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A REVOLUÇÃO VERDE NÃO RESISTE AO FUTURO: A AMAZÔNIA


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Publicado em 02 de julho de 2022
Por Jornal Do Dia Se


Clayton Campagnolla e Manoel Moacir Costa Macêdo

A receita da Revolução Verde expressa na modernização da agropecuária brasileira causou entre outras externalidades, a redução do número de espécies cultivadas. Atualmente, no mundo cerca de trinta cultivos respondem por 95% das necessidades alimentares humanas de energia, sendo que apenas quatro – arroz, trigo, milho e batata, são responsáveis por mais de 60% do total de energia ingerida. A concentração em um número reduzido de espécies cultivadas não atende às necessidades de consumo diversificado de alimentos para uma nutrição saudável dos humanos.
Evidências de perdas da biodiversidade têm sido levantadas nos biomas brasileiros. Na década de 1980 o desmatamento da Amazônia era de 377.600 km2.Entre 1996 e 2000 o desmatamento anual oscilou entre 17.000 km2 e 18.000km2, mas decresceu entre 2008 e 2015 variando entre 4.500 km2 e 7.500 km2; porém, houve um aumento significativo em anos recentes, com 10.100 km2, 10.900 km2 e 13.000 km2 desmatados, em 2019, 2020 e 2021, respectivamente. Atualmente, a área total desmatada do bioma Amazônia é de 729.782 km2, o que representa uma perda de quase 18% de sua vegetação original. A Revolução Verde no Brasil contribuiu para a expansão da fronteira agrícola com o conseqüente desmatamento de ecossistemas naturais, a exemplo da Floresta Amazônica e do Cerrado. Estima-se que 80% do desmatamento da Amazônia deveu-se à expansão de pastagens e produção de grãos em associação com a extração de madeira.
Cientistas afirmam que a Floresta Amazônica na sua essencialidade à natureza, recicla as águas das chuvas e a transpiração das plantas nas trocas de gases para a realização da fotossíntese. Metabolismo que possibilita as constantes chuvas durante as estações do ano, inclusive no período da seca. Fenômeno único no planeta. O desmatamento do bioma amazônico exacerba o risco climático, compromete a transição para uma economia de baixo carbono na futura “economia regenerativa”.
A relevância do bioma amazônico para o meio ambiente ultrapassa a realidade nacional, ele alcança o clima, a água, e os solos do mundo. A Floresta Amazônica possui uma relevante bacia hidrográfica que produz uma imensa quantidade de água, indispensável à regulação do clima global. Os “rios voadores” formados por massas de ar de vapor de água gerados na Amazônia afetam o clima das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil. Apesar de sua riqueza carece de precificação, a Amazônia continua cobiçada mas mantém uma população pobre e desigual. A renda média das famílias amazônicas é 20% menor que a média nacional. Estima-se que apenas 30% das áreas na Amazônia estão regularizadas. Um ambiente de grilagem, morte e extermínio de populações fragilizadas. Recentemente, redes poderosas de supermercados britânicos e europeus consideram “extremamente preocupantes” as ameaças à Amazônia. Em face das reações de consumidores conscientes, eles afirmaram: “não teremos outro remédio a não ser reconsiderar nosso apoio e uso da cadeia de abastecimento de produtos agrícolas brasileiros”.
As potencialidades do bioma da Amazônia ultrapassam o domínio do atual estado-da-arte. Os números são grandiosos. A biodiversidade, ainda por ser explorada, nas plantas, mamíferos, aves, peixes, anfíbio, insetos e microrganismos. “Um hectare da floresta amazônica abriga mais espécies vivas do que todos os ecossistemas das zonas temperadas do planeta. A flora amazônica contém cerca de 30 mil espécies, com 5 mil tipos de árvores. Igualmente desconhecidos são a maioria dos artrópodes, borboletas, formigas, abelhas, peixes e assim por diante. É a fauna mais rica de todos os ambientes terrestres”. Pela sua importância ao meio ambiente do planeta, a “produtividade econômica indireta da floresta é muito significativa, pelo simples fato de ela existir”.
Evidências estão postas quanto aos desafios a serem vencidos rumo à sustentabilidade da produção agropecuária brasileira. Muitas das externalidades negativas não são contabilizadas, mas trazem custos sociais e ambientais adicionais e significativos que são compartilhados com toda a sociedade. Nos mercados dos países desenvolvidos há fortes estímulos dos consumidores para saber não só a procedência dos alimentos como também se as questões sociais, ambientais e éticas são respeitadas no processo produtivo, a exemplo do desmatamento e do trabalho escravo.

Clayton Campagnolla e Manoel Moacir Costa Macêdosão engenheiros agrônomos e respectivamente ex-presidente da EMBRAPA e ex-dirigente de Unidades Descentralizadas e Central da EMBRAPA.

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