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SERGIPE, A PROVÍNCIA DAS TARTARUGAS


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Publicado em 28 de abril de 2013
Por Jornal Do Dia


Sabem a quem pertencem hoje todas as praias de Sergipe?  A resposta pode ser surpreendente: quem impera absoluto sobre todas elas é o Projeto Tamar. E o que vem mesmo a ser o Projeto Tamar? É aquele que cuida das tartarugas, diga-se, por justiça, com muita dedicação e zelo.
O problema é o exagero.

Faz 30 anos, as tartarugas de couro, a oliva, mais ainda a de pente, estavam ameaçadas de extinção. Chegou a Sergipe o Projeto Tamar, indo fixar-se em Pirambu, e na Bahia, na praia do Forte.
As tartarugas, no verão, sobem à praia para desovar acima da linha d´água, na faixa de areia fofa. Escavam um buraco e nele depositam centenas de ovos que parecem bolas de ping-pong. Quando os ovos eclodem os quelônios recém-nascidos andam, com a rapidez possível a uma tartaruga, em direção ao mar. Surgem as aves marinhas, que os dizimam. No mar, os cações, (tubarões ainda pequenos) devoram outra parte. Os sobreviventes escapando depois das redes dos pescadores, dos hélices de embarcações, da poluição, fazem longo périplo pelo Atlântico, pelo Mediterrâneo. Uns 30 anos depois estarão de volta à praia onde nasceram, para dar continuidade à espécie. A natureza é um belíssimo poema. Para os que creem, concebido por Deus, o supremo poeta, para os agnósticos, uma conjugação de fatores cósmicos dando origem às estrelas, aos planetas, num deles, a terra, surgiu vida, nele, estão as florestas, os mares, a tartaruga, o beija-flor, também, o presunçoso dominador homo-sapiens, poderosamente armado com a inteligência.

Faz mais de meio século um grupo de jovens veranistas, na Atalaia Nova, andava à noite pelo alongado da praia extensa, procuravam rastros bem visíveis que as tartarugas, pesadonas, deixavam na areia, no trajeto de ida e volta ao local onde depositavam os ovos. Localizá-los era então muito fácil. Depois, havia a cervejada acompanhada do tira gosto, os saborosos ovinhos cozidos. Mais difícil do que consegui-los era esfriar a cerveja na única geladeira a gás, na bodega do seu Carmelo. Desde a Atalaia Nova até a foz do Japaratuba, em Pirambu, na praia escura, esbatia-se, esmaecido, o facho rotativo de luz projetado pelo farol de Aracaju, hoje transformado em monumento. Quando as praias se enchem de luzes, dizem biólogos do TAMAR, as tartarugas perdem o rumo. Há controvérsias.

O TAMAR resolveu doar a faixa costeira sergipana aos quelônios, bicho que foi colocado no centro de um universo onde todo o resto deve girar em torno dele. A Petrobras paralisa suas atividades por quatro meses nas plataformas, para que a tartaruga impávida e sobranceiramente desove. Há um gigantesco prejuízo, e também desemprego. Por isso, o campo de Piranema sofre atrasos, por isso, a empresa planeja suspender suas atividades em águas rasas no litoral sergipano.

O Tamar dará aos trabalhadores o emprego que eles perderão? Devolverá os recursos que recebe da Petrobras para cuidar das tartarugas?
Na Praia do Forte o Tamar estabeleceu uma relação produtiva com o turismo, já em Pirambu, em consequência de tantas restrições, a cidade fica espremida, para não ultrapassar os limites exclusivos das tartarugas, e não surgem hotéis, pousadas, para que a luminosidade não afaste as ¨parturientes¨ que vêm do mar. Só de passagem, é bom lembrar que parturientes, humanas, aqui mesmo em Sergipe, não entram facilmente numa maternidade.

O bom senso não é privilégio exclusivo de biólogos nem de jornalistas, nem de filósofos ou sábios, é um recurso disponível em todas as mentes onde exista a inteligência. E o bom senso estaria a recomendar uma reflexão sobre certas práticas intituladas ambientalistas que costumam ultrapassar os limites da racionalidade, exatamente como é o caso do TAMAR em Sergipe. Passado tanto tempo já se poderia ter feito uma avaliação sobre aquela visão inicial a respeito do problema das tartarugas ameaçadas , e assim se poderia até constatar que hoje muito mais ameaçados estariam, por exemplo os sapos, bicho desgracioso, todavia responsável pela manutenção sob controle da explosiva população de insetos.

Os jovens que nos anos 50 e 60 cometiam o ¨crime ecológico¨ de comer ovos de tartaruga e também, eventualmente, de transformar uma delas no requinte gastronômico de uma suculenta sopa, não eram selvagens , violentos, ou devastadores. Eles, embora alguns já estivessem nos bancos acadêmicos, desconheciam a palavra ecologia, e nem faziam ideia do conflito entre o biótopo, o meio natural, e a biocenose, que Theillard de Chardin situa na noosfera, campo da inteligência, que produz a intervenção antrópica, ou seja, a ingerência humana no meio natural.
Na sociedade de consumo, cibernética, capitalisticamente revolucionando, constantemente, os meios de produção, como Marx já antevira no século XIX, o conflito agudizou-se. O progresso a reboque do mercado, caminha para exterminar o último traço do meio natural.

Com o planeta hospedando 7 bilhões de seres humanos e os recursos naturais dando sinais de exaustão, sumida, no baú das inutilidades, a teoria de Malthus vai sendo reabilitada.
Mudar o paradigma da produção e consumo é o desafio para esta, e muitas outras gerações que virão. A grande revolução, que terá de ser abrangente, globalizante, transformaria em meros episódios localizados, as revoluções francesa ou mesmo a russa. Mas, a gigantesca correção de procedimentos não se fará com armas, apenas, ou melhor, sobretudo, com a conscientização, e isso a tornará mais complexa, difícil e alongada.

No ecossistema que ecólogos como esses do Tamar concebem, o ser humano é visto como habitante inoportuno, intrometido, que, se possível, deveria ser retirado de cena.   Então, o mundo se libertaria da humanidade, aquele aglomerado desprezível de gente desgraçando o planeta que, definitivamente livre deles, se transformaria no paradisíaco habitat das tartarugas. 

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