Quinta, 23 De Janeiro De 2025
       
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O show não pode parar


Publicado em 30 de outubro de 2014
Por Jornal Do Dia


Segundo Galdino, os próximos quatro anos serão de muita luta para os militantes da cultura sergipana

Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br

A vida é diária. Política, só de dois em dois anos. A classe artística sergipana vacilou feio e perdeu a oportunidade de sentar com os candidatos que acenavam dos palanques durante o último embate eleitoral para colocar as cartas na mesa. Nenhuma proposta. Nenhuma reivindicação. Corre agora o risco de ficar a pão e água, sem o pouco distribuído por meio dos editais que, bem ou mal, remediam o aporte absurdo de recursos públicos nos chamados grandes eventos do calendário festivo da aldeia. O show não pode parar.

Segundo a Secretaria de Estado da Cultura Eloísa Galdino não há razão para alarde. Em conversa exclusiva com o Jornal do Dia, a secretária sublinha a sensibilidade do governador eleito Jackson Barreto para os papocos de sua gente e garante que, daqui pra frente, a luta é pela ampliação do alcance das ações da pasta. Vamos ver.

Jornal do Dia – Já são quantos anos à frente da Secretaria de Cultura? É possível realizar uma comparação, sob a perspectiva do gestor, entre o cenário encontrado quando você assumiu a responsabilidade e o ambiente artístico a disposição dos sergipanos nos dias de hoje?

Eloísa Galdino – Na verdade, são cinco anos. Ao chegarmos na Secretaria da Cultura, já encontramos o início de um trabalho diferenciado conduzido pelo saudoso professor Luís Alberto na gestão do também saudoso Marcelo Déda. O que fizemos foi aperfeiçoar a relação com os agentes culturais, através do estímulo à formação de fóruns e coletivos, identificar gargalos e implementar de fato uma política cultural para o nosso Estado, em sintonia com a conduzida pelo Governo Federal. Esses fatores já nos credenciam a dizer que sim, evoluímos. Por mais que ainda haja muito, muito mesmo, a ser feito na área da cultura, acho que hoje o Governo tem um norte, principalmente no que diz respeito às formas de aplicação de recursos para fomentar a produção artística, na maneira como nos relacionamos com os agentes e na aproximação da sociedade com o nosso patrimônio cultural.

JD – A Secretaria de Cultura sempre foi encarada como uma peça menor na estrutura administrativa do Estado. O orçamento a ela destinado ampara o argumento. A ausência de um debate voltado para as urgências da classe artística em período eleitoral, mais das vezes utilizada como bucha de canhão, também. A constatação não desanima? É possível fazer cultura sem verba para investimento?

Eloísa – Depende de quem esteja à frente do processo. No meu caso, a constatação não desanima, pois sempre encarei como um desafio a ser superado. E eu gosto de desafios. Diante do orçamento baixo, não fiquei quieta apenas despachando do meu gabinete. Conduzi o processo de reorganização do Fundo Estadual de Desenvolvimento Cultural e Artístico (Funcart), o que possibilitou a realização do primeiro Festival Sergipano de Teatro, de dois editais para a área do Audiovisual e do Festival de Novas Composições de Forró, só para citar alguns exemplos. Também coloquei os nossos projetos debaixo do braço e fui atrás de apoio da iniciativa privada. Enfim, eu levanto a bandeira de mais recursos para a área cultural, mas optamos por trilhar caminhos alternativos enquanto travamos essa luta por mais investimento público, que é longa e difícil. E não é uma luta de Sergipe, é uma luta nacional, que consegui visualizar muito bem quando presidi o Fórum de Secretário e Dirigentes Estaduais de Cultura, registre-se, outra grande vitória pessoal e profissional.

