Sexta, 26 De Abril De 2024
       
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Os dois pés na tormenta


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Publicado em 02 de setembro de 2022
Por Jornal Do Dia Se


Sem arrodeios

Rian Santos
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Ao olhar para trás, provocado por uma pergunta batida, Paulinho Só mal vislumbra o menino apanhado em calças curtas, às voltas com os primeiros acordes, que respondia pelo mesmo diminutivo empregado sob a própria discografia, à guisa de assinatura. Sim, sempre gostou de música. Daí até as primeiras apresentações nos bares da vida, em Belém (PA), foi um pulo.
Neste particular, a trajetória do músico que fundaria a banda Uma Ruma não tem nada de extraordinário, igual a tantas outras. O barato do palco, no entanto, logo encontraria a onda boa da composição. Paulinho descobriu cedo a dor e a delícia de “lançar mundos no mundo”.
“Me entendo mais com o violão do que com a guitarras. Sou mais compositor. Meu maior interesse na música sempre foi a composição”.
Antes disso, mais uma vez, ele fez como tantos outros. A primeira banda, Rock da Silva, foi formada em conluio e cumplicidade com os irmãos mais velhos. Depois, já em vias de se afirmar como um autor, Paulinho deu a cara a tapa no conservador circuito de festivais. À época, indisposto com a solenidade de um sobrenome artístico, ele resolveu facilitar o trabalho dos locutores. Como assim, só Paulinho? Isso mesmo, ele respondia, Paulinho Só.
Entre idas e vindas, paisagens diversas, sotaques diferentes, o gaúcho criado à beira da floresta amazônica sentou praça em Sergipe, onde gravou todos os discos lançados até agora. Aqui, para o bem ou para o mal, floresceu a melhor parte de seu trabalho artístico. A recompensa é pouca, a panela menor ainda. Mas Paulinho Só não reclama. Desde quando se meteu a emendar versos em acordes, fincou pé na tormenta.

Na tormenta – Segundo Paulinho Só, todo álbum, todo registro autoral, tende a cristalizar uma visão de mundo, a maneira singular como um artista observa uma dada situação, em um determinado momento. Assim, ‘Na tormenta’, lançado hoje em todas as plataformas de streaming, pode ser compreendido como uma resposta pessoal do compositor ao curso dos acontecimentos.
Por acontecimentos, no entanto, entenda-se não apenas os episódios mais óbvios, provocados pelos embates de cunho político e ideológico, ou a pandemia ainda de tocaia em todas as esquinas. Nada disso. Para além da peleja mais evidentes, há também dilemas, angústias e razões individuais. Na contra mão do justo discurso alardeado nas trincheiras de uma guerra cultural sem pé nem cabeça, Paulinho Só reafirma o indivíduo.
Para tanto, nada mais apropriado do que lançar mão, mais uma vez, do bom e velho rock’n roll. Mais do que as guitarras, sempre no talo, contudo, a voz e a inflexão muito particular de Paulinho Só é que dão tom do registro. Ao longo das cinco faixas do EP, sobressai a ansiedade de se fazer entendido, pronunciar verdades com todas as letras, negar o silêncio e a passividade em alto e bom som.
Convém mencionar, contudo, este não é um esforço individual. Além da colaboração de músicos da maior estatura, ‘Na tormenta’ conta com duas parcerias inspiradas. ‘Refazendo’ é fruto de um devaneio etílico/literário encampado pelo escritor Djenal Gonçalves Filho. ‘Tomando tento’ conta com as rimas do MC Pardal, que também solta a voz na faixa em questão.
A disposição dos curiosos em todas as plataformas de streaming, ‘Na tormenta’ não faz arrodeios. Claro, direto, franco, honesto – Justo como exige o momento.

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