Segunda, 10 De Fevereiro De 2025
       
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Para tapear a morte


Publicado em 04 de junho de 2019
Por Jornal Do Dia


"Escrever não é fácil pra ninguém"

 

Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
Estivesse vivo, Antonio 
Carlos Viana comple
taria hoje 75 anos. Entre todos os escritores sergipanos, nenhum foi tão lido na própria aldeia, nem tão comentado.
Eu posso me vangloriar de um exemplar autografado de ‘Cine privé’ (2009). Está lá, na folha de rosto, em caligrafia lúcida, uma verdadeira confissão biográfica: "Ao Rian, estes contos nascidos, em grande parte, da memória". Capricho de uma cabeça sem um pingo de juízo, não tenho ideia de como o livro me chegou às mãos.
Lembrança, eu conservo do encontro realizado alguns anos depois, numa biblioteca do Siqueira Campos. Eu tinha redigido uma resenha negativa do seu último livro, ‘Jeito de matar lagartas’ (2015), distinguido com um prêmio APCA. Nem por isso, Antonio Carlos Viana foi menos solícito. A palestra então realizada deu origem ao texto abaixo.
Peleja de prosa ligeira – "Escrever não é fácil pra ninguém". Quem garante é o contista Antonio Carlos Viana, talvez o único entre os escritores sergipanos com leitores de carne e osso. Segundo ele, as palavras não brotam no papel por força do acaso. A imensidão azul na janela do apartamento nunca lhe sugeriu nada, além de uma caminhada na Atalaia. A gênese do conto – ou da crônica, ou do poema, infere-se por dedução -, pode até ser graça de alguma musa litorânea. Até vingar em literatura de verdade, entretanto, a tal da inspiração tem de passar pelo arbítrio do autor. O ofício é de fazer escolhas.
A largada, o ponto de partida de um texto de natureza literária, no entanto, aguçará sempre a curiosidade do leitor. Esta a razão do encontro abrigado pela biblioteca Clodomir Silva, sob a vigilância do poeta Santo Souza (muito maior do que sugere o retrato pendurado na parede, aliás). Ao invés da aventura romântica cantada em prosa e verso, uma ficção sobre o exercício da ficção, contudo, Viana prestou um testemunho em favor do trabalho árduo. Ele, um devoto da educação pela pedra, leitor assumido de de João Cabral de Melo Neto.
Para tapear a morte e, de quebra, iluminar a humanidade "dividida entre os de maldade extrema e os de coração aflito", Viana escreve. Mas a despeito dos próprios propósitos e da satisfação derivada de um texto finalmente vencido, sob o custo de algumas noites perdidas no encalço da palavra exata, é preciso considerar também as razões de ordem puramente estética, os mecanismos internos do conto. Se a formação acadêmica acode, é a sensibilidade para a música desatada uma frase depois da outra, entretanto, a arrematar qualquer dúvida. Princípio não é lei. Não há fórmula pronta em literatura.
Cada um com a sua cachaça. Viana escreve, empenhado numa espécie de realismo aumentado, arredio às impressões de qualidade fotográfica, uma luta diária. O jornalista considera. Entre um e outro, os verdadeiros eleitos (impossível não lembrar ‘Se um viajante numa noite de inverno…’): a pequena multidão de leitores sensíveis à peleja do contista agradece.

Estivesse vivo, Antonio  Carlos Viana comple taria hoje 75 anos. Entre todos os escritores sergipanos, nenhum foi tão lido na própria aldeia, nem tão comentado.
Eu posso me vangloriar de um exemplar autografado de ‘Cine privé’ (2009). Está lá, na folha de rosto, em caligrafia lúcida, uma verdadeira confissão biográfica: "Ao Rian, estes contos nascidos, em grande parte, da memória". Capricho de uma cabeça sem um pingo de juízo, não tenho ideia de como o livro me chegou às mãos.
Lembrança, eu conservo do encontro realizado alguns anos depois, numa biblioteca do Siqueira Campos. Eu tinha redigido uma resenha negativa do seu último livro, ‘Jeito de matar lagartas’ (2015), distinguido com um prêmio APCA. Nem por isso, Antonio Carlos Viana foi menos solícito. A palestra então realizada deu origem ao texto abaixo.

Peleja de prosa ligeira – "Escrever não é fácil pra ninguém". Quem garante é o contista Antonio Carlos Viana, talvez o único entre os escritores sergipanos com leitores de carne e osso. Segundo ele, as palavras não brotam no papel por força do acaso. A imensidão azul na janela do apartamento nunca lhe sugeriu nada, além de uma caminhada na Atalaia. A gênese do conto – ou da crônica, ou do poema, infere-se por dedução -, pode até ser graça de alguma musa litorânea. Até vingar em literatura de verdade, entretanto, a tal da inspiração tem de passar pelo arbítrio do autor. O ofício é de fazer escolhas.
A largada, o ponto de partida de um texto de natureza literária, no entanto, aguçará sempre a curiosidade do leitor. Esta a razão do encontro abrigado pela biblioteca Clodomir Silva, sob a vigilância do poeta Santo Souza (muito maior do que sugere o retrato pendurado na parede, aliás). Ao invés da aventura romântica cantada em prosa e verso, uma ficção sobre o exercício da ficção, contudo, Viana prestou um testemunho em favor do trabalho árduo. Ele, um devoto da educação pela pedra, leitor assumido de de João Cabral de Melo Neto.
Para tapear a morte e, de quebra, iluminar a humanidade "dividida entre os de maldade extrema e os de coração aflito", Viana escreve. Mas a despeito dos próprios propósitos e da satisfação derivada de um texto finalmente vencido, sob o custo de algumas noites perdidas no encalço da palavra exata, é preciso considerar também as razões de ordem puramente estética, os mecanismos internos do conto. Se a formação acadêmica acode, é a sensibilidade para a música desatada uma frase depois da outra, entretanto, a arrematar qualquer dúvida. Princípio não é lei. Não há fórmula pronta em literatura.
Cada um com a sua cachaça. Viana escreve, empenhado numa espécie de realismo aumentado, arredio às impressões de qualidade fotográfica, uma luta diária. O jornalista considera. Entre um e outro, os verdadeiros eleitos (impossível não lembrar ‘Se um viajante numa noite de inverno…’): a pequena multidão de leitores sensíveis à peleja do contista agradece.

 

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