Armas e objetos apreendidos durante a operação
Presos na Operação Valquíria teriam cometido 17 assassinatos
Publicado em 27 de agosto de 2013
Por Jornal Do Dia
Gabriel Damásio
gabrieldamasio@jornaldodiase.com.br
Depois de quatro dias de expectativa, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) revelou detalhes surpreendentes sobre a quadrilha desbaratada na última quinta-feira durante a "Operação Valquíria", que mobilizou 240 policiais para cumprir, ao longo de um ano, 34 mandados de prisão expedidos pela Justiça. Ontem de manhã, ao fazer o balanço final da ação, a cúpula da Polícia Civil confirmou que os acusados formavam uma grande rede criminosa, baseada em Itabaiana e responsável por 17 assassinatos ocorridos desde outubro de 2012, em sua maioria na cidade serrana e em municípios do agreste do estado.
O trabalho, que correu todo sob sigilo, resultou em 32 prisões e na morte de outros três investigados, baleados em trocas de tiros com a polícia: Edmelson Souza Cunha, 40 anos, e Heitor Resende Santos, 37, mortos em uma casa no Residencial Brisa Mar, bairro Aruana (zona de expansão de Aracaju), e Gilberto de Menezes Santos, o "Zoião", 29, morto em Itabaiana. A ação envolveu praticamente todos os departamentos especializados da PC, como de Narcóticos (Denarc), o de Ordem Tributária (Deotap), a Coordenadoria do Interior (Copci) e a Divisão de Inteligência Policial (Dipol), além das delegacias das cidades envolvidas e das polícias estaduais de São Paulo, Pernambuco, Bahia e Goiás.
"Existia uma teia criminosa, uma quadrilha altamente perniciosa, especializada, onde vários crimes eram praticados, como agiotagem, roubo de carga, estelionato, tráfico de drogas, jogo do bicho, assalto a banco e homicídios. O crime de pistolagem está no meandro de toda esta situação", disse a superintendente da Polícia Civil, Katarina Feitoza, ao revelar que toda a investigação da "Valquíria" começou em 25 de agosto de 2012. Na ocasião, um grupo de oito homens armados abriu fogo em um bar no povoado Descoberta, em Carira (Agreste), e matou dois homens: o agiota Givaldo Tavares da Cunha e o policial militar Juarez Medrade dos Santos Barreto, atingido por 23 tiros.
Segundo o delegado Gilberto Guimarães, diretor do Dipol, as investigações sobre este ataque mudaram de rumo quando a polícia descobriu que Givaldo, além de ser ligado à quadrilha, era tio de vários integrantes dela. Em seguida, descobriu-se a participação deles em crimes conexos realizados para arrecadar o dinheiro que financiava negócios ligados à agiotagem e ao tráfico. Gilberto explicou que os trabalhos da polícia tiveram que ser divididos em quatro núcleos de atuação, conforme as atividades da quadrilha. "Mas isso não significa que esses núcleos não se interligavam. Tudo se entrelaçava", afirmou.
A principal atividade, segundo o delegado, era o tráfico de drogas, então liderado por Ademir Góis Oliveira, que já foi preso em 2008 pela Polícia Federal, junto com uma quadrilha de assaltantes de bancos. Ademir era o principal fornecedor de drogas do Agreste sergipano e seu negócio era bastante ativo. "Todas as semanas nós tínhamos carregamentos de drogas chegando aqui no estado. Durante a investigação, fizemos apreensões de mais de 100 quilos de drogas mandados por ele, e tivemos alguns indivíduos presos", disse o delegado.
Os negócios de Ademir eram financiados por outros dois núcleos. Um deles, o da agiotagem e jogo do bicho, era liderado por José Edmilson de Almeida Mota, o "Nem de Tonho de Glória", apontado como financiador de campanhas políticas da região. Já o do roubo de cargas era liderado por Adelvan Oliveira Cunha, o "Pretinha" ou "Sem Futuro", chefe de uma quadrilha presa em Tucano (BA) em 15 de abril, quando o grupo levava uma carga de eletroeletrônicos avaliada em R$ 1,5 milhão. Segundo o diretor do Dipol, as cargas eram vendidas e o dinheiro era destinado ao tráfico. "Sempre algum recurso dessas ações deságua no tráfico de drogas, seja na compra efetiva da droga ou patrocinando a execução de desafetos", revelou Gilberto, afirmando que até uma casa chegou a ser trocada por 16 quilos de cocaína.
