Impulso de vida.
Todos os votos
Publicado em 16 de setembro de 2022
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
Frequentadores assíduos desta página foram indicados ao Prêmio Profissionais da Música, razão pela qual fui ao sítio do evento, a fim de me inteirar a respeito de sua magnitude. Quase me perco. Além Marco Vilane, Igor Gnomo e Bruno Del Rey, artistas com assento cativo à mesa farta do meu coração, dezenas, talvez centenas de cantores, compositores, instrumentistas, solicitam o voto do prezado público, tendo em vista merecida consagração. Haja ouvidos.
O mundo é grande, li num poema de Drummond. O Brasil, no entanto, é maior ainda. No Prêmio Profissionais da Música tudo é superlativo. Eis, também, a medida de minha ignorância. Do quase nada que conheço, contudo, faço alarde. O álbum mais recente de Vilane, por exemplo, digo e repito, realiza uma afirmação vital das mais oportunas, emana impulso de vida. E, também por isso, o artista merece todos os aplausos, uma enxurrada de votos, prêmios a mancheia e muito carinho.
Da boca pra dentro – Em boa hora, o cantor se enche de coragem para arreganhar os dentes e sorrir. Não se trata de negar os acontecimentos, ignorar a sombra do fascismo, os famintos, a procissão dos infelizes. Mas de responder às questões postas com uma afirmação positiva. Sereno, o artista busca o refúgio das pequenas alegrias. Questionado pela sorte, ele responde “sim”.
Não é à toa que, entre as 10 faixas do registro, Vilane gravou Gonzaguinha, embalado pela sanfona carinhosa do sergipano Mestrinho. ‘Eu apenas queria que você soubesse’ adverte e apazigua os amigos, estende um cadinho de otimismo. Apesar de todos os pesares, estamos vivos, firmes e fortes, espalhados por aí.
‘Da boca pra dentro’ passa ao largo de protestos pontuais, os mais aguerridos, ignora modismos. Não há gritos, nem ranger de dentes, mas um esforço de compreensão muito íntimo. O batismo do álbum, aliás, não poderia ser mais sugestivo. A música brota como uma fonte de água fresca, plácida, límpida, da primeira à última faixa. Vilane jamais levanta a voz.
Os observadores mais atentos já apontaram a cultura de morte que adoece os incautos tragados pelo vórtice do ódio – matéria farta em posts, debates, embates, bate-bocas, discussões. Embora não faça uma alusão declarada à atmosfera dos dias correntes, Marco Vilane adota aqui uma postura diversa. Atento a tudo, o “eu” do artista jamais descuida do outro, nem de si.