**PUBLICIDADE
Publicidade

AVENTURA PROFISSIONAL


Avatar

Publicado em 13 de agosto de 2022
Por Jornal Do Dia Se


Manoel Moacir Costa Macêdo

A conclusão do curso de engenharia agronômica na Escola de Agronomia da Universidade Federal da Bahia – EAUFBA no campus de Cruz das Almas, na década de setenta, não encerrou os vínculos com os colegas próximos e afins. Nunca planejei residir e trabalhar em Cruz das Almas, mas aconteceu, pesquisador lotado no então Centro de Pesquisa de Mandioca e Fruticultura, hoje EMBRAPA Mandioca e Fruticultura. Com regularidade encontrava os colegas, até promovemos um encontro nos dois primeiros anos após a formatura.
Os primeiros anos da atividade profissional foram como pesquisador da EPABA – Empresa de Pesquisa Agropecuária da Bahia. Uma quadra de afirmação profissional. Testes entre teoria e prática. O que parecia definitivo, não aconteceu. Uma mudança nos três primeiros anos de contato com a realidade. A atividade de pesquisador numa lavoura específica, não preencheu as minhas expectativas de um ser integral. Os resultados da investigação científica não eram adotados pelos produtores rurais, em particular os agricultores que cultivavam a mandioca. As justificativas não me convenciam. Ainda não entendia as vinculações dos valores sociais do pesquisador como os demais atores no processo de geração e adoção da tecnologia. Classes sociais, identidades e vivências não carregavam a neutralidade. Mudança de rumo – decisão incomum. De pesquisador para difusor de tecnologia. Um tipo de extensionista rural na organização de pesquisa. Menor referência e status na hierarquia científica.
O tempo mostrou que a decisão foi acertada. Estava alinhado às minhas aptidões e história de vida. Atendi o curso de mestrado em extensão rural na Universidade Federal de Viçosa – UFV, onde reencontrei Carlos Fernando, o Nando, duplamente colega nos cursos de graduação e pós-graduação. Curso de mestrado concluído, retorno a EMBRAPA em Cruz das Almas. Outra transformação. O conhecimento teórico do mestrado, aguçou novos sentidos sobre a geração e adoção de tecnologia agropecuária. A teoria dominante acolhia as estratégias de comunicação e difusão de tecnologia nas decisões da adoção de tecnologia pelos produtores rurais. Não incorporava os condicionantes do processo de geração da tecnologia processado no interior das organizações de pesquisa. Conflito aberto. A solução, mais uma vez, foi prospectar outra saída, desta feita, a gestão da organização. Imaginava ter competência para direcionar a investigação numa utópica direção. Outro equívoco. Era o tempo da “Nova República”. Transição da ditadura para a democracia. Euforia de liberdade e participação.
As utopias e os conflitos não têm fim. Eles são próprios das relações sociais. Também, não existe um ponto final entre a vida universitária e a profissional. Reencontrei nessa aventura, os colegas do curso de agronomia, Gutemberg Guerra e José Albertino. Estavam envolvidos na atividade política e na mesma perspectiva. Ambos tinham articulações mais qualificadas. Busquei as aproximações e iniciamos as ações. Participamos de campanhas eleitorais e planos de governo. Ao final, vitoriosos, fomos ungidos às posições de gestores na EMBRAPA e na EPABA. Grandes feitos para os jovens idealistas na quadra social.
Tempos difíceis. Expectativas reprimidas afloraram. Recuos e avanços, acordos e desacordos. Tudo realizado com altruísmo e idealismo da juventude. A mudança traz incertezas e dúvidas. O comum são as zonas de conforto. Trazíamos desejos, teorias e esperanças. Esperávamos adequá-las ao processo de geração da pesquisa agrícola e difusão da tecnologia. Desconhecíamos que a trajetória do conhecimento tem os seus próprios códigos e interesses. Estar no governo, não quer dizer estar no poder. A história coma sua inexorável dialética.
Os conflitos exteriorizam com força nos níveis estadual e federal. O poder é explicado mais pela ciência exata e menos pela ciência humana. Ele é resultado de forças que como as nuvens se deslocam velozmente, com violência e sutileza. Abatido, mas agradecido aos apoios recebidos, parti para uma nova aventura profissional, dessa feita em São Paulo. O fermento que necessitava para outros desafios além das fronteiras da Bahia e do Nordeste.
Assim foi e durou um quarto de século. Amizade e agradecimentos aos colegas nunca foram negados e nem esquecidos. Alguns são os mesmos e em alguns casos as organizações também.

Manoel Moacir Costa Macêdo é engenheiro agrônomo

**PUBLICIDADE



Capa do dia
Capa do dia



**PUBLICIDADE


**PUBLICIDADE
Publicidade