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Outro Brasil


Publicado em 22 de dezembro de 2020
Por Jornal Do Dia


 

Entre 2015 e 2020, o País reduziu o saldo de empregos formais em 2 milhões de postos de trabalho, sendo 70% nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro
* Marcio Pochmann
A virada do Brasil para o século 21 trouxe consigo uma mudança profunda na trajetória da distribuição geográfica da produção nacional. Nos últimos 40 anos assistiu-se, guardadas as devidas proporções, a algo somente comparável ao que estava em curso no final do século 19, quando o modo de produção capitalista se tornou dominante e desmontou a antiga composição geográfica da renda nacional herdada do período imperial (1822-1889).
Entre 1872 e 1900, a geografia do poder econômico se alterou significativamente. Em menos de três décadas, o estado de São Paulo multiplicou sua participação relativa na renda nacional em 6,7 vezes, passando de 3,2% para 21,5%, ao passo que os estados de Pernambuco e Bahia somados, caíram 43%, tendo suas posições relativas caído de 20,3% para 11,6%.
Naquela época, a integração do Brasil na divisão capitalista internacional do trabalho como exportador de café levou ao fortalecimento da região Sudeste, especialmente os estados produtores (São Paulo e Rio de Janeiro). Em compensação, veio acompanhada da decadência dos estados da região Nordeste, particularmente Pernambuco e Bahia.
De acordo com as informações mais recentes do IBGE, identifica-se a formação de três grupos de estados com dinâmicas distintas. No primeiro grupo estão os sete estados com suas economias relativamente estagnadas – Acre, Amapá, Alagoas, Bahia, Paraíba, Pernambuco e Roraima. Entre os anos de 1980 e 2018, a somatória da participação desses sete estados na renda nacional cresceu 4,6%, passando de 8,7% para 9,1%.
O segundo grupo contempla quatro estados com sinais concretos de decadência econômica acentuada (Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo). Esse conjunto de unidades federativas das regiões Sul e Sudeste registrou queda de 16,2% na sua participação relativa na renda nacional, tendo caído de 68,9% em 1980, para 57,7% em 2018.
O terceiro grupo de unidades é composto por 16 estados (Amazonas, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pará, Paraná, Piauí, Roraima, Rio Grande do Norte, Santa Catarina, Sergipe e Tocantins) que registrou importante expansão econômica. Entre 1980 e 2018, a participação relativa deste terceiro grupo de estados aumentou 54%, passando de 21,8% para 32,2% da renda nacional.
Desde 1980, o Brasil registrou duas décadas perdidas do ponto de vista econômico (1980 e 2010), expresso pela estagnação da renda per capita dos brasileiros. Em grande medida, resultado da forma pela qual o Brasil terminou se inserindo passiva e subordinadamente na globalização.
Por um lado, a desindustrialização causou a decadência dos estados do Sul e Sudeste, onde estava até então concentrada a produção manufatureira nacional. De outro lado, o processo de especialização produtiva estava assentado nos limites da extração de recursos naturais e mão de obra barata relacionados ao agronegócio.
Entre as décadas de 1930 e 1980 – quando o ciclo da industrialização nacional estava em vigor -, o País se reposicionou positivamente na divisão internacional do trabalho. A economia nacional foi dominada pela manufatura e o país deixou de ser um mero produtor e exportador de produtos primários. Nos últimos anos, está em curso um caminho no sentido oposto.
Tudo isso impactou profundamente a sociedade brasileira – e os estados do Sul e do Sudeste foram os mais atingidos. Entre 2015 e 2020, por exemplo, o País reduziu o saldo de empregos formais em 2 milhões de postos de trabalho. Considerando-se os estados da federação, percebe-se que somente o Rio de Janeiro e São Paulo concentram 70% do total dos postos de trabalho assalariados formais destruídos.
A mudança profunda na composição da renda nacional por estado da federação repercute no comportamento dos empregos formais e no conjunto da população. O resultado tem sido a conformação de um outro Brasil, ainda pouco conhecido por decorrência da invisibilidade imposta à realidade nacional em profunda transformação.
* Marcio Pochmann é economista, pesquisador e professor. Foi presidente da Fundação Perseu Abramo de 2012 a 2020, e presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada entre 2007 e 2012

