornal do Dia com o artigo “Aracaju, as Pesquisas (Pré-)Eleitorais até junho de 2024, e o que elas deixam de dizer”, volto a escrever a respeito da transparência no contexto das eleições para a Prefeitura de Aracaju/SE, motivado pelas revelações trazidas pelas pesquisas registradas desde o início de agosto de 2024 no Sistema de Registros de Pesquisas Eleitorais do Tribunal Superior Eleitoral, ou PesquEle/TSE.
Com os arquivos disponíveis no PesquEle, sendo estes os questionários aplicados e o detalhamento do perfil demográfico das amostras, compilados e analisados sistematicamente em planilha eletrônica, e com o auxílio de matérias e reportagens revelando os resultados de intenções de votos e alguns outros fatores e variáveis, é possível se ter um vislumbre de diferentes momentos da disputa eleitoral, a serem comparados com os resultados computados e declarados no dia 6 de outubro, data do 1º Turno.
Neste sentido, em Aracaju os institutos registraram 13 pesquisas no mês de agosto. Dentre estas, a primeira foi a 100% Cidades e W1 Web TV no dia 8; Única no dia 13; Inor no dia 14; Gadu Solution no dia 16; Quaest e Real Time Big Data no dia 20; Instituto Veritá no dia 21; IDPS no dia 23; Instituto França de Pesquisas (IFP) no dia 24; ECM Pesquisas no dia 27; Atlas Intel dia 28 e novo registro da Gadu Solution no dia 29. As pesquisas da 100% Cidades e INOR aparentemente não foram divulgadas, pelo menos em meios de fácil difusão pela internet.
A pesquisa da ECM foi divulgada no dia 2 de setembro, mas a coleta de opiniões da amostra foi feita ainda em agosto; a Atlas Intel, divulgada pela TV Atalaia no dia 4 de setembro, teve coleta de dados feita entre 28 de agosto e 2 de setembro. A Gadu Solution ainda não divulgou, mas a coleta de dados se deu apenas no mês de agosto. Todas estas pesquisas foram relacionadas, especificadas por datas e agrupadas aqui porque cronologicamente elas marcam o período do final do prazo das Convenções, que se deram até 5 de agosto; o período de registro de candidaturas para Prefeitas(os) e Vereadoras(es), que foi de 6 a 15 de agosto; e as duas primeiras semanas das campanhas das chapas nas ruas da cidade.
Feita a contextualização deste primeiro mês em que as campanhas tomaram forma efetiva, pode-se tratar agora de detalhes revelados pela documentação disponibilizada no sistema do TSE. Em panorama, quanto ao custo, as pesquisas eleitorais variam na faixa entre R$ 5.000,00 e R$ 25.000,00, com exceção das mais caras: a Veritá, de R$ 40.097,00; e a Quaest, contratada pela TV Sergipe por R$ 62.622,00. Quanto às amostras, estas variam entre 743 e 1.200 pessoas entrevistadas. As margens de erro divulgadas pelos institutos em suas respectivas pesquisas variam entre 3 p.p. e 4 p.p. (pontos percentuais para mais ou para menos), com maior parte dos institutos trabalhando com frações dentro desta margem.
Tal variação se mostra importante nas pesquisas eleitorais por caracterizar a situação de empate técnico quando, diante das percentagens, por rigor científico e honestidade intelectual, os estatísticos a serviço dos institutos admitem que pode haver distorções, ao calcularem o desvio padrão da população pela raiz quadrada do tamanho da amostra, onde é possível que um(a) candidato(a) melhor colocado(a) na verdade esteja no limite percentual inferior, e o pior colocado na verdade possa estar na limite superior.
É devido ao fator estatístico da margem de erro que na eleição aracajuana se admite que Candisse de Lula (PT), a delegada Danielle Garcia (MDB) e o candidato situacionista Luiz Roberto (PDT) figurem em empate técnico, em intensa disputa pela 3ª posição em intenção de votos, muito próximas à 2ª colocada. Neste sentido, o até então 2º lugar “isolado” de Yandra de André Moura (UB) já não é uma posição tão confortável quanto parecia ser na pré-campanha, até julho, período onde apenas as candidaturas de Emília Corrêa (PL) e da própria Yandra já estavam bem definidas.
Voltando-se para a verificação dos questionários, em conjunto se percebe que quase todas as pesquisas se voltaram para as intenções de voto espontâneas, onde as pessoas entrevistadas disseram em quem pretendiam votar sem que os(as) aplicadores(as) citassem os nomes das(os) candidatas(os); as estimuladas, ou induzidas, onde as equipes dos institutos informaram estes nomes da corrida eleitoral, dando a oportunidade de que as pessoas entrevistadas lembrassem de quem está na disputa, o que faz com que as intenções de votos aumentem e o número de indecisos diminua sensivelmente. A Gadu Solution, em suas duas pesquisas, e a Veritá realizaram pesquisas espontâneas para a vereança de Aracaju, mas apenas a pesquisa Gadu de 29 de agosto foi divulgada pela contratante em 9 de setembro.
Via de regra, as pesquisas mais elaboradas e caras avaliaram também níveis de aprovação do Prefeito Edvaldo Nogueira, do Governador Fábio Mitidieri e do Presidente Lula. Apenas a pesquisa Quaest avaliou também a tendência de transferência de voto destes, e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), bem menos influente hoje que nas pesquisas de pré-campanha, despertando bem menos interesse público, tanto que Emília Corrêa hoje o tenta esconder na campanha.
Em termos de novidade, transparência e qualidade de informação na divulgação, destacam-se positivamente a pesquisa Quaest em 26 de agosto, divulgada na TV Sergipe e seu portal, onde constaram intenção de votos, conhecimento das(os) candidatas(os), potenciais de voto, rejeição e complexa estratificação da amostra; e a Atlas Intel, divulgada em 4 de setembro pela TV Atalaia, que assim como a Quaest enfatizou a margem de erro como fator de empate técnico, apresentou simulação de 2º turno e os resultados onde os maiores problemas de Aracaju estão nas áreas de saúde (61,6%), transporte público (42,2%) e educação (26,2%), além de outros sete aspectos menos pontuados.
Do período de 30 de agosto até 3 de outubro, conforme o calendário oficial do TSE, vem se dando uma nova fase na campanha eleitoral: a propaganda nas redes de TV e radiodifusão, onde a divulgação das campanhas majoritárias e proporcionais se amplificam massivamente, atingindo a quase totalidade da população, numa capilaridade que a internet ainda não atingiu, pois é prudente lembrar que nem todo mundo ainda possui um smartphone e um pacote de dados à disposição para consumir informações por este meio.
Com o levantamento de todo o material para a escrita deste texto e do anterior, foi possível também compreender a dinâmica eleitoral aracajuana a partir dos resultados das pesquisas estimuladas / induzidas, mas isto é assunto para ser apresentado em outro artigo.
* Cleverton Costa Silva é pesquisador