Quarta, 22 De Janeiro De 2025
       
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Teatro com o pé no chão


Publicado em 26 de março de 2022
Por Jornal Do Dia Se


A maior atriz viva de Sergipe.

Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br

Isabel Santos é a maior atriz viva de Sergipe. Mas nem por isso se dá ao direito de tirar o pé do chão. Ao mudar de pele para viver um novo personagem, ela garante que é tomada pela ansiedade própria de uma debutante, alterna insônia e suores noturnos, chega a sentir pavor. Isabel sabe melhor do que ninguém o quanto custa carregar um espetáculo nas costas.
Não se trata aqui de qualquer uma. A artista foi moldada durante 40 anos de Teatro. E continua chutando. ‘Senhora dos restos’, o primeiro fruto do feliz encontro com o dramaturgo Euler Lopes, celebrado aqui em mais de uma oportunidade, rendeu prêmios e todos os aplausos. ‘Piedade, a seu dispô’ seguiu pelo mesmo caminho.
No Dia Mundial do Teatro, celebrado em 27 de março, o Jornal do Dia passa a palavra para quem entende do riscado.

Jornal do Dia – Você já me falou sobre o encontro feliz com Euler Lopes. Há carência de autores escrevendo para Teatro, em Sergipe?

Isabel Santos – Esse meu encontro com Euler Lopes, em 2013, que culminou na criação e montagem do espetáculo ‘Senhora dos Restos , foi um encontro muito feliz e tem rendido grandes frutos ao longo desses anos. Com ‘Senhora dos Restos’ tivemos a oportunidade de participar de quase todos os festivais de teatro realizados no nordeste, fizemos as mostras, festivais e encontros em nosso estado, ganhamos vários prêmios de melhor espetáculo, melhor, atriz, melhor cenografia e indicação para tantos outros.
Existe, sim, uma carência muito grande de autores escrevendo na atualidade para o teatro em Sergipe, uma pena.

JD – É correto deduzir que há alguma espécie de elo entre Senhora dos restos e Piedade?

Isabel – Não acredito que exista alguma espécie de elo entre as duas obras, a não ser o fato de as protagonistas serem duas mulheres. Quando recebi esse texto do Euler, uma das primeiras ideias que tive foi enviar o material para diversas pessoas nas mais diversas áreas para que pudessem ler e opinar sobre a dramaturgia que pretendia encenar. Então pude contar com a colaboração de professores de teatro da UFS, diretoras e diretores de teatro, alunos, professores da rede estadual, atores e atrizes. Uns associavam de pronto um certo elo com ‘Senhora dos Restos’ e outros não. Acredito que a narrativa e o fato de ser o mesmo autor, a marca da escrita do Euler Lopes, carimbada nas duas obras, contribuem muito para isso.
Alguns perguntavam: qual a diferença que existe entre Senhora dos Restos e Piedade, a seu dispô? Eu sempre respondi que a primeira é uma idosa moradora de rua que para muitos aparece como “louca”, mesmo sendo detentora de uma lucidez e sabedoria incalculáveis. Afinal, de perto ninguém é normal. A segunda é uma mulher de periferia, trabalhadora, mãe solteira, batalhadora, com moradia fixa, emprego e que luta para criar seus filhos com decência dentro de um sistema excludente.

JD – Mais um monólogo. Você não se assusta com a responsabilidade de assumir o palco sozinha?

Isabel – Rian, não me assusto. Fico apavorada mesmo! É uma responsabilidade muito grande e as pessoas tendem a cada vez mais lhe cobrar uma certa superação com relação aos seu trabalhos anteriores. Parece normal, mas me deixa louca. Mas quem tá na chuva é pra se molhar, já dizia minha mãe.

JD – Você atua em Sergipe há um bom tempo. É possível comparar o cenário criativo da aldeia, antes e hoje? O ambiente cultural Serigy evoluiu, nesse intervalo?

Isabel – Comecei no teatro em 1977, no Colégio Arnaldo Dantas, em Barra dos Coqueiros. De lá pra cá foram mais de 35 montagens e participação em diversos festivais dentro e fora do país. O ambiente cultural, em diversos aspectos, é bem diferente. A começar pelos espaços disponíveis para realização da cena, com relação a ensaios e apresentações. Tínhamos teatros como o Atheneu, Juca Barreto, Maria Clara Machado, Lourival Baptista, Auditório da Biblioteca Pública. Uma das coisas que mais me encantam hoje, com relação à produção dos nossos espetáculos, é a possibilidade de divulgação que temos através das redes sociais. Quando comecei a fazer teatro, conseguia uma notinha ou outra em um jornal local e passava as madrugas colando cartazes no calçadão que, para nossa tristeza, ao amanhecer do dia, estavam todos rasgados.

JD – A montagem de um espetáculo inédito é sempre um tiro no escuro.

Isabel – E que tiro! O frio na espinha é constante, principalmente quando se aproxima o dia da estreia. Parece coisa de mãe na primeira gestação. O sono some, quando dorme sonha, quando sonha acorda, quando acorda pensa e quando pensa sempre acha uma coisa que precisa ser organizada, reorganizada, colocada de outra forma. Enfim, um caldeirão de emoções.

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