Plágio high tec

A Inteligência Artificial não poupará ninguém de apertar parafusos. Antes, tende a aplainar a criatividade proveniente da enorme diversidade observada entre os homens de carne e osso.

Segundo o ilustrador Danilo Aroeira, profissional influente no universo paralelo em que traços e rabiscos são levados a sério, as tais ferramentas de inteligência generativa não fazem nada além de plagiar o trabalho de homens e mulheres cheios de nervos. O artifício consiste, ele defende, em descarado atentado à propriedade intelectual, puro e simples.

Professor de Artes Visuais na PUC de Minas Gerais,o ilustrador falou justamente a uma publicação voltada para a intersecção entre tecnologia e criatividade. O ceticismo lúcido de Aroeira, contudo, vai de encontro a qualquer manifestação de otimismo.

Para ele, Chico Science errou feio. Computadores jamais farão arte. Artistas legítimos, em contexto de deslumbramento com o cérebro eletrônico, raramente fazem dinheiro.

O cineasta indiano Ram Gopal Varma, um manda chuva de Bollywood, por exemplo, só vai usar músicas geradas por inteligência artificial em seus filmes. Varma acredita que a tecnologia oferece uma uma solução eficiente para acelerar a produção audiovisual, capaz de entregar resultados instantâneos a “custo zero”.

Volto a Aroeira, autor de um inaudito manifesto em favor do sangue nas veias e do trabalho feito com o coração. Ele lembra que ninguém é obrigado a adotar as ferramentas de IA. Os próprios homens treinam a máquina, inadvertidos, a cada tarefa delegada a um chatbot. Este, num piscar de olhos, dispõe de todo o acervo produzido em séculos de loucura e desespero, à revelia de todos os direitos autorais.

Segundo os nerds do prompt e do GPT, um robô pode fazer o meu trabalho, sem as exigências da CLT, indiferente aos caprichos da inspiração e do cansaço. À revolta, portanto. Antes que seja tarde.