Quarta, 08 De Janeiro De 2025
       
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TEMPOS DE GUERRA E FEBRE


Publicado em 05 de junho de 2020
Por Jornal Do Dia


 

* Acrísio Gonçalves de Oliveira
Estância, 1918. Ainda estava em guerra o mundo. A Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Seus combates tiveram início na Bélgica em 5 de agosto de 1914, justamente por um país neutro. Fazendo a Bélgica fronteira com a Alemanha, este exigiu que o rei belga Albert I facilitasse a passagem para atacar a França, mas o rei não aceitou, sendo o país atacado pelos alemães, cuja violação forçou a Bélgica sair da neutralidade. Isso fez dar início a primeira batalha da guerra. A Bélgica resistiu bravamente e muitas de suas cidades foram completamente destruídas. O país foi ocupado e se transformou num campo de batalha, permanecendo assim até o fim, tendo por isso morrido milhares de pessoas. Estima-se que, entre civis e militares, a Primeira Guerra Mundial tenha dizimado 20 milhões de seres humanos.
Quanto ao rei Albert I (1875-1934), este passaria para a história como o único monarca a estar presente nas frentes de batalha, ajudando e orientando seus soldados no front. Tratado como herói, em sua visita ao Brasil, em 1920, o rei recebeu diversas homenagens e aproveitou para condecorar oficiais brasileiros.Da relação Bélgica-Brasil ocorreu a fundação da Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira.
Reconhecendo a resistência belga e tentando amenizar os problemas sofridos pelo pequeno país na guerra, no ano de 1917 os estancianos também participariam de uma campanha solidária que aqui foi intitulada Comissão Municipal Pró-Bélgica, na qual o Brasil enviaria ajuda financeira ao povo belga. Justificava o semanário A Razão, de 21 de outubro daquele ano, que esse país confrontou "as investiduras brutais dos bárbaros enfrentando e resistindo às avalanches germânicas". A comissão central tinha a sede em Aracaju, onde foram realizados jogo de futebol, quermesse e até um jornal falado, com o objetivo de levantar fundos para a campanha. Em Estância, a comissão tinha na liderança Francisco José Martins e o juiz de direito Salustiano de Souza Prata, além de colaboradores como Vítor de Vasconcelos, Francino Quaresma e José Olino do Nascimento, pessoas da elite estanciana. A campanha Pró-Bélgica foi fruto de um apelo ao país, feito por Rui Barbosa (senador) e Nilo Peçanha (governador do Rio de Janeiro) a fim de auxiliar o povo belga.
Três anos depois do começo da guerra o Brasil, que também se encontrava neutro, após os alemães torpedearem alguns de seus navios declararia guerra à Alemanha, em26 de outubro de 1917. Porém, para que isso acontecesse, primeiro houve pressão popular no desejo de fazer o Brasil entrar na guerra. Por exemplo, quando em maio, na França, foi torpedeado o navio "Tijuca", a imprensa estanciana, que refletia uma comoção nacional, criticava a covardia de alguns políticos do congresso que "hipocritamente apregoam" por receio patriótico "que a sua terra se exponha a um terrível perigo, envolvendo-se na gigantesca pugna que convulsiona o mundo". Conduzia a nação o Presidente Venceslau Brás, que teve um governo conturbado, enfrentando doenças e muitas manifestações populares. 
Embora o Brasil só tivesse entrado na guerra praticamente com envio de medicamentos, enfermeiros e aviadores, não deixou de ser afetado economicamente. As coisas subiam de preços, principalmente produtos de primeira necessidade. Somente nos últimos meses que antecederam o fim da batalha, é que o governo federal começaria uma tímida campanha para que os agricultores aumentassem o plantio das lavouras, por causa da falta de alimento ocasionado pela guerra europeia. A "Grande Guerra", como na época era chamada. No entanto, o governo brasileiro não proporcionava o devido investimento, o que era reclamado pelos mesmos. O jornal A Razão trazia a tal propaganda agrícola, que tinha os dizeres: "Do alimento depende a vitória na grande guerra. Trate, pois, de produzi-lo". Essa propaganda também era reproduzida nos diversos jornais e revistas do país.
Enquanto se desenrolava a contenda mundial, também nesse tempo, Estância enfrentava a febre palustre ou impaludismo. A febre, que tinha iniciado no começo de 1918, tinha tomado as localidades pobres e, principalmente, o Porto d’Areia, Santa Cruz que eram áreas próximas ao rio piauí, assim como os arredores do rio piauitinga. Tida como doença típica dos países tropicais como o Brasil, os sintomas da doença eram febre alta e frio inicial, mais ou menos intenso. Alguns casos apresentavam vômitos. Um jornal da época dizia que, quando não tratado,o doente chegava ao estado de anemia, aumento do baço e, pelas complicações do fígado crescia-lhe "o ventre que se torna hidrópico". Era também conhecida pelo povo como sezão (febre intermitente). Às vezes ela se manifestava de dois em dois dias (febre terçã) ou de três em três dias (febre quartã). O impaludismo (febre amarela) era causado por um mosquito chamado à época de carapanãs e costumava sertratado com doses de quinina, uma substância antitérmica. (continua)
* Acrísio Gonçalves de Oliveira, pesquisador, radialista, Professor do Estado e da Rede Pública de Estância

