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A PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA BRASILEIRA NO NOVO ANO


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Publicado em 15 de janeiro de 2022
Por Jornal Do Dia Se


Manoel Moacir Costa Macêdo

Faz tempo que o setor agropecuário brasileiro tem sido o “salvador da lavoura”. Safras agrícolas e superávits crescentes a cada ano. Combinação do divino com o humano. Da natureza com gente trabalhadora e cristã. Terras agricultáveis em abundância, ciência e tecnologia disponíveis, sol e fotossíntese ininterruptas, energia acessível, três safras anuais e empreendedorismo dos produtores rurais. No dizer do poeta, um país “abençoado por Deus e bonito por natureza”, ou ainda o “coração do mundo e a pátria do evangelho”. Ingredientes de uma Nação rica e generosa com os seus filhos e solidária com o mundo.
No percurso de sua história, permanece entretanto, um modelo agroexportador excludente e concentrador, impulsionado pela modernização europeia na Colônia subalterna ao Império português. Retóricas renovados na atual “modernidade líquida” e na globalização. No passado os monocultivos do pau-brasil, do café, da cana-de-açúcar, do cacau, da pecuária, da seringueira e da mão-de-obra escrava. A exploração do ser humano pela cor da pele. O retardatário país das Américas a extinguir formalmente a escravidão negra. Por mais de três séculos dominou o modo de produção de dores, humilhação e crueldade. A moldura de nossa sociabilidade, a exemplo do racismo cultural e da desigualdade social. Mazelas que grudaram em nosso ser e jamais nos abandonou.
No presente, a trajetória da produção agropecuária brasileira segue o molde colonial, destituída de agregação de valor nos seletivos produtos agrícolas. No idioma do mercado global as chamadas commodities. Nomenclatura atualizada do modelo agroexportador concentrado em soja, milho, algodão e carnes, para restritos importadores e dependência tecnológica, a exemplo da transgenia da soja e do milho, propriedade intelectual das companhias agroindustriais transnacionais. No dizer do cantante: “[…] A mesma praça, o mesmo banco. As mesmas flores, o mesmo jardim. Tudo é igual, mas estou triste […]”.
O esperançar do novo ano, não quer dizer a utópica esperança de um ano bom, ungido por velhas e requentadas receitas. Esperançar não significa esperar, acomodar, aceitar ou acreditar, mas “levantar, construir e juntar com o outro para fazer de outro modo com fé ativa nas obras”. Um sentir real, transformador, coletivo e solidário. Predominam nos congressos, summits, cúpulas, conferências e reuniões virtuais, presenciais, nacionais e internacionais do novo ano os atores da esperança, como os bancos, as companhias transnacionais, os países do G7 e G20 e os blocos econômicos hegemônicos na arena global, enfim os mesmos do Centro. Nunca estão representados os que tem fome e sede de justiça. Injustificável o dilema para o país que produz e exporta comida para o mundo, conviver com a fome dos seus naturais. Um quarto de suas crianças não comem as três refeições diárias, dez milhões de brasileiros e brasileiras teem fome aguda e metade de sua população sofre de insegurança alimentar. Temas que não constam na agendado esperançar no novo ano. Não é prioridade a vinculação da produção ao consumo interno, nem a distribuição de renda e menos ainda o acolhimento dos pobres que não podem comprar comida por carência de renda, enquanto os ricos consomem e desperdiçam em abundância.
Os cenários para o novo ano, não são animadores para a produção agropecuária brasileira. A volatilidade dos insumos, a exemplo dos fertilizantes. Os custos das sementes transgênicas. Juros altos. Crescimento pífio. Tensões políticas. Infraestrutura portuária, rodoviária, ferroviária e hidroviária precária e desarticulada da produção e competição global. Risco cambial. Conflitos geopolíticos. Concentração em poucos produtos agrícolas. Ajustes das cadeias produtivas. Distanciamento das necessidades dos locais. Desprezo à sustentabilidade ambiental. Regulação do mercado de carbono. Desmatamento ilegal e criminoso. A fome retornou ao Brasil e com ela os constrangimentos morais. Por tudo isso, é provável que os desafios da produção agropecuária brasileira sejam alargados e as safras vindouras estejam abaixo das médias históricas. Quem viver, verá.

Manoel Moacir Costa Macêdo é engenheiro agrônomo e advogado.

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