As mortes – Todos esses crimes resultaram nos 17 homicídios atribuídos aos acusados, ocorridos entre outubro de 2012 e julho deste ano. Apesar de ter a participação indireta de praticamente todos os membros do grupo, o principal responsável pelos crimes de pistolagem era Edmelson, que morreu ao enfrentar a polícia em Aracaju. Conforme o diretor do Dipol, ele chegou agir nas cidades de Anápolis (GO) e Caetés (PE), nas quais dois rivais da quadrilha de Ademir foram mortos a tiros – e um terceiro homem quase foi morto dentro de uma ambulância.
"Ele tinha essa função dentro da organização, de liderar as execuções de todos os desafetos do grupo, ou mesmos aqueles que ele simplesmente cismava. Tivemos casos de pessoas que ele executou simplesmente porque não ia com a cara delas, sem nenhuma justificativa", revelou Guimarães, citando também que as mortes eram uma forma dos chefes manterem o comando das atividades da quadrilha.
O caráter violento destes crimes foi o que motivou o nome da operação. "Valquíria é uma deusa da mitologia nórdica que tinha como característica escolher as pessoas que deveriam morrer. Como a quadrilha tinha como mote a prática de homicídios na modalidade pistolagem, escolhemos esse nome, porque todas as vezes que eles decidiam que alguém deveria morrer, a perseguição era implacável, até que a morte fosse concretizada", explicou o delegado.
Durante a ação policial foram apreendidos 34 veículos, entre motocicletas e automóveis de luxo avaliados em mais de R$ 1,2 milhão. Foram apreendidas sete armas de fogo, sendo uma pistola Glock calibre 9 milímetros, uma espingarda calibre 12, dois revólveres calibre 38, uma pistola calibre 380 e duas pistolas calibre .40. Em drogas, foram arrecadados 36 quilos de maconha, 64 de crack e cinco de cocaína. A polícia apreendeu ainda mais de R$ 200 mil em dinheiro, joias, aparelhos celulares e outros objetos. A quadrilha tinha também mais de R$ 1 milhão em cheques de terceiros, referentes a compras de drogas, receptação de produtos roubados e negócios de agiotagem.
AS MORTES ATRIBUÍDAS À QUADRILHA
– Vicente Pereira da Silva, o "Vicente de Sete" – 20 de outubro de 2012, em Itabaiana
– Alex Franklin Tavares de Lima, o "Léo" – 19 de dezembro de 2012, em Itabaiana
– André Carvalho de Santana – 29 de dezembro de 2012, em Aracaju
– José Evaristo de Lima (consumado); e Jairo Antunes Pereira Barbosa (tentado) – 21 de dezembro de 2012, em Caetés (PE)
– Everaldo José Silva de Araújo, o "Seu Madruga" – 26 de dezembro de 2012, em Itabaiana
– Marcelo Dionísio do Nascimento, o "Marcelo Mototáxi" – 5 de janeiro de 2013, em Itabaiana
– José Arivaldo dos Santos, o "Ari" – 13 de janeiro de 2013, em Malhador
– Moisés dos Santos, o "Moisés Lampião" – 18 de janeiro de 2013, em Areia Branca
– Francisco Jardel de Andrade Silva, o "Jardel Funileiro" – 22 de fevereiro de 2013, em Anápolis (GO)
– Ítalo Klinsman Tavares Amaral – 15 de março de 2013, em Itabaiana
– Glauber Belchior de Araújo, o "Binho" – 11 de abril de 2013, em Aracaju
– José Santos de Oliveira, o "Laruta" – 26 de abril de 2013, em Itabaiana
