Quarta, 02 De Abril De 2025
       
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Teatro de pés no chão


Publicado em 28 de março de 2025
Por Jornal Do Dia Se


Um caminho de pedras(Divulgação)

Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
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A primeira edição da Blitz Cultural promovida pelo Grupo de Teatro Boca de Cena em 2025 será dedicada exclusivamente ao próprio repertório.  Até o dia 10 de maio, os alunos matriculados na rede estadual de ensino terão a feliz oportunidade de escalar até o cume do teatro realizado hoje em Sergipe.
Eu tive a mesma chance, quando conheci os espetáculos Remundados e, antes disso, Os Cavaleiros da Triste Figura – montagens originais do grupo, levadas agora às escolas públicas. Percorri, então, um longo caminho de pedras. Feri os pés, mas não me arrependo.
Os espetáculos – A fome é, talvez, o mais duro dos exílios. Empurrado para a beira, sem terra, sem teto, o miserável reúne todas as forças para lembrar que, embora tudo o negue, ainda tem a faculdade de sonhar, inventar outros mundos.
‘Remundados’, espetáculo do grupo Boca de Cena, pega o rumo de uma verdadeira diáspora. À margem, nas periferias, premidos pela carência extrema, personagens diversos investem na fabulação, a capacidade de cantar e de contar histórias. Cada um a seu modo, eles desafiam com voz débil o traçado incerto do próprio destino.
Dizendo assim, soa um tanto utópico. Mas, em verdade, o caminho percorrido pelos atores em cena jamais se descola do país estampado na primeira página dos grandes jornais, alardeado com a frieza dos números em todos os noticiários. Cobertos de andrajos, pendurados em habitações precárias, os atores do grupo encarnam os desgraçados vistos todos os dias nas ruas de qualquer cidade brasileira. Ao invés de apelar para o crime e o lamento, contudo, eles alucinam, eles endoidam, eles deliram.
Não deixa de evocar ‘Os cavaleiros da triste figura’, montagem anterior do grupo sediado no Bugio. Forma e enunciado dão substância a uma pesquisa das mais consequentes, orientada pela reafirmação do exercício artístico enquanto estratégia de sobrevivência e possibilidade de transformação da realidade.
Muito mais do que uma palavra gasta, a resistência entoada em alto e bom som resgata aqui a potência esvaziada num cartaz rasurado às pressas. Isso porque, contra todas as circunstâncias, o artista tupiniquim não se mudou em bicho.
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