"Pontes para o alto"
Publicado em 13 de novembro de 2018
Por Jornal Do Dia
* Raymundo Mello
(publicação de Raymundinho Mello, seu filho)
Nem ainda eleito Presidente do Brasil, o senhor ‘Jair Messias Bolsonaro’ já anunciava os possíveis nomes que poderiam compor o seu futuro ministério. Não elencarei neste artigo estes nomes, alguns agora confirmados, tampouco farei qualquer consideração sobre eles, por não ser política a conotação que desejo dar à publicação. Minha intenção é tão somente o registro de uma ‘memória’.
Como os caros leitores certamente percebem, observo os assuntos mais comumente "em foco" durante a semana e "vou atrás" de algum texto escrito por meu pai – o ‘Memorialista Raymundo Mello’ – que verse sobre o tema.
Pois bem! Neste artigo de hoje trago-lhes um dos mais inteligentes dos seus textos. Advirto que a sua compreensão não é simples, embora pareça ser. É um texto "recheado" de metáforas. Talvez só os que conhecem mais profundamente a história do Brasil nas últimas 6 décadas conseguirão entender o seu pensamento.
O artigo, escrito por ocasião do voo espacial do astronauta brasileiro ‘Marcos Pontes’, foi publicado na edição n.º 372 do ‘Jornal do Dia’ (só pra se ter uma ideia, o amigo leitor tem nas mãos hoje a edição n.º 4.588), lá no já longínquo 7 de abril de 2006 (lá se vão 12 anos, 7 meses e 6 dias que o texto foi redigido), no início da história deste valoroso periódico.
Como àquela época meu pai ainda escrevia seus textos na sua inseparável máquina de datilografia "Remington", não o tenho digitalizado. Assim, fui "garimpar" o artigo no acervo do jornal, contando com a colaboração da sua dedicada funcionária ‘Paula’, já nas suas novas e confortáveis instalações (rua Propriá n.º 182), oportunidade em que encontrei o caro amigo jornalista ‘Elenilton Pereira’, seu Diretor geral, que, sempre que me encontra refere-se com reverência à presença dos textos de meu pai em todos os anos do jornal, desde a sua fundação.
Mantenho nesta publicação o título original do texto – Pontes para o alto – por apreciar a sua genialidade!
É impressionante como há sempre um texto escrito por meu pai passível de ser relacionado com os temas da atualidade. Intuição? Visão de futuro do memorialista? – um paradoxo, já que se dedicava a escrever sobre o passado. Capacidade de enxergar o não tão visível? Olhar conjunto da história? Ou simples coincidência? Que cada um julgue conforme o seu entendimento. O importante é que ele deixou a sua marca indelével na sociedade sergipana, imortalizada nas suas memórias…
Vamos ao texto! Assim escreveu Raymundo Mello:
"Finalmente enviamos o Pontes para o espaço sideral. Graças a Deus, o lançamento da nave espacial foi um sucesso e o nosso moderno bandeirante já está a ver a terra de forma diferente, como, diga-se de passagem, somente alguns privilegiados, hoje e nas próximas décadas, terão esse direito. Aqui pra nós, deve ser deslumbrante.
Comenta-se que, para essa remessa, gastamos (o Brasil gastou) US$ 10.000.000 (dez milhões de dólares) ou R$ 22.000.000 (vinte e dois milhões de reais). Mas o que é isso para um país rico como o nosso? Uma ninharia se considerarmos que com tal investimento ganharemos projeção mundial.
Agora não é só no futebol que somos famosos. O valor investido, logo estará produzindo resultados, teremos o nosso herói espacial para desfilar ao lado de autoridades civis e militares.
Habemus um astronauta de todos e se, em paralelo, ganharmos a Copa do Mundo de futebol, aí ninguém nos segura, voltaremos à euforia do "este é um país que vai pra frente" e agora, "pro alto", com mais esse feito, prolongamento dos ideais de Santos Dumont, o nosso Alberto.
Chegamos lá!