– Cleciano, identificado como "Gordo" (tentativa) – 21 de abril de 2013, em Pedro Alexandre (BA)
– Geânison dos Santos Barreto, o "Juca" – 4 de maio de 2013, em Moita Bonita
– José da Silva Santana, o "Zé Do Bode" – 24 de maio de 2013, em Carira
– José Arnaldo Santana da Paixão, o "Arnaldo de Varisto" – 8 de julho de 2013, em Itabaiana
– Edênio Da Silva Santos, o "Denisson" ou "Trinta" – 16 de julho de 2013, em Malhador
Fonte: SSP
OS PRESOS DA "OPERAÇÃO VALQUÍRIA"
Presos em Aracaju, Itabaiana e Ribeirópolis
– Ana Carla Santos Oliveira, esposa de Aduilson Góis, 24
– Jamysson de Andrade Sampaio, o "Negão", 36
– Wagner Oliveira da Cunha, o "Xaropinho" ou "Waguinho de Rolopeu", 29
– José Edmilson de Almeida Mota, o "Nem de Tonho de Glória" ou "Careca", 41
– Marcos Mota Clemente, o "Marquinhos Ureia", 32
– Demilson Ferreira da Cunha, o "Lourinho", 43
– José Grasiane Menezes Mecenas, o "Naninho", 27
– José Marcos da Silva, o "Bizú", 29
– Maysa Santos Costa, 34
– Gilvan Tavares da Cunha, 37
– Iris Michele da Silva Brito, 30
– Damião Tavares de Mendonça o "Tchuck", 19
– Alberto Farias Bispo, o "Cláudio Celular", 40
– Maria Mônica Barreto Novais, 42
– Maurício Novaes Guedes, o "Chapéu de Couro", 72
– Carlos Eduardo da Cunha, o "Galego da Banca", 32
– Helenilson Ferreira da Cunha, o "Xexéu", 41
– Júlio Luiz dos Santos, o "Júnior", 22
– Roberta Santos, esposa de José Márcio Nunes, 28
– Evandro Santana Rocha, o "Tchurran", 27
– Edivaldo Alves da Cunha, o "Vado" ou "Lodento", 39
– Givaldo Teles da Silva Júnior, o "Júnior" ou "Juninho Funileiro", 34
Presos em São Paulo e Praia Grande (SP)
– Ademir Gois Oliveira, o "Galeguinho", 35, um dos chefes da quadrilha
– José Augusto Alves de Andrade, o "Galego", "Mago" ou "Zé Augusto de Jacó", 38
– Hélio Aparecido Delpech, o "Junior", 34
Presa em Garanhuns (PE)
– Mônica Oliveira Cunha, 37
Fonte: SSP
SEIS PRESOS ANTES DA OPERAÇÃO
– Aduilson Gois Oliveira, 29, irmão de Ademir Gois, já responde por homicídio e assalto a bancos. Detido no Presídio Regional Senador Leite Neto (Preslen), em Nossa Senhora da Glória;
– José Márcio Nunes Santos, o "Binho", 37, preso em Areia Branca no dia 17 de março, com 10 quilos de crack e R$ 70 mil. Está no Complexo Penitenciário Manoel Carvalho Neto (Copemcan), em São Cristóvão;
– João Batista Leite de Andrade, 33, e Herivelton Silva, o "Siri", "Veto", ou "Canela de Burro", 29, presos pela Polícia Militar no dia 15 de fevereiro, em Itabaiana, quando se preparavam para matar um homem. Estão presos no Complexo Penitenciário Antônio Jacinto Filho (Compajaf), em Aracaju;
– Adelvan Oliveira Cunha, o "Pretinha" ou "Sem Futuro", 29, preso em Tucano (BA) no dia 15 de abril, junto com uma quadrilha de roubo de cargas. Foi encontrado pela polícia baiana e pelo Denarc sergipano com uma carga avaliada em R$ 1,5 milhão. Está no Presídio Ruy Penalva, em Esplanada (BA);
– José Aldo Almeida Mota, o "Gago de Tonho de Glória" ou "Doutor", 46, preso pela PM em 28 de março no Aeroporto Santa Maria, em Aracaju. Procurado pela Justiça de Goiás, foi condenado por homicídio e roubo. Detido no Preslen, em Nossa Senhora da Glória;