Reunião é a última cartada dos tios.
Todos ao mesmo tempo agora
Publicado em 17 de maio de 2023
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
Sem força na ponta dos dedos para levantar as plateias com um bom solo de guitarra, como manda a cartilha do gênero, os Titãs dão uma última cartada mercadológica. Em lugar dos desaforos proferidos no auge, apostam agora na nostalgia. A reunião de todos os membros originais da banda, com data marcada para aportar em Aracaju, deve lhes render uns bons trocados.
Relegados à sombra de Arnaldo Antunes e Nando Reis, os primeiros a cair fora da banda, os Titãs não são os mesmos desde o Acústico MTV (1997). Foi quando passaram a compor a trilha de novelas globais, às custas de baladinhas mais ou menos existencialistas, e deram as costas para os bichos escrotos da primeira hora. Um tiro no pé imperdoável.
Sangue novo não levanta defunto. Em passado recente, Beto Lee (guitarra) e Mario Fabre (bateria), dois músicos de mão cheia, fizeram o possível para dar um gás em cima do palco e assegurar alguma sobrevida ao núcleo original do conjunto, formado por Tony Belloto (guitarra), Branco Mello (voz e baixo) e Sérgio Britto (voz, teclado e baixo). Mas roqueiro velho é uma contradição em termos. Nesta seara, recomenda-se morrer aos 27, no ápice criativo. Ou se resignar à irrelevância e o anonimato.
Os Titãs não deveriam ter sobrevivido ao ‘Cabeça Dinossauro’ (1986). Õ BlésqBlom (1989), ‘Tudo ao mesmo tempo agora’ (1991) e Titanomaquia’ (1991) ainda ‘renderam um caldo bem razoável. Depois disso, seduzidos por um êxito comercial dos mais duvidosos, a banda se despedaçou em queda livre, ladeira abaixo.
Hoje, a nostalgia e a oportunidade de adivinhar a própria juventude na silhueta balofa dos tios é a única razão para comparecer a um show dos Titãs. A menos que o leitor tenha sido cativado pela banda durante o horário nobre da Vênus platinada.