TOLERÂNCIA E DIÁLOGO – A UMA NOVA FACE PARA A IGREJA CATÓLICA
Publicado em 21 de fevereiro de 2021
Por Jornal Do Dia
Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos
É de longa data e tradição a realização da Campanha da Fraternidade (CF) no Brasil. O ano era 1961, o país ainda respirava democracia, mas vivia um clima tenso do ponto de vista político. A pobreza, como até hoje, era uma problemática gritante e levou três padres da Cáritas no Brasil a empreenderem um movimento para arrecadar fundos e donativos, a fim de dar assistência aos mais necessitados.
Nascia, assim, a Campanha da Fraternidade na Quaresma do ano seguinte, em Natal, capital do Rio Grande do Norte. Em 1963, a ideia ganhou força em outras dioceses brasileiras até se tornar nacional em 1964, pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), com o tema: "Igreja em Renovação".
Era a época do Concílio Vaticano II e sua ambiência afetava positivamente as ações da Igreja Católica no Brasil e no mundo. Ao mesmo tempo, provocou uma cisão velada entre os prelados e suas autoridades, uns mais inclinados a mudanças e outros agarrados a conservadorismos e doutrinas antigas, muitas delas longe do ideário cristão, apenas levando em consideração a ritualística e os costumes e deixando a desejar no cuidado para com os mais carentes.
Até a presente data, já foram realizadas 56 edições, em nível nacional, sem mencionar a atual em pleno andamento. Muitas delas marcaram a história da Igreja Católica no Brasil, sempre focando temas importantes e até mesmo inquietantes, como a fome, o cuidado com a natureza, o trabalho, a corrupção, entre outros.
A Campanha da Fraternidade de 2021 mal foi lançada e já tem rendido algumas polêmicas, inclusive protagonizadas por autoridades da Igreja Católica, a exemplo de Dom Fernando Guimarães, da Arquidiocese Militar do Brasil, que orientou os capelães a não participarem da CF.
A justificativa apresentada pelo prelado não faz muito sentido e a meu ver está desprovida do mínimo que se espera de um cristão: tolerância. Vejamos: "O diálogo inter-religioso é necessário e oportuno somente quando, no respeito às diversas expressões de fé, é realizado em sedes competentes. A evangelização dos fiéis, no entanto, em qualquer tempo e ainda mais em um tempo especial como é a quaresma católica, não é espaço para se dialogar sobre temas polémicos e contrário à autêntica doutrina de nossa Igreja".
Ora bolas, mas o que é mesmo a "autêntica doutrina de nossa Igreja" se não o amor incondicional ao próximo em qualquer tempo e lugar. Ou voltaremos a deixar de fazer o bem aos sábados, como queriam as autoridades religiosas do tempo de Jesus? São estas coisas que depõem contra a instituição em toda a sua existência: no afã de defender a doutrina e os preceitos, esquece-se de se amar por primazia.
A Campanha da Fraternidade de 2021 traz como tema "Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor” e como lema "Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade". É a quinta CF de caráter ecumênico de sua história. O layout do cartaz é um convite à reflexão para a convivência tolerante e fraterna entre credos, pessoas e condições sociais diferentes. Na diversidade, buscamos o entendimento; na tolerância, o perdão e convivência saudável e pacífica.
Aos intolerantes da Igreja Católica, que insistem com seu conservadorismo sem pé e sem cabeça, um recado claro e direto dos novos tempos, ecoado pela maior autoridade em amor fraterno, tolerância e diálogo: "Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso." (Lc 6,36). As pessoas não precisam mais de tribunais, leis e rituais enfadonhos, mas de braços e abraços que lhe resgatem a dignidade e lhe proporcionem a concórdia.