Sem povo, sem emoção
Publicado em 23 de setembro de 2012
Por Jornal Do Dia
Gilvan Manoel
Os 15 das que faltam para a eleição municipal serão decisivos para confirmar ou não a tendência da realização de segundo turno em Aracaju, que vem sendo demonstrada nas últimas pesquisas, apesar de o candidato do DEM, João Alves filho, continuar bem à frente. Tanto que a campanha de João mudou totalmente a sua estrutura, inclusive com alterações nos últimos programas de TV.
Outra grande mudança de rumo na campanha do DEM foi a incorporação do deputado federal Mendonça Prado, único representante do partido na Câmara, na campanha de rua. Mendonça é casado com uma das filhas de João e, no início da campanha, condicionou a sua participação ao afastamento dos irmãos Amorim – o senador Eduardo e o empresário Edvan. Ele não questionava a coligação do DEM com os 11 partidos controlados pelos irmãos, já que garantia um tempo essencial para que João pudesse mostrar o que fez e apresentasse as novas promessas.
Mas como alertou ontem a jornalista Rita Oliveira, a participação de Mendonça implicou numa retirada estratégica dos Amorim da campanha de rua. Neste momento eles estão mais centrados nas eleições de municípios do interior e a última participação pública do senador Eduardo na campanha de João foi durante a caminhada no centro de Aracaju, há um mês, quando Mendonça ainda estava distante.
A entrada de Mendonça e uma maior presença da senadora Maria do Carmo nas manifestações de rua e no programa de TV são as cartadas finais de João Alves para tentar matar a eleição ainda no primeiro turno, e evitar um desconfortável segundo turno. Maria tem grande penetração nas áreas mais pobres da capital, quando está no poder adota uma política assistencialista que cria a dependência das famílias, enquanto Mendonça foi o único que escapou do naufrágio nas eleições de 2010, além de ter obtido um surpreendente segundo lugar nas eleições para prefeito em 2008.
Da mesma forma, a campanha do deputado federal Valadares Filho (PSB), o único que tem condições de levar João ao segundo turno, passou por mudanças, inclusive no tom de críticas adotadas contra o principal adversário. Passou a mostrar falhas nas grandes obras de João, a começar pela Coroa do Meio, e a apresentar que tudo o que o adversário diz ter feito em Aracaju foi um conjunto de obras ao longo da sua bionicidade no comando da Prefeitura de Aracaju na década de 70, quando os prefeitos da capital não eram eleitos pelo povo, os três mandatos como governador do Estado, além dos cinco anos como ministro do Interior do governo Sarney, quando montou um governo paralelo em Sergipe.
Valadares Filho e a coordenação da campanha, inclusive o seu pai, o senador Valadares, e o governador Marcelo Déda, estão convencidos de que o segundo turno já é visível e os passos finais serão na consolidação desse objetivo.
Nos últimos dias, o programa do candidato da coligação PSB/PT recebeu o reforço de depoimentos da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula, e não está descartada a participação de Lula num comício em Aracaju no decorrer desta semana. Aracaju é uma das poucas capitais brasileiras onde PT e PSB estão aliados e não apresentam arestas.
A novidade dessa campanha é o desempenho pífio que vem sendo demonstrado até agora pelo candidato do PPS, deputado Almeida Lima, segundo as pesquisas eleitorais. Ele começou aparentando fôlego e com um forte aparato de rua. Hoje, quando aparece em quarto lugar, atrás da sindicalista Vera Lúcia, candidata da Frente de esquerda, Almeida limita a sua campanha ao programa eleitoral, gravado no escritório de sua casa. A sua equipe resume-se a mulher Maria Helena e ao ex-vereador Marcélio Bomfim. Nas eleições da capital de 2000 e 2008, Almeida sempre começou como favorito, mas não conseguiu evitar que fossem decididas no primeiro turno a favor de seus adversários.
Nessa etapa final da campanha, os principais candidatos deverão ampliar as equipes de rua e tentar envolver a população no processo eleitoral. Talvez pelo amplo favoritismo que possuía João Alves muito antes das convenções, o pleito de 2012 está sendo marcado como um dos mais apáticos já realizados em Aracaju desde a retomada das eleições diretas nas capitais, em 1985, quando Jackson Barreto foi eleito com 70% dos votos. Este ano faltam emoção e povo nas ruas.
Megalomania
E a megalomania da propaganda de João Alves continua. O bordão "Foi João quem fez", que suscitou até comunidades censuradas na internet, foi trocado por "todo mundo é 25", número do DEM, o partido do ex-governador. Até um jingle novo está sendo exibido na TV e tocado nos carros de som espalhados pela cidade.
