Sexta, 17 De Janeiro De 2025
       
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O vexame de Brown


Publicado em 12 de julho de 2022
Por Jornal Do Dia Se


Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br

Carlinhos Brown produziu o melhor disco de Arnaldo Antunes – ‘Paradeiro’ (2001). E só por isso merece perdão pelos hits descartáveis dos Tribalistas. Imperdoável é o surto de isenção sofrido perante o prezado público. Sob o pretexto de pairar acima das disputas mundanas, o músico baiano se opôs à voz do povo, há quem muitos reconhecem embaixador do próprio Deus.
Os brasileiros já não se contentam em sussurrar pelos botecos e gritam sua aversão ao presidente Jair Bolsonaro nos mercados, nos teatros, nos campos de futebol, em alto e bom som. Mais das vezes, sintonizado com a aflição popular, o artista sob os holofotes engrossa o coro dos descontentes de bom grado. Há episódios lamentáveis, no entanto, quando o homem em cima do palco revela sua completa falta de conexão com a vida dura das pessoas a quem deve os louros do sucesso, todos os aplausos e o próprio conforto. Carlinhos Brown foi ingrato, não tinha o direito de bancar o isentão.
Leio em O Globo. Brown interrompeu uma manifestação da plateia contra Bolsonaro, durante um show. O público gritava “Fora, Bolsonaro!”, a plenos pulmões. Mas o músico deu uma de João sem braço e reproduziu um discurso perigoso que, no extremo, redunda na criminalização de qualquer manifestação de natureza política e partidária.
“Desculpe, eu sou o Brasil que deu certo, não me meta nisso daí. Não quero nem saber dessa gente. Eu não me meto nisso… Não quero me meter nesse assunto. Vamos fazer a construção desse país. A gente está aqui pra mudar, e vamos mudar sem política!”.
Argumento assim tão pobre na boca de quem fala a tantos, por tantos, volta-se contra os privilégios de quem não conhece o Brasil exposto nas esquinas das grandes cidades, no sinal fechado, na primeira página dos jornais. Inflação, desemprego, corrupção localizam o País no mapa da fome. O presidente da República insinua um golpe de Estado, com os tanques do exército e as metralhadoras das milícias. Mas Brown está de boa na lagoa, exibe as mãos limpas, não quer saber de política, não se mistura com a gentalha, o populacho.

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