Segunda, 20 De Janeiro De 2025
       
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Sob o signo dos Andes


Publicado em 20 de abril de 2018
Por Jornal Do Dia


Entre altos e baixos

 

Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
A cordilheira dos An-
des não impressio-
nou Gus Machado. De altura invencível, um dos acidentes geográficos mais imponentes do mundo foi reduzido a um punhado de alfinetes espetados em tecido branco, simples evocação da grandeza natural, uma representação prosaica do obstáculo.
Aqui, a escala é tudo. Ao compositor, não importa a gravidade afetada de um sentimento, o gesto teatral de um balde despejado. Mais valem as perdas e ganhos de todo santo dia, o coração partido em quatro cidades, os seus altos e baixos. Na apresentação de ‘Cor.di.lle.ra’, ele mesmo afirma com todas as letras. O EP não se atém à montanha de pedra, magnífica, mas a distâncias mais íntimas, a experiência provada na própria pele, ao custo de superação, calos e saudades.
"O espanhol pediu emprestado a palavra Cordillera do catalão "cordill", que por sua vez foi tomada do latim "chorda". E nessa sucessão de empréstimos (sem nenhuma devolução), ela perde o seu sentido original, que não era o de "fileira de montanhas entrelaçadas", mas sim o de "cordas" de um instrumento. Atravessar a mesma cordilheira que separa Buenos Aires de Santiago, e acudir à minha guitarra foi, ironicamente, a forma que eu encontrei de lidar com algumas das minhas separações".
Preservada certa distância, o ambiente sonoro é dos mais agradáveis. O climão lo-fi ressalta as virtudes de autenticidade do registro, como um selo de pureza underground. Sob cada melodia, no entanto, o estranhamento é mais profundo, deriva da consciência de se perceber desterrado, em busca de alguém, algum lugar, um abrigo.
"Cor.di.lle.ra não é um disco fácil. Pelo menos, não para mim. É um disco sobre distanciamento, produzido entre três países e quatro cidades (Buenos Aires, Santiago del Chile, São Paulo e Aracaju). São quatro canções que levaram três anos para decantar, gravadas em casa (em mais de uma casa) durante madrugadas, fins de semana de inverno e recessos de fim de ano – pequenos intervalos da minha vida profissional – em meio a mudanças de apartamentos, empregos e pessoas".
Em certo sentido, ‘Cor.di.lle.ra’ ilumina os abismos de todo homem adulto. Ninguém cresce antes de assumir certos riscos, privado de erro e desencontro. Entre idas e vindas, ponto final e recomeço, Gus Machado adota o signo dos Andes numa espécie de jornada interior, os olhos voltados para dentro, alheio a qualquer paisagem.

A cordilheira dos An- des não impressio- nou Gus Machado. De altura invencível, um dos acidentes geográficos mais imponentes do mundo foi reduzido a um punhado de alfinetes espetados em tecido branco, simples evocação da grandeza natural, uma representação prosaica do obstáculo.
Aqui, a escala é tudo. Ao compositor, não importa a gravidade afetada de um sentimento, o gesto teatral de um balde despejado. Mais valem as perdas e ganhos de todo santo dia, o coração partido em quatro cidades, os seus altos e baixos. Na apresentação de ‘Cor.di.lle.ra’, ele mesmo afirma com todas as letras. O EP não se atém à montanha de pedra, magnífica, mas a distâncias mais íntimas, a experiência provada na própria pele, ao custo de superação, calos e saudades.
"O espanhol pediu emprestado a palavra Cordillera do catalão "cordill", que por sua vez foi tomada do latim "chorda". E nessa sucessão de empréstimos (sem nenhuma devolução), ela perde o seu sentido original, que não era o de "fileira de montanhas entrelaçadas", mas sim o de "cordas" de um instrumento. Atravessar a mesma cordilheira que separa Buenos Aires de Santiago, e acudir à minha guitarra foi, ironicamente, a forma que eu encontrei de lidar com algumas das minhas separações".
Preservada certa distância, o ambiente sonoro é dos mais agradáveis. O climão lo-fi ressalta as virtudes de autenticidade do registro, como um selo de pureza underground. Sob cada melodia, no entanto, o estranhamento é mais profundo, deriva da consciência de se perceber desterrado, em busca de alguém, algum lugar, um abrigo.
"Cor.di.lle.ra não é um disco fácil. Pelo menos, não para mim. É um disco sobre distanciamento, produzido entre três países e quatro cidades (Buenos Aires, Santiago del Chile, São Paulo e Aracaju). São quatro canções que levaram três anos para decantar, gravadas em casa (em mais de uma casa) durante madrugadas, fins de semana de inverno e recessos de fim de ano – pequenos intervalos da minha vida profissional – em meio a mudanças de apartamentos, empregos e pessoas".
Em certo sentido, ‘Cor.di.lle.ra’ ilumina os abismos de todo homem adulto. Ninguém cresce antes de assumir certos riscos, privado de erro e desencontro. Entre idas e vindas, ponto final e recomeço, Gus Machado adota o signo dos Andes numa espécie de jornada interior, os olhos voltados para dentro, alheio a qualquer paisagem.

 

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