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Rodovia dos Náufragos: governar é eleger prioridades?


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Publicado em 21 de janeiro de 2022
Por Jornal Do Dia Se


José Firmo dos Santos

Já estamos calejados de ouvir algumas máximasexistentes no serviço público. Uma delas diz que elaborar orçamento é estimar as receitas e fixar as despesas. Outra que muito se ouve é que os investimentos são feitos de acordo com os recursos disponíveis ou de acordo com a capacidade que tenha o ente público de contrair empréstimos.
Quero juntar a estas máximas a que diz que governar é eleger prioridades para falar sobre o total abandono em que se encontra a maior parte da Rodovia dos Náufragos, nos novos bairros da zona sul de Aracaju (Robalo, São José dos Náufragos, Gameleira, Areia, Matapoã e Mosqueiro). Dos poucos mais de 17 km de extensão da rodovia estadual, cerca de 12 km estão dentro desses novos bairros. Os cinco primeiros km estão nos bairros Aeroporto, Atalaia e Aruana.
O último governador que realizou uma obra de maior volume na Rodovia dos Náufragos foi Albano Franco, há quase duas décadas.
De lá para cá, os demais governadores ou nada fizeram ou fizeram reparos pontuais, uma manutenção muito mal feita.
Quando o Governo de Sergipe construiu a ponte Joel Silveira, ligando Aracaju à Itaporanga D’ajuda, em 2010, apenas urbanizou as duas cabeceiras e sinalizou estes trechos que atravessa os povoados. Naquela oportunidade solicitamos que o governo aproveitasse para melhorar as condições da Rodovia dos Náufragos, pelo menos para a segurança dos condutores e também para a nossa segurança. Não fomos ouvidos.
Com o tempo e com o crescimento populacional, as duas margens da rodovia foram sendo ocupadas. O Governo de Sergipe chegou a contratar um projeto de duplicação da via, mas não passou do projeto.
Agora, o Governo de Sergipe investe mais de 80 milhões na Rodovia José Sarney, também batizada de Avenida Ignácio Barbosa, num Projeto Orla Sul (concreto, bancos de cimento, etc, etc). Recuperou toda a pavimentação dos quatro primeiros quilômetros da Rodovia dos Náufragos, somente da Atalaia até o Aruana. Anuncia o investimento de mais 30 milhões para a construção do Caminho de Santa Dulce dos Pobres, ligando o bairro Aruana ao Centro Histórico de São Cristóvão.
Sobre o Projeto Orla Sul, por um momento o Governo de Sergipe cogitou construir o Memorial dos Náufragos na Coroa do Meio, deslocado da área que melhor simboliza o fato histórico de repercussão mundial. Mais recentemente fomos informados que o Governo voltou atrás e vai manter o memorial aqui no Robalo.
Sabemos que o Governo de Sergipe já investiu R$ 200 milhões nas rodovias estaduais e pretende investir outros R$ 200 milhões. Está certo. Precisa investir mesmo.
Como se não bastasse, o governador Belivaldo Chagas anunciou na imprensa que construirá uma nova avenida nos bairros Atalaia e Coroa do Meio, gastando mais R$ 35 milhões.
Nada contra os investimentos que o governador Belivaldo Chagas está fazendo ou fará, com recursos do tesouro do estado, em grandes obras na infraestrutura e nos atrativos turísticos. Tudo a favor.
Mesmo quando o governador anuncia investimento de R$ 35 milhões em uma avenida municipal, não vemos nada de errado.
O que temos contra e o que vemos de errado é que o Governo de Sergipe, como o responsável pela Rodovia dos Náufragos, fecha os olhos para o estado deplorável em que ela se encontra entre os KM 5 e 17.
O que temos contra é que o Governo de Sergipe nos cansa com protocolo de pedidos, com audiências concedidas, mas nada faz na Rodovia dos Náufragos, dentro dos novos bairros.
E embora entendamos que a qualidade da pavimentação da via seja importante, o trecho da Rodovia dos Náufragos, aqui nos novos bairros está ruim para os condutores e está – a cada dia que passa – mais perigoso para nós moradores.
Todo o trecho citado já não dispõe de drenagem de águas pluviais. As águas de chuva ficam por horas e até por dias estagnadas em vários pontos, trazendo transtorno e perigo para os transeuntes.
O que deveriam ser calçadas nas duas margens já não existem há muitos anos. O DER não realiza uma manutenção frequente. Assim, nós moradores precisamos deixar as áreas que seriam as calçadas e dividir a pista de rolamento com os carros.
Não há sinalização vertical e horizontal suficientes. Faixas de pedestres e botoeiras, nem pensar.
Não existem ciclovias numa artéria tão importante e que leva e traz milhares de trabalhadores, de bicicletas, todos os dias.
Hoje a travessia da rodovia já está difícil para os transeuntes. Até para um veículo que sai das vias transversais, para acessar a Rodovia dos Náufragos, está difícil.
O termo “redutores de velocidade” dentro do Governo de Sergipe (assim como dentro de outros órgãos de trânsito, como a SMTT-Aracaju) é quase um palavrão, uma blasfêmia. Afinal, impera a visão de que as vias foram feitas para os apressados veículos.
As escolas nestas comunidades ficam na beira da rodovia. Nossos filhos e netos vão para escolas a pé ou de bicicleta. A principal igreja fica na beira da pista. O comércio e as empresas de prestação de serviço se instalam ao longo da pista. O perigo é constante. O histórico de mortes e de mutilações aqui nestas comunidades é muito grande.
Não entendo porque o Governo do Estado prefere gastar R$ 35 milhões numa avenida nova, dentro de uma cidade (ou seja, investir na esfera alheia) a cuidar do que é seu, do que é de sua obrigação.
Para usar os termos populares, os quais o governador Belivaldo Chagas gosta de usar: será que enterraram uma cabeça de jegue nesse trecho da Rodovia dos Náufragos? Será que ninguém do DER ou da SEDURBS está vendo isso, para alertar o governador?
Outra coisa que precisa ser revista na maioria das gestões públicas: o ser humano, o indivíduo, sobretudo os mais pobres e que mais necessitam das ações dos governos, precisam ser mais lembrados. Nestes casos aqui tratados, o turismo – um ser inanimado – é mais lembrado e mais valorizado do que o contribuinte, do que o povo pobre.
Será que depois que um desses condutores bêbados ou drogados, que passam aqui “voando”, matar crianças em frente a uma dessas escolas, o Governo de Sergipe fará as obras necessárias na Rodovia dos Náufragos?
Falta de aviso e falta de pedido não são. Mas, como governar é eleger prioridades, vamos esperar que um dia o Governo de Sergipe priorize o que é sua obrigação e que pode evitar uma tragédia sem precedentes.

José Firmo dos Santos, coordenador do Fórum em Defesa da Grande Aracaju.

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