PEC dos Precatórios
Publicado em 04 de novembro de 2021
Por Jornal Do Dia
Mau pagador, o presidente Bolsonaro pede ao Congresso Nacional para dar um calote em estados e municípios, livre de qualquer represália. Deve e não nega, não há como despistar os cobradores. Mas quer empurrar a pendência pra frente.
Não faltam boas razões para desconfiar das intenções por trás da controversa PEC dos Precatórios. Nem mesmo o pretexto de estender uma rede de proteção social, a fim de socorrer os brasileiros mais pobres, para de pé. Bolsonaro, convém lembrar, é aquele para quem a concessão de um auxílio financeiro no auge da pandemia ainda em curso quebraria o Brasil. O que mudou em período tão curto, capaz de justificar a inesperada sensibilidade social do presidente, além da proximidade do pleito eleitoral? Eis a pergunta que todos se fazem.
A referida PEC, aprovada em primeiro turno na Câmara dos Deputados, tem ainda um longo percurso a vencer. Se, aos trancos e barrancos, chegar a ser aprovada em definitivo, terá jogado uma pá de cal sobre o suposto rigor fiscal uma vez defendido pelo ministro Paulo Guedes, além de acentuar o fosso cavado entre os interesses do governo de turno e os engravatados do mercado. Prova disso é a reação perceptível na variação do dólar e a repercussão na bolsa de valores. A situação foge ao controle.
Já há quem se pergunte qual será a bandeira levantada pelo candidato Jair Bolsonaro em 2022. Rachadinhas, Fabrício Queiroz, a aliança com o Centrão e, sobretudo, a ruptura com o ex-ministro Sérgio Moro, o impedem de mostrar as mãos limpas, como fez no último embate, quando era um ilustre desconhecido dos eleitores. Após quatro anos à frente do governo, a pose de liberal não convence nem o mais ingênuo entre os incautos. Com a inflação nas alturas e a escalada da fome, sobrou para ele o malicioso personagem de Pai dos Pobres. Para isso, o presidente precisará meter a mão grande nas burras da União. Resta saber se o Congresso lhe dará a chave do cofre.