Domingo, 20 De Abril De 2025
       
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SENHORA QUARENTENA


Publicado em 18 de abril de 2020
Por Jornal Do Dia


 

* Manoel Moacir Costa Macêdo
Estou em quarentena do coronavírus. Demorou a chegar. Gosta de frio, aqui é quente. Devora os ricos, aqui os pobres. Prefere os alvos, aqui os afrodescendentes. Não veio da terra da Aids e Ebola, aqui da "mãe África".Onde passou, não tem um deus para dizer que é seu. Aqui "Deus é brasileiro". Não esperava que prosperasse na "terra de santa cruz,coração do mundo e pátria do evangelho". Não veio sozinho, com os viajantes da globalização. A pobreza não é globalizada. Não tem identidade. Apareceu na China, império fragmentado no passado, poderoso no presente. É do mundo. Não tem alma. É uma molécula. Não venero a teoria da conspiração, nem a politização do sofrimento. Não é ingenuidade, é moral e humanismo. O tempo é cuidar das pessoas e salvar vidas. 
Avisou do hemisfério norte que chegaria. Deu tempo para recepcionar a invisível chegada. Reconhecido pela tosse, febre e falta de oxigênio. Um gás livre e gratuito na natureza. Requer pulmões sadios. Chegou. Faz o que mais gosta: asfixiar e matar. Não encontrou resistência de leitos, UTIs, equipamentos de proteção individual,profissionais treinados, respiradores, remédios e tudo mais que reclama a vida. Letalidade desejável para alguns. Não distingue ilustrado de abandonado. Funerais são iguais na pós-materialidade. A teoria esquecida, atualizou o "exército industrial de reserva" na esteira da produção. Sai um entra outro, tal qual os "tempos modernos" do genial Charles Chaplin e a escravidão negra. Rescaldo de violência e desigualdade. Carvão na exploração.
Estou resignado na quarentena. Fartura, idade e peso. A idade é inexorável, o peso é opção. Não incomoda, exceto quando chama de "gordo". Cabelos brancos e bigodudo, mas somente "gordo". Acato a recomendação burocrática:  "não saia de casa, a situação é grave, a contaminação é comunitária". Difícil é "não futucar a boca, os olhos e o nariz".  Deixei a quarentena por minutos para vacinar preventivamente da gripe dos velhos. Não por proteção, mas separar "influenza de coronavírus" no diagnóstico da vida.
Isolamento social radical. Não quero sair. Não aceito o isolamento vertical, nem às flexibilidades. O coronavirus separou a família. Onde estão fiquem até setembro chegar. Colóquios virtuais com hora marcada. Conversas casuais. Canais na televisão paga. Na "aberta" somente o canal do coronavírus. Energia, água, telefone, gás e internet intermitentes. Do alto vejo ruas, praças e avenidas limpas e desinfetadas. Garis não tem quarentena. Supermercados abastecidos. Caixas e caminhoneiros não tem quarentena. Acionistas sim. Bancose m horários especiais. Bancários não tem quarentena. Banqueiros sim. Ônibus, metrô e trem transportam trabalhadores. Eles não têm quarentena. Porteiros não tem quarentena. Inquilinos e proprietários sim. Vinte e seis milhões de brasileiros pobres no primeiro dia na fila do "auxílio emergencial" -,metade de um mísero salário mínimo. Entregadores de pizza, nunca trabalharam tanto. Eles não tem quarentena. Os encarcerados continuam em quarentena perpétua nas masmorras medievais. Os de "colarinhos, cuecas e bermudas brancas" estão em "quarentena domiciliar". Domésticas não tem quarentenas, mas desemprego. Deliveries turbinados de restaurantes, farmácias e lojas de pets para  os "totozinhos". Gastronomia sofisticada "in home". Todos os dias são domingos e feriados. Proventos depositados. Continuarei em quarentena. Serei um recluso. 
Academia na "laje da varanda" da "comunidade vertical", com vista para o mar. Banho de sol na "laje do closet", o sol bom para corar. Não sairei com a "cara pálida", quando o coronavírus partir. Sol da vitamina Dna "laje do sótão", no bom português clássico. Luar noturno, papos no Whatsapp, bebidas e petiscos. Cresceu a venda de vinhos e prosecos. Revistas e jornais virtuais gratuitos. Música, leitura, oração, escrita e meditação. Retornei à leitura do grosso e oferecido "Impérios: uma nova visão da história universal". Ascenção e queda de reis e monarcas. Poder, domínio, crueldade e morte. A lucrativa "Rota da Seda" do Império Chinês. Portugal forjou o primeiro império global. Os Impérios Mongóis. O Imperador Romano Carlos Magno prosperou com "a força militar e eficiente comportamento bárbaro dos francos". Não aceito o isolamento vertical para os idosos. Não irei jogar na "roleta russa" da vida: um leito de UTI para cinco mil habitantes. Estou na "quarentena da minoria". Privilegiado. Indignado com a compulsória quarentena dos pobres, miseráveis e desiguais, carentes dos elementares direitos de trabalhar e sobreviver sob o olhar indiferente da cristandade. Normalizada a passividade. "A verdade é temerária".
* Manoel Moacir Costa Macêdo, engenheiro agrônomo e advogado

