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Neiirezhmjtpeu Ezwontzstro e o Sorriso de Vargas (FINAL)


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Publicado em 10 de julho de 2012
Por Jornal Do Dia


* Odilon Cabral Machado
[email protected]

O jovem Getúlio Vargas adquiriria uma outra veste, em maior brilho de verniz, agora na recém fundada Faculdade Livre de Direito de Porto Alegre. O desligamento do exército, porém, não aconteceu naquele momento, embora o pedido já tivesse sido requerido. É convocado a lutar no Acre, onde havia uma perspectiva de luta contra os bolivianos, em socorro de Plácido de Castro, o patrono daquele território distante e inóspito, lá no fim do mundo.

Vai Getúlio para Corumbá, no Mato Grosso, para "matar ou morrer em nome da pátria", um esforço que não restou sangria, afinal valera a inteligência e a diplomacia de Juca Paranhos, o Barão do Rio Branco.

Se a luta não aconteceu, a farda foi despida, com o desligamento concedido com honra e bravia reconhecidas, saindo da tropa com admiradores e amigos, afinal como sargento denunciara o abandono da tropa à espera da luta que não acontecia, mediante textos que bem traduziam a ambiência, em fome, desabrigo e pestilência: "o abutre agoureiro da peste paira sobre a cabeça daqueles bravos, como um presságio sinistro… e o governo não pode sacrificar inutilmente a vida de filhos denodados devido à má direção causada pela vaidade ou inépcia de um homem", onde até os enfermos dispensados por junta médica eram retidos no acampamento de Urucum, que virara um verdadeiro "matadouro", sem trocar um tiro, só a esperar em abandono de intendência uma luta que não vinha.

Assim, quando o Tratado de Petrópolis aconteceu e as terras acreanas passaram a ser brasileiras, o Sargento Getúlio Vargas construíra em torno de si uma aura de liderança, correção e hombridade que ressoaria em eco verdadeiro e lendário, por onde passasse doravante.

Agora estava desvestido o uniforme, seria o acadêmico de Direito. Logo-logo, por contingências de família e coerência ideológica, ligar-se-ia profundamente ao pensamento castilhista vigente. Júlio de Castilhos havia morrido em profunda dispneia em 1903. Falecia como um valente repelindo o conselho de coragem de seu médico terminal: "Não preciso de coragem; é de ar que eu preciso!"
Seu sucessor, Antônio Augusto Borges de Medeiros, gaúcho de Caçapava do Sul (1863-1961), seria o grande líder rio-grandense na velha república, governando o Estado de 1898 a 1928, em reeleições sucessivas, a menos de um período, de 1908-1913, em que fora Vice-governador, tendo um seu preposto no governo.

Getúlio Vargas seria muito próximo de Borges de Medeiros. Saudaria como estudante a Borges e o presidente Afonso Pena na sua visita ao Rio Grande, oportunidade em que se ligou ao grande senador gaúcho, Pinheiro Machado, fazedor de presidentes, cujos amigos lhe abririam as portas no Rio de Janeiro, onde chegaria depois.

Ingressaria na política, elegendo-se Deputado Estadual e sendo o líder de Medeiros. Depois, por um desentendimento em que se manteve fiel aos seus aliados, renuncia ao mandato. Há uma espécie de esfriamento entre Borges de Medeiros e Getúlio, mas que é sanado rapidamente. Voltaria ao parlamento legislativo e logo estaria na Câmara Federal, onde se destacaria pelo espírito de concórdia e tolerância no governo Arthur Bernardes, pregando a anistia e o perdão da alma nacional. O país vivera os infaustos acontecimentos do Forte de Copacabana, e depois a Revolta tenentista de São Paulo, com a consequente Coluna Prestes, que se revelou fugidia e fugitiva, combatendo pouco e escapando mais, restara heroica por "invicta", se escafedendo na Bolívia.

Neste tempo, o Deputado Getúlio volta a vestir a farda para combater os estertores daquela coluna revoltosa e outros entreveros maragatos contra a última reeleição de Borges de Medeiros. Ele, o combatente Getúlio, que após ajudar a expulsão dos revoltosos "invictos" estava agora com sua voz e argumento pregando a concórdia da alma nacional demandando a anistia para os revoltosos aos presidentes Arthur Bernardes e Washington Luís, perdão que não chegava com as cadeias entupidas de dissidentes, sobretudo no desterro da ilha de Trindade, onde estivera também o Tenente Augusto Maynard Gomes, o sergipano sublevador de 13 de julho de 1924, em eco revoltoso nas praias formosas de Aracaju.

Ora, se a anistia não veio, a chegada de Washington Luís se fazia com um convite a Getúlio para exercer o ministério da fazenda, assunto ao qual era neófito, um quase analfabeto. Mas, se ele não entendia de economia, em política sabia tudo. Do ministério sairia para o governo do Rio Grande do Sul, como candidato único à sucessão de Borges de Medeiros.

No palácio Piratini, a história o inseriu como o homem que topou a quebra da política do café com leite, tudo porque a intolerância de um presidente autoritário, como se caracterizara Washington Luís, quebrara o acordo entre a rubiácea paulista e o queijo de Minas.

Ora, na impossibilidade de uma república do "café com leite e pão", isto é do café paulista, do leite minense e do trigo rio-grandense, tentada antes por Pinheiro Machado, eis que chegara, com o apoio do rejeitado Antônio Carlos de Andrada, o Presidente das alterosas mineiras, o chamado para a inserção do nome de Getúlio Vargas na eleição presidencial do país, numa aliança democrática contra os republicanos no poder.
Corria, portanto, o ano de 1929. Getúlio já estava casado desde 1910. Fora um casamento exclusivamente no civil em fiel cumprimento à fé positivista, a união de um Deputado maduro de 30 anos de idade, com uma quase-menina, Darci Sarmanho, filha de Antônio Sarmanho, estancieiro e comerciante, e de Alzira Lima Sarmanho.

Darci, que se pronunciava Dárci, tinha quinze anos apenas, só para consignar que naqueles tempos um casamento assim era um feito comum, bem previsto em lei e não constituía pedofilia.

No governo do Rio Grande, a família já chegava com cinco filhos: Lutero, o primeiro, para consignar o acatolicismo de Getúlio, Getulinho, que morrera cedo, Alzira, Jandira e Manuel Sarmanho Vargas, (o Maneco) que cometeria suicídio, como seu pai, e também seu avô materno, Antônio Sarmanho, que reagira com um tiro no peito à desonra da falência.

Mas naquele julho de 1929 o telegrama misterioso estava a consubstanciar uma aliança com a Paraíba. O Presidente João Pessoa, consultando seu tio e mentor, o ex-presidente Epitácio Pessoa, obtivera a sua aprovação, para a empreitada difícil que se avizinhava.

O texto cifrado do telegrama; "neiirezhmjtpeu ezwontzstro", desvendado seria "Vitória Certa". Era o grito otimista e apaixonado do amigo de longas datas, João Neves da Fontoura, que se exasperava com a frieza de um Getúlio Vargas, reflexivo, sorridente e introspectivo, como uma esfinge em enigma e mistério.
No seu íntimo, o tempo diria depois, que a fruta amadurecia, apenas. Era preciso esperar, com paciência, o melhor tempo para a colheita.

* Odilon Cabral Machado é professor emérito da UFS (A primeira parte deste artigo foi publicada na edição de domingo e segunda-feira, 08 e 09 de julho)

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