Sem olhar a quem

Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br

A cantora Paulinha Abelha, vocalista da banda Calcinha Preta, permanece internada em um hospital de Aracaju. Sofre complicações renais. Sem doadores dispostos a drenar o próprio sangue em benefício alheio, restam as orações sussurradas no recato da dor mais pungente ou entoadas em alto e bom som, sob as lentes das câmeras de TV.
Uma campanha foi lançada nas redes sociais. O Instituto de Hematologia e Hemoterapia de Sergipe (IHHS) pede a doação de sangue do tipo O + ou O -. Indiferente à trajetória profissional da moça, ofereço o meu braço para a agulha e torço para os bancos de sangue transbordarem. Para repartir o pão não é preciso dar feição conhecida à fome.
Infelizmente, neste particular, Paulinha Abelha é só mais uma. De acordo com dados do Ministério da Saúde, apenas 16 em cada grupo de mil brasileiros são doadores de sangue – 1,6% da população. Segundo levantamento recente, realizado pela CNN, os bancos de sangue de pelo menos 13 estados estão em situação crítica. Somente Alagoas, Santa Catarina e o Distrito Federal dispõem hoje de um estoque regular. No resto do País, Sergipe incluído, simplesmente não há dados disponíveis sobre o assunto.
A banda Calcinha Preta, o leitor cativo desta página bem o sabe, jamais inflamou a mais breve centelha de ufanismo na fogueira crepitante de meu São João. O sucesso comercial tem palco e cartaz garantidos nos espaços mais privilegiados da cidade, passa muito bem sem os pontos e as vírgulas deste aqui. A voz de Paulinha Abelha não me diz nada. A sua dor, igual à de tanta gente sem a mesma projeção, ao contrário, realmente comove. Neste momento, espetáculo à parte, a cantora merece toda a solidariedade, sim.