Quinta, 26 De Dezembro De 2024
       
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Pinduca – um débito a saldar, como dizia Luiz Antônio Barreto


Publicado em 12 de maio de 2015
Por Jornal Do Dia


* Raymundo Mello

O sempre lembrado Pesquisador e Escritor Luiz Antônio Barreto, em seu blog "Pesquise – Pesquisa de Sergipe/Infonet" (02/04/2005), registra: "Sergipe e Aracaju devem a Pinduca uma homenagem que reconheça de público e agradeça a sua contribuição à arte e à cultura, e especialmente, à música, e, mais especialmente ainda, à percussão, e que faça a ponte entre Aracaju de ontem e as gerações de hoje, para que o artista brilhante possa rever as paisagens da sua terra, onde certamente aprendeu o ritmo, a ginga, a malícia, da música popular, tão expressiva em sua percussão, nos grupos folclóricos que resistem, heroicamente, a tudo".
Quem é o ‘Pinduca’ que Luiz Antônio Barreto cita? É o sergipano, nascido em Propriá em 03 de maio de 1926, e que já mostrou todo o seu talento em Sergipe durante os anos que organizou e dirigiu a "Pinduca Rádio Orquestra", composta pelo que havia de melhor entre instrumentistas locais, a maioria integrantes da Banda de Música do 28.º BC. Ensaiavam, sob a regência do Maestro Pinduca, em uma casa situada à rua Santa Luzia, entre as ruas Maruim e Estância, ao lado da residência do então fotógrafo Walmir Almeida.
Era empolgante, bonito de se ver, músicos experientes, com larga folha de serviços prestados ao mister, coordenados pelo então jovem maestro de 15 a 18 anos, que organizou sua orquestra baseado nas apresentações cinematográficas e discos de cera-de-carnaúba das famosíssimas bandas de Glenn Miller, Tommy Dorsey, Xavier Cugat e outras grandes figuras do cinema americano. Componentes bem trajados, estantes bem organizadas e músicos de prestígio como Mozart, Santana, Armando, Waldemar, Assis, Raimundo, Bodinho, Cavalcante, Dema, Eronildes, Ivo e outros, todos pertencentes a bandas militares (Exército e Polícia), além dos experientes civis Bonfim, Bissextino, Carlito e José, percussionistas, e, ao piano, o Maestro Pinduca e seu irmão Pinduquinha (Luiz e Antônio). Em paralelo, para ‘pocket-shows’, atuava então o "Trio Serenade" – Pinduca (piano), Joãozinho (saxofone) e Bissextino (bateria). Isso antes, muito antes, de ‘Zimbo Trio’, ‘Tamba Trio’ e muitos outros de presença nacional.
Daqui, o Maestro Pinduca rumou para Salvador (BA) com sua família, onde integrou-se à orquestra "Britinho e seu Stukas" como pianista, maestro e arranjador, animando grandes clubes da ‘boa terra’, além de participar das emissoras Rádio Excelsior, Rádio Sociedade e Rádio Cultura da Bahia. Criou o conjunto musical que fundou a ‘Boite Xangô’ do então famosíssimo ‘Hotel da Bahia’ e até 1958, com João Mello, Margarida de Lima (cantora e esposa do maestro), Codó, Bonfim, seus irmãos Joãozinho e Antônio e um guitarrista havaiano que não lembro o nome, trabalharam e enriqueceram a área artística e musical baiana que já estava sem Dorival Caymmi e Walter Levita que também foram para o Rio de Janeiro.
O Maestro Luiz Almeida D’Anunciação, ou simplesmente ‘Pinduca’, é percussionista, concertista, autor, compositor, com formação nos Seminários de Música da Universidade Federal da Bahia (1956 a 1959), fez estudos de percussão na Universidade do Colorado, em Boulder, Estados Unidos. Foi aluno de vibrafone de Phil Kraus, em Nova York, de marimba com José Bethancourt, em Chicago, e estudou percussão cubana com José Helario Amat e Lino Neiva Bethancourt, em Havana, 1996.
Pinduca preparou o ‘naipe’ de percussão da Orquestra Sinfônica Brasileira nas excursões à Europa, Estados Unidos e Canadá, sob a direção do Maestro Isaac Karabtchevsky, sem deixar suas funções de Professor/Orientador na implantação do Curso de Percussão da Unidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, depois de ser integrante, por 18 anos, do elenco da TV Globo, como percussionista, arranjador e regente.
Autor do "Manual de Percussão", em 4 volumes, divididos em 14 cadernos e 2 livros distribuídos em: Instrumentos da Rítmica Brasileira (do Birimbau a Tambores de Percussão Direta); Técnica para Instrumentos Barrafônicos; Estudos de Técnica para Caixa-clara; Técnica para os Instrumentos da Percussão Complementar. Escreveu e lançou "Os Instrumentos Típicos Brasileiros na Obra de Heitor Villa-Lobos".
Como compositor, Pinduca é autor de diversas peças, destacando-se a ‘Pequena Suíte para Vibrafone’, ‘Um Choro para Radamés Gnattali’ e várias outras peças que, como seus livros, correm o mundo em CDs.
É rica, muito rica, a biografia artística do sergipano Pinduca, que já mostrou todo seu talento em Sergipe, no Brasil e no mundo.
Em 2005, esteve rapidamente aqui em Aracaju, veio prestigiar o lançamento de livro ‘João Ventura – Cidadão de Aracaju’ de autoria do seu amigo e companheiro de arte por tantos anos, João Mello, e, posteriormente, veio lançar um seu trabalho e receber uma homenagem da SOFISE (Sociedade Filarmônica de Sergipe).
Estão em débito com Luiz Almeida D’Anunciação – o Maestro Pinduca -, o Estado de Sergipe, a cidade de Aracaju e a cidade de Propriá, que não podem e não devem se furtar em homenagear tão importante figura artística, divulgada no mundo inteiro.
Gente da Cultura, mãos a obra!!!

P.S. – Um fato pitoresco na vida artística do maestro: a Orquestra "Britinho e seus Stukas", lá pelo final dos anos 50 foi contratada para o ‘baile de aniversário da Rainha da Inglaterra’, no Clube Inglês, em Salvador (BA). Ora, ‘stukas’ era o nome que identificava os aviões alemães que fustigavam a Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial, causando grandes danos, com bombardeios indiscriminados. Lá pelo meio do baile, os ‘Servos da Rainha da Inglaterra’, após alguns whiskys a mais, resolveram atacar a orquestra e partiram contra os músicos, que, aterrorizados, deixaram o salão, às correrias, com seus instrumentos embaixo dos braços. Só o Maestro Pinduca permaneceu no palco, protegendo seu instrumento (o piano de cauda) – não dava para correr com ele embaixo do braço.

* Raymundo Mello é Memorialista
raymundopmello@yahoo.com.br

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