Expansão
Nos últimos dias, João tem dedicado atenção especial à Zona de Expansão de Aracaju. A senadora Maria do Carmo aproveita o recesso branco no Senado para cumprir dura agenda de campanha na capital, ao lado do genro Mendonça Prado e alguns candidatos a vereador. É o esforço final para tentar evitar o segundo turno.
Acerto
Almeida Lima promete um acerto de contas com o presidente estadual do PPS, Nilson Lima, assim que for encerrado o processo eleitoral. Adepto de João desde que foi expurgado do PT, Nilson boicotou como pode a campanha do seu partido à PMA e, ao invés de incorporar a bandeira do candidato, concede entrevistas desastradas para o atual momento político e deverá sofrer retaliações, inclusive por parte da direção nacional do PPS, já que vem até admitindo que seu voto pessoal será do candidato do DEM.
Prioridade
Como deputado federal, Almeida tem prioridade para comandar o PPS no Estado. Se ele quiser continuar na legenda, Nilson Lima deverá ser convidado a deixar o partido juntamente com o radialista Marco Aurélio, que não conseguiu emplacar a sua candidatura a prefeito de Malhador e se dedica a atrapalhar a candidatura de Almeida. A situação é tão escandalosa que Nilson já é citado como provável secretário de João Alves, caso ele venha mesmo a ganhar as eleições.
Sem voto
Apesar de aplicado, Nilson Lima não possui duas características fundamentais a um político: carisma e voto. Ainda no PT foi o candidato preferido do governador Marcelo Déda a deputado federal em 2006 e amargou uma segunda suplência. Seu melhor desempenho eleitoral foi como candidato a vice-governador de João Alves Filho, em 2010, quando, naturalmente, não foi votado.
Institucional
Como presidente do Poder Legislativo, a deputada estadual Angélica Guimarães (PSC) manteve, na última quinta-feira, a primeira reunião de trabalho com o governador Marcelo Déda desde o rompimento do grupo Amorim com o governo, provocado exatamente pela antecipação em 12 meses da eleição da mesa diretora da Assembleia Legislativa. O presidente do Poder Judiciário, desembargador Osório Ramos, o presidente do Tribunal de Contas, Carlos Alberto Sobral de Souza, e o coordenador do Ministério Público, Orlando Rochadel, também estavam presentes.
Orçamento
Oficialmente, a reunião foi para discutir a proposta orçamentária do Estado para 2013. Na prática, foi para o governador Marcelo Déda mostrar que se a Assembleia Legislativa não aprovar os projetos de pedidos de empréstimos no valor de R$ 727 milhões, o governo terá que adotar cortes no orçamento do próximo ano, afetando inclusive os repasses aos demais poderes.
Xeque-mate
Na reunião, Déda fez um discurso na medida para os presidentes dos poderes, sempre afoitos por mais gastos e liberdade orçamentária: "Nossa expectativa é que, ao longo da execução orçamentária de 2013, possamos reforçar as receitas dos poderes e dos órgãos dentro das perspectivas que temos de melhoria da arrecadação e, também, levando em conta que as operações de crédito vão possibilitar a entrada de dinheiro novo nos cofres do Estado. Esses recursos vão nos ajudar na condução da administração e a honrar os compromissos que assumimos no orçamento de 2013 com os demais poderes e órgãos autônomos. Porém, uma frustração dos recursos do empréstimo pode criar uma enorme complicação para a execução orçamentária de 2013 e pode abrir um momento de grande instabilidade, cujas consequências serão sentidas por todos, sem exceção", afirmou.
Pauta
Os projetos que chegaram à Assembleia na semana passada devem tramitar esta semana nas comissões temáticas e podem, inclusive, ser colocados na pauta do plenário. O bloco dos irmãos Amorim no Legislativo que vinha demonstrando "preocupação" com a situação financeira do Estado para o próximo governador, já sinaliza que apoiará a proposta.
Protesto
Nesta segunda-feira, às 7 horas, o Sindicato dos Eletricitários de Sergipe (Sinergia) promove ato público na entrada da Energisa, em protesto às 30 demissões ocorridas na última quarta-feira, 19. "Uma empresa que presta serviço público cobrando tarifas altíssimas, que paga salários baixos, pratica assédio moral e ainda promove demissões em massa não pode ficar sem resposta", diz Sérgio Alves, presidente do sindicato. O Sinergia considera as demissões uma prática irresponsável, principalmente porque setembro é o mês da data base dos eletricitários, período em que acontecem os reajustes salariais.