Entre 2015 e 2020, o País reduziu o saldo de empregos formais em 2 milhões de postos de trabalho, sendo 70% nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro

* Marcio Pochmann

A virada do Brasil para o século 21 trouxe consigo uma mudança profunda na trajetória da distribuição geográfica da produção nacional. Nos últimos 40 anos assistiu-se, guardadas as devidas proporções, a algo somente comparável ao que estava em curso no final do século 19, quando o modo de produção capitalista se tornou dominante e desmontou a antiga composição geográfica da renda nacional herdada do período imperial (1822-1889).
Entre 1872 e 1900, a geografia do poder econômico se alterou significativamente. Em menos de três décadas, o estado de São Paulo multiplicou sua participação relativa na renda nacional em 6,7 vezes, passando de 3,2% para 21,5%, ao passo que os estados de Pernambuco e Bahia somados, caíram 43%, tendo suas posições relativas caído de 20,3% para 11,6%.
Naquela época, a integração do Brasil na divisão capitalista internacional do trabalho como exportador de café levou ao fortalecimento da região Sudeste, especialmente os estados produtores (São Paulo e Rio de Janeiro). Em compensação, veio acompanhada da decadência dos estados da região Nordeste, particularmente Pernambuco e Bahia.
De acordo com as informações mais recentes do IBGE, identifica-se a formação de três grupos de estados com dinâmicas distintas. No primeiro grupo estão os sete estados com suas economias relativamente estagnadas – Acre, Amapá, Alagoas, Bahia, Paraíba, Pernambuco e Roraima. Entre os anos de 1980 e 2018, a somatória da participação desses sete estados na renda nacional cresceu 4,6%, passando de 8,7% para 9,1%.
O segundo grupo contempla quatro estados com sinais concretos de decadência econômica acentuada (Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo). Esse conjunto de unidades federativas das regiões Sul e Sudeste registrou queda de 16,2% na sua participação relativa na renda nacional, tendo caído de 68,9% em 1980, para 57,7% em 2018.
O terceiro grupo de unidades é composto por 16 estados (Amazonas, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pará, Paraná, Piauí, Roraima, Rio Grande do Norte, Santa Catarina, Sergipe e Tocantins) que registrou importante expansão econômica. Entre 1980 e 2018, a participação relativa deste terceiro grupo de estados aumentou 54%, passando de 21,8% para 32,2% da renda nacional.
Desde 1980, o Brasil registrou duas décadas perdidas do ponto de vista econômico (1980 e 2010), expresso pela estagnação da renda per capita dos brasileiros. Em grande medida, resultado da forma pela qual o Brasil terminou se inserindo passiva e subordinadamente na globalização.
Por um lado, a desindustrialização causou a decadência dos estados do Sul e Sudeste, onde estava até então concentrada a produção manufatureira nacional. De outro lado, o processo de especialização produtiva estava assentado nos limites da extração de recursos naturais e mão de obra barata relacionados ao agronegócio.
Entre as décadas de 1930 e 1980 – quando o ciclo da industrialização nacional estava em vigor -, o País se reposicionou positivamente na divisão internacional do trabalho. A economia nacional foi dominada pela manufatura e o país deixou de ser um mero produtor e exportador de produtos primários. Nos últimos anos, está em curso um caminho no sentido oposto.
Tudo isso impactou profundamente a sociedade brasileira – e os estados do Sul e do Sudeste foram os mais atingidos. Entre 2015 e 2020, por exemplo, o País reduziu o saldo de empregos formais em 2 milhões de postos de trabalho. Considerando-se os estados da federação, percebe-se que somente o Rio de Janeiro e São Paulo concentram 70% do total dos postos de trabalho assalariados formais destruídos.
A mudança profunda na composição da renda nacional por estado da federação repercute no comportamento dos empregos formais e no conjunto da população. O resultado tem sido a conformação de um outro Brasil, ainda pouco conhecido por decorrência da invisibilidade imposta à realidade nacional em profunda transformação.

* Marcio Pochmann é economista, pesquisador e professor. Foi presidente da Fundação Perseu Abramo de 2012 a 2020, e presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada entre 2007 e 2012

 

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