Sem pizza
Publicado em 11 de maio de 2021
Por Jornal Do Dia
"O Brasil virou o cemitério do mundo". A afirmação do senador Renan Calheiros, relator da Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga a responsabilidade do governo federal no morticínio, está amparada em mais de 420 mil mortos. Mesmo assim, a despeito da realidade escandalosa dos fatos, já há quem fale abertamente em pizza.
A omissão do Palácio do Planalto no combate à pandemia é fato de conhecimento público e notório. Indícios apontam uma ação deliberada do governo, no sentido de acelerar o contágio por Covid-19, a fim de alcançar a chamada imunização de rebanho. Ocorre que tal estratégia condenaria centenas de milhares de brasileiros à morte, como, aliás, vem ocorrendo. O governo de Jair Bolsonaro jamais se empenhou em salvar vidas.
Apesar do cheiro de pizza que sempre sucede a instauração de uma CPI, o relator Renan Calheiros mantém hoje o mesmo tom do discurso realizado na abertura dos trabalhos. Trata-se de apurar as responsabilidades sobre um crime com um número escandaloso de vítimas. O senador quer enquadrar os culpados pelos cadáveres acumulados ao longo do último ano nos rigores da Lei.
A comissão já tomou os depoimentos dos ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich e do atual comandante da pasta, Marcelo Queiroga. Já estão marcados os depoimentos do ex-secretário de Comunicação do governo, Fabio Wajngarten, que acusa o Ministério da Saúde de incompetente na compra de vacinas, e do ex-chanceler Ernesto Araújo. Este chegou a ponto de mobilizar o Itamaraty para importar cloroquina, um medicamento sem eficácia no tratamento de Covid.
A CPI tem um longo caminho pela frente, com apenas um resultado desejável: Os brasileiros mortos não podem ser a única consequência do negacionismo criminoso do presidente Bolsonaro.