João Mello (1921-2010) - cantor, compositor, produtor musical, poeta e escritor
Quantos sonhos acalentamos!
Publicado em 26 de junho de 2018
Por Jornal Do Dia
* Raymundo Mello
(publicação de Raymundinho Mello, seu filho)
Além de todo o encanto próprio dos festejos juninos, o dia 24 de junho brindou-nos sempre com um motivo a mais para nos alegrarmos – o aniversário do meu tio ‘João Mello’, irmão de meu pai.
Todos os anos meu pai marcava a Missa em Ação de Graças pelo seu natalício logo ao raiar da manhã, porque ao longo do dia João Mello gostava – e fazia questão – de receber parentes e amigos para comemorar o "seu dia", com muita comida típica e uma cerveja geladíssima, um whisky ou um "quentão" para "molhar as palavras". Tudo ao som de boa música, puxada por seus filhos Sérgio e Lenora, seu genro João Alberto e seu neto ‘João Ventura’, todos com veia artística privilegiada. E lá festejava com todo o seu clã – o "sangue dos Mello", no dizer do seu neto Thiago.
Hoje, mesmo com ele e sua amada esposa Lygia já na companhia de Deus, é impossível não lembrar e não festejar ‘João Lourenço de Paiva Mello’ no dia de São João. Nascido em 24 de junho de 1921, se fisicamente vivo estivesse estaria celebrando 97 anos.
Neste último artigo do semestre presto-lhe uma reverência, trazendo de volta para os caros leitores trecho de uma publicação de meu pai aqui no ‘Jornal do Dia’, edição de 14 de outubro de 2015, encimada pelo título "Da LB – Revista da Literatura Brasileira".
Segue o texto extraído da referida publicação. E salve, salve, João Mello!
Da LB – Revista da Literatura Brasileira – n.º 42 – página 44 – Rodízio Literário – 2006:
"João Ventura – Cidadão de Aracaju é o título do livro de memórias de João Mello, escrito em parceria com seu irmão Raymundo. Conheço-o há sessenta anos e, embora saiba que ele não manifestava pretensões de escritor, exímio em sua arte musical, não me surpreendeu a qualidade literária de seu livro, de autenticidade tão marcante que foi escrito, por ele, a lápis, em desprezo pela tecnologia fascinante. Em fins da década de 1940, escrevi e publiquei no Sergipe-Jornal artigo sobre ele, cantor e compositor, com destaque para a canção João Ventura, criada em 1947 e somente gravada no ano de 2000. Seu livro retrata bem a cultura sergipana nas décadas de 1940 e 1950. No estirão do tempo e no distanciamento geográfico, passaram-se sessenta anos. E eis que, para minha surpresa, recebi seu livro de memórias, mas não me surpreendeu a boa qualidade literária da obra, escrita em linguagem singela e escorreita. Lendo-o, senti-me retornar aos anos quarenta, quando costumava ouvir os cantos de João Mello e me empolguei pela canção João Ventura. Mas, ao mesmo tempo, percorri a saga musical e o por ele vivenciado na Bahia, Rio de Janeiro e Niterói, inclusive com a produção de trilhas sonoras para novelas da TV Globo. Foi elogiado por João Gilberto, que, segundo informa Raymundo Mello, estudou em Aracaju nos anos de 1942 e 1943. João Mello, já no Rio de Janeiro, trabalhando em gravadora, praticamente descobriu na noite Jorge Bem. Destaque-se, ainda, que a canção João Ventura ressalta a personalidade participante do compositor, pois o dito Ventura, cidadão de Aracaju, "não é malandro, nem vagabundo", "é um cabra inteligente, sonha um mundo diferente, pra ele e pra todo mundo". – Aluysio Mendonça Sampaio – Diretor".
(…)
‘LB – Revista da Literatura Brasileira’ [era] editada em São Paulo, sede na rua Constantino de Souza, 1768 – São Paulo – SP – CEP 04.605-004.
Tenho o original de carta enviada por Aluysio Sampaio (em 14/02/2006) ao seu "Querido amigo João Mello", onde ele diz: "Seu livro João Ventura – Cidadão de Aracaju (…) foi como se uma fada acenasse com a varinha mágica levando-me de retorno aos tempos de nossa juventude. Quantos sonhos acalentamos!".
* Raymundo Mello é Memorialistaraymundopmello@yahoo.com.br