RÉQUIEM AETERNAM PARA ANTÔNIO BARRETO
Publicado em 24 de junho de 2020
Por Jornal Do Dia
* José Domingos Machado Soares (Dominguinhos)
Antônio Miranda Barreto nasceu em Estância, em 30 de agosto de 1937. Filho do pecuarista e político udenista José Vieira Barreto e de Dona Antônia Miranda Barreto. Tinha sete irmãos: Maria Terezinha Barreto Nascimento, Maria Geíza Barreto Brandão, José Miranda Barreto, José Barreto Filho, Martinho Miranda Barreto, Maria Lair Barreto Costa e Rodes Barreto Gomes.
Grande parte da sua infância foi no campo, numa interação bucólica com animais, plantas e rios. Ou seja, numa relação plena com a natureza. Morou com a família nas fazendas: Oriente e Jardim. Seu pai teve também propriedades nas Curuanhas e Poços (município de Arauá). Estudou com o respeitado professor Azarias Santos.
O meu contato pessoal com ele ocorreu no exercício da vereança, de 1997 a 2000. Para aquela legislatura foram eleitos nomes experientes e preparados da política local, o que produziu grandes debates e embates, no plenário e, especialmente, na tribuna parlamentar. As discussões eram duras, longas e às vezes, tensas. Ele estava lá com a sua experiência.
Ali na convivência cotidiana, além das formalidades reiteradas de qualquer parlamento, conheci o verdadeiro cidadão Antônio Barreto, que quebrou todo o meu imaginário folclórico sobre ele, surpreendendo-me pela coragem, pela palavra empenhada e, sobretudo, pela solidariedade quando se fazia necessária.
Possui uma larga folha de serviços prestados à sociedade estanciana, seja como empresário de panificação (por mais de 30 anos), presidente do Estanciano Esporte Clube, vereador durante três mandatos e presidente da Câmara por um, administrador do Bairro Cidade Nova, secretário de Urbanismo e Transporte, ou como Venerável da Loja Simbólica Piauhytinga com destacado trabalho na ação filantrópica maçônica.
Constatei, na prática, num momento decisivo da vida do parlamento, em 1998, durante a eleição para à presidência, quando ele enfrentou uma enorme "pressão", mas honrou a palavra dada e garantiu a vitória para Antônio José Montalvão de Abreu, numa disputa extremamente difícil e que envolvia uma série de interesses. Foi um ato de alto espírito público.
Nesse mesmo dia sofri uma tentativa de agressão covarde e vil, por parte de um edil insatisfeito e inconformado com o resultado do pleito, e ele, de maneira corajosa, encarou a situação e impediu que o pior acontecesse contra mim. Nunca esqueci esse gesto de grandeza. E a partir dali, selamos uma amizade sincera, apesar da nossa diferença de idade, espectro político e ideologia.
Comerciante do ramo de panificação, além de citricultura e pecuária, o vi subir à tribuna e discursar orgulhoso do crescimento futebolístico de Robson Luís, jovem que se destacou nacionalmente jogando no Vasco da Gama e que ele viu crescer entre as Ruas: Fausto Cardoso e Melquisedek Amado (Rua da Alegria), centro da cidade, onde ficava a sua padaria Oriente.
Noutra oportunidade o vi falar, no púlpito legislativo, e de maneira entusiasmada, responder a um colega que teceu críticas ao seu genro, o advogado e professor Misael Dantas Soares, destacando a sua contribuição para a educação e a sua inteligência no domínio de línguas estrangeiras. Concluiu o discurso indagando quem era o vereador?
Durante os seus 82 anos de existência, construiu um imensurável patrimônio familiar. Foi casado com a Senhora Luzia Dantas Torres (Dona Luli), por cerca de 45 anos, com quem teve: José Anísio Torres Barreto, Ana Leonor Torres Barreto, Antônio César Torres Barreto, Francisco Carlos Torres Barreto, Maria Aparecida Torres Barreto e Rosana Torres Barreto Dantas Soares. E mais 14 netos e 6 bisnetos. Teve ainda dois outros filhos: Jailton Borges e Eduardo.
Há alguns anos constituiu outra família e estava residindo na cidade irmã de Umbaúba, mas religiosamente toda segunda-feira visitava a sua terra natal e tomava café na casa de sua filha caçula, Rosana Barreto, exclusivamente com o objetivo de acompanhar a jornada da vida de familiares e amigos. Isso mostra o seu espírito altruísta e solidário.
Homem de coragem, sempre encarou e derrotou toda e qualquer enfermidade que atravessou o seu caminho, e mesmo nesses tempos difíceis de Coronavírus (Covid-19), em que a humanidade está fadada a repensar comportamentos e valores, "combateu o bom combate" com disposição e entusiasmo até o último minuto, infelizmente não deu! Perdeu a luta…
Por isso, que no necrológio proferido por Misael Dantas, na porta do "Campo Santo Nossa Senhora da Piedade", por volta das 19h30, do dia 08 de junho, ficou evidente que quem tem a obra familiar, empresarial e política de Antônio Miranda Barreto continuará presente e vivo no coração dos seus e na memória histórica da municipalidade.
Descanso eterno.
* José Domingos Machado Soares (Dominguinhos), radialista, professor e ex-vereador de Estância.