Tanta estrela por aí…

Rian Santos – riansantos@jornaldodiase.com.br

“Nós que já sonhamos com as estrelas, hoje andamos com a cabeça baixa, de olhos grudados no chão”.
A premissa do filme ‘Interestelar’ (2014), ficção científica dirigida por Cristopher Nolan, uma centelha adormecida em minha memória, queimou o meu juízo como um rastro de pólvora, inflamado pelas conclusões de um estudo patrocinado por uma universidade chinesa. Tudo indica, a exposição precoce da gurizada a tablets e smartphones tem o potencial de suplantar as distopias jamais ousadas por roliúde, sem a necessidade de efeitos especiais. Em muito pouco tempo, aliás, menos de uma geração.
A tragédia em curso, segundo os pesquisadores da Universidade de Zhejiang, consiste em transformar o planeta inteiro em habitat natural de ansiosos e desmiolados. No extremo, a dependência das telas ainda há de fazer do homo sapiens um animal estúpido, com a mesma capacidade cognitiva de um zumbi.
De pouco adianta citar os números assustadores da pesquisa, poucos prestariam atenção aos dados colhidos com afinco, meses a fio. O algoritmo, os cientistas acreditam, tem a mesma razão estrita de um vírus maligno: replicar-se e destruir.
Eu, anacrônico, espero inocular o sangue de meu filho, o seu espírito, com a mania fora de moda das páginas impressas- luxúria de relevos,texturas, volume palpável, tinta, papel. Livre do TikTok, ele talvez explore o mundo com a ponta dos dedos, suscetível às delícias do pensamento, um homem de carne e osso, esperanças, nervos à flor da pele,amigos de verdade,coração repleto, sem conta nas redes sociais.