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O LEGADO DE MÁRIO SCHMIDT PARA O ENSINO DE HISTÓRIA NO BRASIL


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Publicado em 15 de janeiro de 2022
Por Jornal Do Dia Se


Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos

Sabe-se que o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) existe de longa data. Foi criado na Era Vargas, em 1937. Apesar de seus propósitos atenderem a uma ditadura, sua essência era importante, no que diz respeito à produção de livro didático no país.Para tanto, o Governo Federal criou mecanismos e órgãos complementares a fim de gerir o programa e também para financiá-lo.
Nesse sentido, após 40 anos de existência,o ano de 1997 marcou uma virada importante no que se refere ao uso de livros didáticos nas escolas públicas do Brasil e mais de perto para o PNLD. Afirmo isto até mesmo como testemunha dos fatos ocorridos a partir daquele ano. Primeiro, porque se deu a extinção da Fundação de Assistência ao Estudante (FAE), responsável pela política de execução do PNLD. Essa missão ficou a cargo do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
Ora, naquela época eu iniciava minha atividade docente em instituição de ensino público, como contratado, no Colégio Municipal Frei Cristóvão de Santo Hilário – Lagarto-SE (atualmente, Artur de Oliveira Reis). Era a primeira vez que eu lecionava a disciplina História, área de minha formação. Antes, minhas experiências como professor foram com as disciplinas Português, Literatura e Redação, no antigo Colégio Cenecista Laudelino Freire (rede particular).
A partir de 1997, passamos a escolher os livros didático a serem adotados nas escolas. Essa foi a grande novidade no que refere ao Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Os professores se reuniam por área, liam e analisam a obras recomendas pelo programa e depois nós escolhíamos uma coleção de quinta à oitava série do Ensino Fundamental.
Ali, em deparei pela primeira vez com a obra de Mário Schmidt. Até então, inclusive de minha época de estudante, todo mundo só que queria saber de Gilberto Cotrim, José Jobson Arruda e Cláudio Vicentino. Além das grandes editoras, como a Ática e Scipione. Optar por Mário Schmidt e pela editora Nova Geração surpreendeu até mesmo os técnicos no campo dos livros didáticos.
E assim o fizemos, por muito anos, mesmo depois que deixei a instituição em 2006. E não tardou para que seus livros merecem a atenção de outras escolas do país, sendo pivô de inúmeras críticas, elogios, mas também de perseguições ideológicas e mercadológicas. Depois de ser utilizado nas escolas por dez anos, por mais de 20 milhões de estudantes, absurdamente a coleção foi rejeitada em 2007 pelo Ministério da Educação.
Como professor do Ensino Fundamental da Rede Pública de Ensino, eu lecionei por muitos anos tendo como suporte didático a coleção Nova História Crítica, de autoria de Mário Schmidt, de modo particular os volumes 3 e 4, correspondentes à sétima e à oitava séries. Meus alunos amavam a obra e aprendiam muito, inclusive, com diversão e profundidade de conhecimento.
Aqui, em especial, quero contar pelo menos duas histórias marcantes, envolvendo meus alunos e esta coleção. A primeira delas, refere-se a um ex-aluno conhecido como Brito (falecido de forma trágica e muito jovem). Ele me cumprimentava, rindo, com a saudação nazista e eu o repreendia dizendo que isto poderia nos complicar. Brito nunca foi de estudar, mas na aula sobre o Nazifascismo, referente ao capítulo 7 da oitava série, ele não pregou os olhos e ficou atento a todas as informações. A forma como Mário Schmidt tratou do assunto chamou a atenção de um aluno disperso, que não dava muita trela para a história. E ele aprendeu!
Outra história me marcou profundamente. Um ex-aluno, chamado Marcelo Araújo, também da oitava série, nas atividades referentes ao capítulo 16 (anos rebeldes), foi flagrado por mim mantando aula, às voltas com rabiscos de desenhos no caderno. Eu não o repreendi e aquilo foi importante e decisivo para ele, pois embora não fosse muito de estudar, tornou-se um conhecido artista plástico na cidade de Lagarto. Em gratidão ao meu gesto, em outubro de 2009, Lelo Aráujo, como é conhecido hoje, me presenteou com uma tela com a minha imagem, tendo ao fundo gravuras que remetiam àquela aula e àquele assunto, para ele, inesquecíveis.
Natural de Niterói-RJ (1959), com 63 anos de idade, Mario Furley Schmidt faleceu no último dia 9 de janeiro de 2022. Após a polêmica envolvendo sua principal obra didática, passou a viver recluso, às voltas com seu acervo bibliográfico incalculável. Deixou ensinamentos importantes, formou uma geração inteira, além de ter sido fundamental para a nossa jornada no preparo de crianças e jovens, legando-lhes uma história que, para além de crítica, também foi cidadã e humanista.

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