* Acrísio Gonçalves de Oliveira

Estância, 1918. Ainda estava em guerra o mundo. A Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Seus combates tiveram início na Bélgica em 5 de agosto de 1914, justamente por um país neutro. Fazendo a Bélgica fronteira com a Alemanha, este exigiu que o rei belga Albert I facilitasse a passagem para atacar a França, mas o rei não aceitou, sendo o país atacado pelos alemães, cuja violação forçou a Bélgica sair da neutralidade. Isso fez dar início a primeira batalha da guerra. A Bélgica resistiu bravamente e muitas de suas cidades foram completamente destruídas. O país foi ocupado e se transformou num campo de batalha, permanecendo assim até o fim, tendo por isso morrido milhares de pessoas. Estima-se que, entre civis e militares, a Primeira Guerra Mundial tenha dizimado 20 milhões de seres humanos.
Quanto ao rei Albert I (1875-1934), este passaria para a história como o único monarca a estar presente nas frentes de batalha, ajudando e orientando seus soldados no front. Tratado como herói, em sua visita ao Brasil, em 1920, o rei recebeu diversas homenagens e aproveitou para condecorar oficiais brasileiros.Da relação Bélgica-Brasil ocorreu a fundação da Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira.
Reconhecendo a resistência belga e tentando amenizar os problemas sofridos pelo pequeno país na guerra, no ano de 1917 os estancianos também participariam de uma campanha solidária que aqui foi intitulada Comissão Municipal Pró-Bélgica, na qual o Brasil enviaria ajuda financeira ao povo belga. Justificava o semanário A Razão, de 21 de outubro daquele ano, que esse país confrontou "as investiduras brutais dos bárbaros enfrentando e resistindo às avalanches germânicas". A comissão central tinha a sede em Aracaju, onde foram realizados jogo de futebol, quermesse e até um jornal falado, com o objetivo de levantar fundos para a campanha. Em Estância, a comissão tinha na liderança Francisco José Martins e o juiz de direito Salustiano de Souza Prata, além de colaboradores como Vítor de Vasconcelos, Francino Quaresma e José Olino do Nascimento, pessoas da elite estanciana. A campanha Pró-Bélgica foi fruto de um apelo ao país, feito por Rui Barbosa (senador) e Nilo Peçanha (governador do Rio de Janeiro) a fim de auxiliar o povo belga.
Três anos depois do começo da guerra o Brasil, que também se encontrava neutro, após os alemães torpedearem alguns de seus navios declararia guerra à Alemanha, em26 de outubro de 1917. Porém, para que isso acontecesse, primeiro houve pressão popular no desejo de fazer o Brasil entrar na guerra. Por exemplo, quando em maio, na França, foi torpedeado o navio "Tijuca", a imprensa estanciana, que refletia uma comoção nacional, criticava a covardia de alguns políticos do congresso que "hipocritamente apregoam" por receio patriótico "que a sua terra se exponha a um terrível perigo, envolvendo-se na gigantesca pugna que convulsiona o mundo". Conduzia a nação o Presidente Venceslau Brás, que teve um governo conturbado, enfrentando doenças e muitas manifestações populares. 
Embora o Brasil só tivesse entrado na guerra praticamente com envio de medicamentos, enfermeiros e aviadores, não deixou de ser afetado economicamente. As coisas subiam de preços, principalmente produtos de primeira necessidade. Somente nos últimos meses que antecederam o fim da batalha, é que o governo federal começaria uma tímida campanha para que os agricultores aumentassem o plantio das lavouras, por causa da falta de alimento ocasionado pela guerra europeia. A "Grande Guerra", como na época era chamada. No entanto, o governo brasileiro não proporcionava o devido investimento, o que era reclamado pelos mesmos. O jornal A Razão trazia a tal propaganda agrícola, que tinha os dizeres: "Do alimento depende a vitória na grande guerra. Trate, pois, de produzi-lo". Essa propaganda também era reproduzida nos diversos jornais e revistas do país.
Enquanto se desenrolava a contenda mundial, também nesse tempo, Estância enfrentava a febre palustre ou impaludismo. A febre, que tinha iniciado no começo de 1918, tinha tomado as localidades pobres e, principalmente, o Porto d’Areia, Santa Cruz que eram áreas próximas ao rio piauí, assim como os arredores do rio piauitinga. Tida como doença típica dos países tropicais como o Brasil, os sintomas da doença eram febre alta e frio inicial, mais ou menos intenso. Alguns casos apresentavam vômitos. Um jornal da época dizia que, quando não tratado,o doente chegava ao estado de anemia, aumento do baço e, pelas complicações do fígado crescia-lhe "o ventre que se torna hidrópico". Era também conhecida pelo povo como sezão (febre intermitente). Às vezes ela se manifestava de dois em dois dias (febre terçã) ou de três em três dias (febre quartã). O impaludismo (febre amarela) era causado por um mosquito chamado à época de carapanãs e costumava sertratado com doses de quinina, uma substância antitérmica. (continua)

* Acrísio Gonçalves de Oliveira, pesquisador, radialista, Professor do Estado e da Rede Pública de Estância

 

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