* Manoel Moacir Costa Macêdo

Estou em quarentena do coronavírus. Demorou a chegar. Gosta de frio, aqui é quente. Devora os ricos, aqui os pobres. Prefere os alvos, aqui os afrodescendentes. Não veio da terra da Aids e Ebola, aqui da "mãe África".Onde passou, não tem um deus para dizer que é seu. Aqui "Deus é brasileiro". Não esperava que prosperasse na "terra de santa cruz,coração do mundo e pátria do evangelho". Não veio sozinho, com os viajantes da globalização. A pobreza não é globalizada. Não tem identidade. Apareceu na China, império fragmentado no passado, poderoso no presente. É do mundo. Não tem alma. É uma molécula. Não venero a teoria da conspiração, nem a politização do sofrimento. Não é ingenuidade, é moral e humanismo. O tempo é cuidar das pessoas e salvar vidas. 
Avisou do hemisfério norte que chegaria. Deu tempo para recepcionar a invisível chegada. Reconhecido pela tosse, febre e falta de oxigênio. Um gás livre e gratuito na natureza. Requer pulmões sadios. Chegou. Faz o que mais gosta: asfixiar e matar. Não encontrou resistência de leitos, UTIs, equipamentos de proteção individual,profissionais treinados, respiradores, remédios e tudo mais que reclama a vida. Letalidade desejável para alguns. Não distingue ilustrado de abandonado. Funerais são iguais na pós-materialidade. A teoria esquecida, atualizou o "exército industrial de reserva" na esteira da produção. Sai um entra outro, tal qual os "tempos modernos" do genial Charles Chaplin e a escravidão negra. Rescaldo de violência e desigualdade. Carvão na exploração.
Estou resignado na quarentena. Fartura, idade e peso. A idade é inexorável, o peso é opção. Não incomoda, exceto quando chama de "gordo". Cabelos brancos e bigodudo, mas somente "gordo". Acato a recomendação burocrática:  "não saia de casa, a situação é grave, a contaminação é comunitária". Difícil é "não futucar a boca, os olhos e o nariz".  Deixei a quarentena por minutos para vacinar preventivamente da gripe dos velhos. Não por proteção, mas separar "influenza de coronavírus" no diagnóstico da vida.
Isolamento social radical. Não quero sair. Não aceito o isolamento vertical, nem às flexibilidades. O coronavirus separou a família. Onde estão fiquem até setembro chegar. Colóquios virtuais com hora marcada. Conversas casuais. Canais na televisão paga. Na "aberta" somente o canal do coronavírus. Energia, água, telefone, gás e internet intermitentes. Do alto vejo ruas, praças e avenidas limpas e desinfetadas. Garis não tem quarentena. Supermercados abastecidos. Caixas e caminhoneiros não tem quarentena. Acionistas sim. Bancose m horários especiais. Bancários não tem quarentena. Banqueiros sim. Ônibus, metrô e trem transportam trabalhadores. Eles não têm quarentena. Porteiros não tem quarentena. Inquilinos e proprietários sim. Vinte e seis milhões de brasileiros pobres no primeiro dia na fila do "auxílio emergencial" -,metade de um mísero salário mínimo. Entregadores de pizza, nunca trabalharam tanto. Eles não tem quarentena. Os encarcerados continuam em quarentena perpétua nas masmorras medievais. Os de "colarinhos, cuecas e bermudas brancas" estão em "quarentena domiciliar". Domésticas não tem quarentenas, mas desemprego. Deliveries turbinados de restaurantes, farmácias e lojas de pets para  os "totozinhos". Gastronomia sofisticada "in home". Todos os dias são domingos e feriados. Proventos depositados. Continuarei em quarentena. Serei um recluso. 
Academia na "laje da varanda" da "comunidade vertical", com vista para o mar. Banho de sol na "laje do closet", o sol bom para corar. Não sairei com a "cara pálida", quando o coronavírus partir. Sol da vitamina Dna "laje do sótão", no bom português clássico. Luar noturno, papos no Whatsapp, bebidas e petiscos. Cresceu a venda de vinhos e prosecos. Revistas e jornais virtuais gratuitos. Música, leitura, oração, escrita e meditação. Retornei à leitura do grosso e oferecido "Impérios: uma nova visão da história universal". Ascenção e queda de reis e monarcas. Poder, domínio, crueldade e morte. A lucrativa "Rota da Seda" do Império Chinês. Portugal forjou o primeiro império global. Os Impérios Mongóis. O Imperador Romano Carlos Magno prosperou com "a força militar e eficiente comportamento bárbaro dos francos". Não aceito o isolamento vertical para os idosos. Não irei jogar na "roleta russa" da vida: um leito de UTI para cinco mil habitantes. Estou na "quarentena da minoria". Privilegiado. Indignado com a compulsória quarentena dos pobres, miseráveis e desiguais, carentes dos elementares direitos de trabalhar e sobreviver sob o olhar indiferente da cristandade. Normalizada a passividade. "A verdade é temerária".

* Manoel Moacir Costa Macêdo, engenheiro agrônomo e advogado

 

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