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O PRATO DE LOUÇA DO MENINO QUE GOSTAVA DE OUVIR SINOS
Publicado em 18 de março de 2014
Por Jornal Do Dia
Olhando aquelas longas filas de jovens que desciam as rampas interligando pavimentos de um dos prédios do polo da faculdade AGES em Paripiranga, na Bahia, um dos prefeitos que visitavam o campus, lembrou: ¨Parece Serra Pelada¨. Um outro, que estava próximo, observou: ¨Mas veja a diferença, aqui, aquela moçada está procurando o ouro do conhecimento ¨.
Há 33 anos um jovem que acabara de receber o diploma de licenciatura em Letras pela Universidade Federal de Sergipe, campus de Aracaju, retornara à sua terra com o primeiro sonho realizado: Era professor. Criou então uma modesta escola, semente do que viria materializar o segundo sonho: Aquele formigueiro humano povoado por mais de 7 mil jovens, tais como os protagonistas daquela cena, na alacridade habitual do término das aulas descendo as rampas, que fizeram lembrar imagens da super povoada mina de ouro na selva amazônica. Serra Pelada foi uma tragédia brasileira, juntando a frustração de muitas vidas desesperançadas, com a ambição da riqueza fácil, desenhada pelo discurso enganoso de uma ditadura que se especializava em anestesiar consciências.
No Povoado Poço do Espírito Santo, um menino raquítico, olhos esbugalhados , sintoma de desnutrição com a vontade de enxergar o mundo, andava a graxar sapatos, capinar o mato, sempre agarrado a uma cartilha e um catecismo. Pensava em ser padre, ajudava na igreja e não perdia a oportunidade de puxar as cordas e fazer tocar os sinos. Na virada dos anos 60 para os 70, morriam em Paripiranga muitas crianças e, para elas, plangiam dolentes os sinos da igreja. O menino acabara de realizar o desejo de comer num prato de louça, achado inteirinho no lixo. Depois o lavou, tanto o esfregou, que dele fez uma peça reluzente para alimentar seu orgulho modesto de criança que ia conseguindo, pelo desvelo da mãe, escapar do tétano e de tantas outras doenças que dizimavam a infância, e faziam a média do tempo de vida naquele canto desprezado da Bahia imensa, não passar dos 40 anos.
O professor, educador e empreendedor social que estava a guiar prefeitos numa visita técnica às salas de aula, laboratórios, biblioteca, restaurantes, parque ecológico, salas pedagógicas, era José Wilson dos Santos, o menino que tocava sinos e queria comer num prato de louça, o criador da AGES.
Quem chega pela primeira vez a AGES, logo observa o diferencial da atenção, da cortesia, do profissionalismo, desde a portaria à todas as dependências do complexo de ensino agora com mais de vinte cursos disponíveis. Na fala do professor Wilson há um permanente foco no tema da responsabilidade social. Wilson admira inovadores e militantes sociais como o Frei Leonardo Boff. Entre os que o ajudaram no empreendimento está o professor sergipano José Araújo Filho, um dos líderes da Juventude Universitária Católica, núcleo de pensamento social cristão e renovador, muito influente em Aracaju nos anos 50 e inicio da década dos 60.
A AGES chega agora a Sergipe. Primeiro, instala-se em Canindé do São Francisco. As informações transmitidas pelo prefeito Heleno Silva e seu secretário da Educação professor Orinaldo, inclusive com o oferecimento de instalações já prontas, fizeram o professor Wilson decidir que Canindé será o primeiro ponto em Sergipe, e onde funcionarão vários cursos, entre eles, os de engenharia civil, agronomia e engenharia elétrica. Em seguida, em Lagarto, onde o prefeito Lila Fraga está agilizando diversas providencias para oferecer a infraestrutura. O professor Wilson não faz exigências, não quer isenção fiscal, sugere apenas que o ISS seja revertido em bolsas de estudos. Os prédios que lhe serão oferecidos, ele os ocupará por tempo determinado até construir suas próprias instalações. Entusiasmado com Sergipe, com a visão futurista do governador Jackson Barreto, pela impressão positiva causada quando por ele foi recebido, também do seu amigo desde os tempos do Banco do Nordeste, o secretário do Desenvolvimento Saumínio Nascimento, que o incentivou a vir para Sergipe, o professor Wilson tem agora, em Canindé, algo como se fosse o seu segundo ¨prato de louça¨, e começa a desenhar outros projetos que passam pelo turismo, setor considerado estratégico pelo prefeito Heleno Silva.