Por que estamos perdendo a disputa da opinião pública?
Publicado em 13 de março de 2025
Por Jornal Do Dia Se
* Emir Sader
O que nos faz crer que fazemos um bom governo? O fato de que atendemos o principal problema do Brasil: somos o país mais desigual do continente mais desigual.
Nosso governo faz um conjunto de políticas sociais, como nunca havia havido no país. Não somente políticas sociais, mas também um conjunto de medidas para atender as pessoas com mais dificuldades. Entre elas a diminuição no preço dos produtos alimentícios.
Se vê que as pessoas compram mais coisas, que as lojas estão cheias de gente comprando. Se constata que há’ uma política que distribui renda. Há quase pleno emprego no Brasil. Continua a haver a situação mais dramática: a quantidade de pessoas abandonadas, morando e dormindo nas ruas. Mas a grande maioria das pessoas não está nessa situação.
No entanto, por mais falseadas que sejam as pesquisas, apesar do otimismo das pessoas com o futuro do Brasil, a imagem do Lula não reflete isso. O mais importante líder político da história do Brasil, o melhor presidente que o país já teve, não recebe o apoio correspondente da opinião pública.
Por que se dá isso? Não se trata apenas de trocar o responsável pela comunicação. O buraco é muito mais embaixo.
Por que estamos perdendo a disputa da opinião pública? Por que as pessoas não traduzem a melhoria das suas condições de vida em apoio ao governo, responsável por essa melhoria.
Claramente não se dá essa transferência. Não funciona a comparação com o passado, com o governo Bolsonaro. As pessoas vivem o presente. Os mais jovens, então, nem viveram o governo Bolsonaro.
A mídia atua como o principal setor da oposição ao governo. Sempre falseia as notícias favoráveis ao povo. Busca sempre encontrar ou fabricar notícias ou observações contra a imagem do Lula. Usam a pesquisa da Folha que atribui ao Lula um apoio de apenas 24% – real ou não – como instrumento para fazer passar a ideia de que o governo, o PT e o Lula, já não são maioria no país. A mídia sabe que, se não conseguiu destruir a imagem pública do Lula, a direita não tem possibilidades de voltar ao governo. Então se dedicam centralmente a isso.
As insatisfações das pessoas parecem não ser atendidas pelo emprego e renda, que é o que lhes propiciamos. Não basta explicarmos como é o governo que lhes propicia isso.
Há um forte sentimento contra a política, que termina sendo contra o PT e o Lula. As acusações de corrupção pegaram em uma parte da população, mesmo sem prova alguma. A prisão do Lula por algum tempo, parece, para esse setor da opinião pública, a aparente confirmação da corrupção que a mídia trata de impor à imagem do PT e do Lula.
O PT arca com a ofensiva contra a política e o governo, mesmo colocando em pratica uma política distinta no seu conteúdo. Não promove o neoliberalismo. Ao contrário, o combate frontalmente. Enfrenta a mercantilização das relações sociais, inclusive do Estado e da política. Resta ainda quebrar a coluna vertebral do neoliberalismo – a hegemonia do capital financeiro especulativo na economia.
Essas questões requerem a formação de um grupo de análise que produza enfoques mensais sobre o Brasil e sobre o mundo, para abastecer a militância e todo o campo democrático e popular.
* Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros