Pra cima!

Para mim, a performance do rapper BNegão estará sempre associada à afronta. A sua primeira encarnação artística se deu na disposição para o confronto, foi forjada no embate. Qualquer informação relacionada a sua música evoca, para mim, portanto,a voz espantada de William Bonner, faz soar em minha cabeça o alarme sensacionalista do plantão global.

Recordo o alarde, décadas atrás. A fusão de rock e hip hop realizada pela banda Planet Hemp provocou escândalo nos telejornais. Não por força do groove empolgante da banda liderada por B Negão e Marcelo D2. Mas em função do lirismo incensado em eflúvio de cannabis.

Corta para os dias de hoje, após decisão civilizatória do Supremo Tribunal Federal. Terminada a sessão, com placar de 7 a 4 em favor da descriminação da maconha para consumo pessoal, o presidente da Câmara oficializou a criação de uma comissão especial para debater uma Proposta de Emenda à Constituição já aprovada no Senado. A intenção declarada era a de criminalizar o porte de qualquer quantidade de droga.

O populismo penal de deputados e senadores ignora a realidade concreta dos presídios brasileiros. Hoje, cerca de 800 mil pessoas estão presas, de acordo com dados do Secretaria Nacional de Políticas Penais. Trata-se da terceira população carcerária do mundo. Grande parte dos custodiados foi parar no xilindró acusados por tráfico de drogas – pouco importa se o infeliz apenado fazia comércio ou apenas a própria cabeça.

Em âmbito individual, a decisão do STF muda pouco para os leitores deste Jornal do Dia – estes podem tragar qualquer espécie defumo sem medo, um sentimento desconhecido de gente letrada e bem nutrida. É no destino coletivo da nação que alguma transformação se vislumbra. Apesar dos reaças e de todos os pesares.