Em entrevista coletiva on-line, realizada ontem, negociadores detalharam as medidas adotadas para o desfecho da rebelião que ocorreu durante 13 horas
Presos que se rebelaram são transferidos, mas podem ser punidos
Publicado em 13 de agosto de 2020
Por Jornal Do Dia
Os seis detentos que pro vocaram a rebelião de terça-feira noComplexo Penitenciário Antônio Jacinto Filho (Compajaf), no bairro Santa Maria (zona sul de Aracaju),podem receber punições penais e disciplinares, pelos danos que foram causados. Os presos ficaram 13 horas em uma sala, mantendo cinco funcionários como reféns. Eles se renderam por volta das 21h30 de anteontem e foram transferidos para o Complexo Penitenciário Manoel Carvalho Neto (Copemcan), em São Cristóvão.
Em entrevista coletiva on-line, realizada ontem, foram detalhadas as medidas adotadas para o desfecho da rebelião que ocorreu durante o dia de ontem, 11. A ação das unidades vinculadas à Secretaria da Justiça, do Trabalho e de Defesa do Consumidor (Sejuc) e à Secretaria da Segurança Pública (SSP) foram fundamentais para a preservação da integridade física e da vida de todos os envolvidos na ocorrência.
A rebelião teve início por volta das 8h30 dessa terça-feira. Seis internos fizeram sete prestadores de serviços da Sejuc reféns. Os detentos estavam em posse de facas e pedaços de ferros. Dois dos reféns chegaram a ser feridos superficialmente. Eles foram liberados ainda pela manhã e receberam atendimento médico. As medidas necessárias às investigações do caso serão adotadas, inclusive com a análise do material gerado pelo monitoramento da unidade prisional.
O secretário-executivo da Sejuc, coronel Reinaldo Chaves, confirmou que a conduta dos causadores da rebelião está sendo avaliada pelas autoridades e que elas vão resultar em punições que podem chegar até ao aumento das penas. Um inquérito interno também foi aberto para apurar a possibilidade de falhas nos procedimentos de revista e controle dos objetos que entram no Compajaf, o que teria causado o acesso dos detentos às facas e barras de ferro que foram usadas no motim. Reinaldo Chaves diz ainda que os procedimentos de segurança estão sendo revistos desde a última fuga ocorrida no presídio, em 21 de maio, quando cinco detentos com Covid-19 escaparam.
A motivação apontada pelos internos não estava relacionada à suspensão das visitas, ação implementada para o enfrentamento à pandemia da Covid-19. Os internos responsáveis pela rebelião alegaram que não estavam se sentindo seguros na unidade prisional e solicitaram transferências para outros presídios. Reinaldo Chaves conformou que os detentos eram integrantes de facções criminosas rivais e só poderiam conviver em uma párea específica e isolada do Copemcan, pois estavam jurados de morte pelos outros presos ou já se envolveram em outros problemas.
Os internos responsáveis pela ocorrência registrada nessa terça-feira já possuem seus processos criminais na condição de trânsito em julgado, ou seja, foram condenados definitivamente pelos crimes que praticaram. "Esses presos, juntos somam penas de 647 anos. O que tem menos foi condenado a, aproximadamente, 35 anos de pena privativa de liberdade em regime fechado. Temos dois com penas acima de 200 anos. É importante frisar que aos órgãos do estado, atores na situação de crise, não compete fazer o julgamento. A finalidade era fazer o desfecho da ocorrência, preservando vidas", reiterou o coronel Reinaldo Chaves.
Após o encerramento da rebelião, os presos foram encaminhados para viaturas da unidade prisional e foram levados para o Instituto Médico Legal (IML), onde foram feitos exames para atestar a integridade física deles. Em seguida, foram direcionados ao Complexo Penitenciário Dr. Manoel Carvalho Neto (Copemcan), em São Cristóvão. A Perícia também foi acionada para analisar a sala onde ocorreu a rebelião.
Negociações – As negociações foram conduzidas pelo coronel Reinaldo Chaves, secretário-executivo da Sejuc. O coronel José Moura Neto, comandante do policiamento militar da capital (CPMC), capitão Weniston Queiroz, comandante do Comando de Operações Especiais (COE), tenente-coronel S. Junior, comandante do Batalhão de Polícia de Choque (BPChq), e integrantes do Grupo de Operações Penitenciárias Especiais (Gope) acompanharam a situação desde o início.
José Moura Neto detalhou que a situação, inicialmente, era crítica, mas que todas as medidas necessárias para uma elucidação tranquila da ocorrência foram implementadas pelas instituições envolvidas nas negociações. "A situação tomou um rumo, de meio-dia para a tarde, de maior tranquilidade às negociações. Inicialmente, era muita tensa a situação. Os detentos também estavam muito nervosos no início da rebelião. Através da negociação, do convencimento e da palavra dada e cumprida, o diálogo começou a fluir mais intensamente", reforçou.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também esteve presente no local e acompanhou de perto todo o processo de negociação. O advogado Robson Barros, da Comissão de Direitos Humanos da OAB, caracterizou como precisas e essenciais todas as medidas adotadas por todas as instituições envolvidas no desfecho da rebelião, de modo que foram preservadas a integridade física e a vida de todos aqueles inseridos no contexto da ocorrência no Compajaf