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O SABÃO DE AUSCHWITZ- BIRKENAU
Publicado em 02 de fevereiro de 2015
Por Jornal Do Dia
Os alemães são criativos, industriosos também, são cultos, civilizados, mas o nazismo os transformou em bestas desumanizadas. Faz setenta anos neste mês que se findou, as tropas soviéticas empurravam a poderosa máquina da antes invencível Wermacht para dentro das fronteiras do orgulhoso Reich alemão. De lá haviam saído os exércitos há quase cinco anos, derramando-se, primeiro, em direção ao ocidente, subjugando a Polônia, Bélgica, Holanda, a França, depois, no erro fatal de Hitler, marchando sobre as estepes da grande Rússia. Chegaram às portas de Moscou e de Stalingrado, refluíam, agora derrotados, para o mesmo ponto de onde haviam saído na fronteira polaco-alemã. Nos arredores de Cracóvia, a vetusta cidade com raízes na Idade Média ficava Auschwitz – Birkenau, o terrível, tétrico monumento, que os nazistas erigiram para, sobre dezenas de milhares de vidas, deixarem a prova mais contundente e devastadora da crueldade de uma ideologia e de um regime sustentados na forma mais extremada do ódio.
Diante da derrota os comandantes do enorme campo de concentração e de extermínio tratavam de esconder os vestígios da barbárie, do crime horrorosamente hediondo.
Judeus, eslavos, ciganos, levados a Auschwitz-Birkenau, depois de mortos transformavam-se em matéria prima para a industria alemã. Entre elas estavam grandes complexos farmacêuticos, químicos, metalúrgicos, que hoje são poderosíssimas multinacionais. Recebiam cabelos, gorduras, peles, ossos, dentaduras, e tudo isso era transformado, servindo para a máquina de guerra e também como utilidades nos lares das famílias alemãs, certamente, sem saberem a origem dos produtos que adquiriam. Mas a mulher de um dos carrascos sabia de tudo, tinha, ao lado da cama um abajur recoberto com pele humana, que, dizia ela, era bem translúcida. Havia um sabão feito com gordura humana que deve ter servido para lavar crianças alemãs soltando o primeiro vagido. Encontraram uma forma de transformar a morte em proteção da vida.
Os oficiais que comandavam Auschwitz – Birkenau tiveram educação refinada, quase todos apreciavam a Ópera, muitos deles tinham predileção por Parsifal, a obra prima de Richard Wagner ( 1813- 1883) . Aquela peça operística das mais interpretadas na Alemanha, tem um profundo sentimento místico, girando em torno de virtudes tão valorizadas pelo cristianismo, que Wagner foi buscar na Idade Média. Quem ouve os barítonos e as sopranos interpretando o sofrimento do rei Anfortas, e a tentativa do nobre cavaleiro Parsifal para salvá-lo, depois,vê a luz salvadora do Santo Graal ressurgindo, deve ser tocado por alguma coisa transcendente, acima das maldades humanas. Mas, Hitler, que era assíduo freqüentador do Festival de Bayreuth, o maior acontecimento da música clássica da Alemanha, descobriu na ópera Parsifal a mensagem da pureza da raça, a supremacia germânica. Nas chagas que ameaçavam a vida do rei Amfortas Hitler identificou a terrível contaminação que os judeus espalhavam pelo mundo. Assim , aniquilar judeus seria uma tarefa sagrada, atribuída aos ¨cavaleiros do bem ¨ que seriam os carrascos nazistas.
Wagner recomendava que o clima de ascese da sua ópera, não fosse ao final perturbado pelos aplausos. O silencio profundo seria a mais adequada forma de aplaudir.
Sobre a memória cruel de Auschwitz- Birkenau é preciso que a humanidade jamais silencie, mesmo que ainda esteja sobre a terra carregando mais séculos do que aqueles que hoje ostentam as pirâmides.