Felizmente, lançamos Pontes. Pontes destinam-se a fazer ligações… de pessoas, de produção, de ideias, de amor. Que assim seja, pois a conquista do espaço permanece sendo uma incógnita. A quem realmente interessa?
Não localizei por escrito, um dito popular que os mais antigos diziam ser da Sagrada Escritura que, leio e releio não somente por questão de fé mas também por curiosidade e interesse em conhecê-la melhor e, nem sinal da velha citação: "Quando os homens dominarem os ares e os mares, Eu (é maiúsculo por presumir-se tratar-se de Dei Verbum – palavra de Deus) renovarei a face da terra".
A ser verdade, preparemo-nos, pois, para Deus, a contagem de tempo é diferente da contagem dos homens (um século passa em um minuto). Assim, poderemos estar entrando nessa renovação em alguns minutos ou séculos, para nós, simples mortais.
Seria essa renovação o Apocalipse? Quem viver, verá!
O fato é que já estamos no seleto grupo dos países que atingiram o Cosmo, já temos, pela ótica do Major Pontes, a visão da terra pelo lado de fora dela – a grande obra Divina, azul, como disse Yuri Gagarin, primeiro a contemplá-la. E assim, façamos coro com o nosso Ministro da Cultura, Gilberto Gil, e cantemos:
"Poetas, seresteiros, namorados, correié chegada a hora de escrever e cantartalvez as derradeiras noites de luar".
Bom retorno à terra, Major Pontes. Os brasileiros te esperam, iluminado como Moisés, forte também como ele e transbordante do amor de Deus. E que sejas uma verdadeira ponte entre o céu e a terra e possas acrescentar a palavra Paz a seu nome. Bem vindo ao lar, Marcos Pontes da Paz".
Atualizando o assunto: Marcos Cesar Pontes, paulista de Bauru, nasceu em 11 de março de 1963. É um tenente-coronel da Força Aérea Brasileira (FAB), atualmente na reserva. Foi o primeiro astronauta brasileiro, sul-americano e lusófono a ir ao espaço, na missão batizada "Missão Centenário", numa referência à comemoração dos 100 anos do voo de Santos Dumont no avião 14 Bis, realizado em 1906. Em 30 de março de 2006 partiu para a Estação Espacial Internacional a bordo da nave russa "Soyuz TMA-8", com oito experimentos científicos brasileiros para execução em ambiente de microgravidade, retornando em 8 de abril daquele ano. Recentemente aceitou o convite do presidente eleito Jair Bolsonaro para ser ‘Ministro da Ciência e Tecnologia’ no seu governo.
Concluo, propondo ao ‘Marcos’ que seja realmente uma ponte para o bem. É o que a sociedade brasileira espera…
* * *
E.T. – Agradeço – sensibilizado – os 73 e-mails e 28 telefonemas, as manifestações diversas nos programas radiofônicos e os cumprimentos pessoais que recebi nos últimos dias nas ruas da cidade felicitando-me pelo artigo da terça-feira passada, 06/11, "Nosso alegre professor", uma memória sobre o ilustríssimo e saudoso ‘Professor José Barreto Fontes’ (Barretão). Porém, registro aqui, de público, que, com referência à consulta sobre a indicação do meu nome para concorrer ao prêmio "Memorialista do ano", AGRADEÇO, mas NÃO ACEITO, primeiro, porque não sou memorialista, segundo, por entender não ser merecedor de tal menção honrosa, já que o que nutre este artigo semanal não são os meus próprios textos, mas sim, ‘releituras’ que faço das memórias deixadas por meu pai. Se, entretanto, a comissão que organiza o referido prêmio optar pela indicação póstuma do seu nome para concorrer à premiação na categoria, aplaudirei a iniciativa e, caso seja o escolhido, com imensa alegria far-me-ei presente na solenidade, para receber, em seu nome, a merecida homenagem por um trabalho que tanto dignifica, ainda hoje, a cultura na nossa Aracaju.
* Raymundo Mello é Memorialistaraymundopmello@yahoo.com.br