JD – Vira e mexe, sou surpreendido pela reclamação de um artista inconformado com a política de editais que vem intermediando a relação com os gestores da cultura. A gritaria é livre, mas ninguém nunca apontou protocolo mais correto, afinado com o princípio de impessoalidade que rege a prestação de serviços no âmbito da administração pública. Dá a impressão de que esse pessoal preferia bater à porta do gabinete com o chapéu estendido, ou se aproveitar da proximidade porventura desfrutada junto ao gestor aboletado na Secretaria, na esperança de financiar os próprios projetos. Eu to maluco?

Eloísa – Não está não. Pelo contrário: acho essa uma colocação muito lúcida. Antes da chegada de Marcelo Déda ao governo, alguns agentes culturais conseguiam apoio para seus projetos pelas relações pessoais que mantinham com integrantes do governo. Não achávamos isso justo e reproduzimos aqui o modelo de seleção pública via editais para que todos competissem em pé de igualdade. Por se tratar de uma novidade, tivemos ainda a preocupação de promover atividades de capacitação para artistas e produtores culturais do Estado. Considero a política de editais um dos maiores êxitos da nossa passagem pela Secult. Deu certo. Mas como todo processo de mudança, precisa ser amadurecido pra ser assimilado e incorporado ao cotidiano das políticas públicas. Sou e continuarei sendo defensora deste modelo.

JD – Falando em editais, eu reputo escandalosa a omissão do Estado em relação ao segmento das artes visuais. Seria pedir muito um edital anual que contemplasse meia dúzia de projetos expositivos? Qual a razão do privilégio atribuído ao audiovisual e teatro em sua gestão?

Eloísa – Bom, você mesmo mencionou a falta de recursos para a área cultural em outra pergunta e com ela vou justificar a nossa falta com o segmento das artes visuais: logo que chegamos, estabelecemos metas e desenvolvemos projetos para todas as linguagens artísticas. Não tínhamos recursos suficientes para tocar todos. Devo aqui confessar que a organização coletiva do pessoal de teatro e audiovisual teve influência para que as seleções públicas e ações para essas áreas fossem mais constantes. Demos contribuições mínimas e pontuais para as artes visuais, infelizmente, mas pretendemos deixar engatilhado para 2015 um plano de trabalho que impulsione as ações desse segmento. Tenho certeza de que o governador Jackson Barreto tocará este plano, por sua sensibilidade e envolvimento com a cena cultura de maneira geral.

JD – E a cessão do Centro de Cultura e Arte Ana Maria Alves para usufruto do empresário Joubert Uchoa, não demonstra ausência de sensibilidade em relação aos pleitos dos artistas visuais? Não seria aquele um espaço perfeitamente adequado para abrigar as ousadias de uma geração que, não fosse os serviços prestados pela galeria do Sesc e a Sociedade Semear, permaneceria ao relento?

Eloísa – Nós tínhamos dificuldades financeiras para revitalizar o prédio da Galeria da Orla de Atalaia e de manter ativo aquele espaço. Na negociação com a Universidade Tiradentes, que transformará o espaço no Memorial de Sergipe, garantimos que o projeto arquitetônico (desenvolvido por Ézio Déda, o mesmo que projetou o Museu da Gente Sergipana) contemple um espaço permanente para a exposição de trabalhos de artistas visuais. Em outras palavras, o espaço da galeria será mantido, preservado e funcionará como um belo local para as artes visuais. E eu não tenho dificuldade de assumir que parcerias são importantes, e devemos buscá-las sempre.

JD – E daqui pra frente? Já existe algum projeto para a Cultura no segundo mandato do governador Jackson Barreto?

Eloísa – O governador Jackson Barreto tem entusiasmo pela área da cultura, tanto que durante a sua campanha à reeleição ele dedicou um programa de TV ao tema. Sei que ele tem uma vontade muito grande de interiorizar ainda mais as ações da Secult, mas sem desconstruir o que já foi feito. Acredito que essa será a palavra-chave da política cultural do governo Jackson: interiorização. Serão quatro anos de muitas conquistas. E de muita luta também. Acredito muito nisso, e avalio que os coletivos da área também acreditam.

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