Gráfico do Observatório de Síndromes Respiratórias da UFPB mede a taxa de transmissão do corona
Transmissão do coronavirus cai, mas SES teme "segunda onda"
Publicado em 16 de agosto de 2020
Por Jornal Do Dia
A disseminação do coronavírus em Sergipe começou a diminuir de forma significativa, embora permaneça o alerta dos especialistas e das autoridades para evitar uma "segunda onda" da doença no estado. A análise é do infectologista Marco Aurélio Góes, diretor de Vigilância em Saúde da Secretaria Estadual de Saúde (SES), ao comentar o relatório divulgado na terça-feirapelo Comitê Científico de Combate ao Coronavírus no Nordeste (C4NE).O documento afirma que os casos da doença já entraram em declínio na maioria dos estados, mas continuariam crescendo em Sergipe, pois ele ainda está com o fator de transmissão R(t) entre 1,02 e 1,09, o que coloca nosso estado entre os que ainda estão com alto risco de disseminação da Covid-19.
Mas isso não é o que aparece nos gráficos atualizados dos principais laboratórios que acompanham a evolução dos casos de coronavírus na região. O gráfico do Observatório de Síndromes Respiratórias, ligada à Universidade Federal da Paraíba (UFPB), mostra que o índice R(t) caiu de 1,085 – registrado em 31 de julho – para 0,743 – registrado na última sexta-feira, 14. Em 30 de abril, quando a pandemia entrou em sua fase de pico no estado, esse mesmo índice estava em 2,77. Já o Grupo de Estrutura e Evolução Estelar (GE3), ligado ao programa de Pós-Graduação em Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), mostra que, em 1º de agosto, o R(t) médio de 7 dias em Sergipe estava em 0,53, enquanto que a média de 20 dias estava em 0,54.
O fator R(t) indica quantas pessoas, em média, uma pessoa com coronavírus pode contagiar em uma população na qual nem todos são suscetíveis. Para que a doença seja considerada em declínio, esse índice precisa estar abaixo de 1, e se estiver acima, há uma situação de epidemia. Ao JORNAL DO DIA, Marco Aurélio explicou ser "normal que haja discrepância" entre os relatórios, pois o C4NE não faz uma análise do momento real, nem trabalha com um monitoramento diário da taxa de transmissão, como é acompanhado pela SES, mas faz projeções a partir de uma retrospectiva do comportamento dos casos, indicando que medidas precisam ser tomadas pelas autoridades de saúde ao longo do próximo mês.
Para o diretor, a queda no ritmo de infecção de casos está diminuindo no estado, o que vem se sentindo na diminuição do número de confirmação de testes positivos para Covid-19, bem como na queda dos números diários de mortes e internações nos hospitais.No entanto, isso não significa o fim da pandemia. "Já tivemos uma média de 90% dos testes com casos positivos, e hoje essa média está numa faixa de 40%. Isso significa que o vírus está circulando menos e que está havendo menos contaminações. Mas não quer dizer que a pandemia acabou. Ela continua. É claro que ainda existem contaminações, ainda tem pessoas internadas e ainda há mortes", alertou.
Marco Aurélio pontuou também que a queda na transmissão do coronavírus se deve ao avanço da primeira onda, que já afetou uma parte significativa da população. "Nós seguramos por mais de um mês o começo dessa onda, mas quando ela veio, veio com tudo. O vírus ticou mais presente na circulação das pessoas e boa parte das pessoas suscetíveis a se contaminar acabou se contaminando. Tivemos as medidas restritivas, o uso de máscaras e a higienização. Nesse momento, já passamos do pico dessa primeira onda, mas ainda existe uma grande e significativa parte da população que ainda não foi contaminada e está se resguardando, o que nos faz ficar vigilantes para que não haja a volta do crescimento dos casos. Até que chegue a vacina", explicou.
O infectologista considera que a fase de flexibilização da economia sergipana, baseada nos dados de ocupação das UTIs, é um novo desafio a ser enfrentado por quem atua no combate ao coronavírus, pois uma maior circulação de pessoas pode causar o recrudescimento dos casos da doença – assim como aconteceu recentemente na Espanha, que voltou a proibir o funcionamento de bares e restaurantes, e na Nova Zelândia, que tornou a decretar o bloqueio total da cidade de Auckland, capital do país.
Por isso, foi recomendado ao Estado e às prefeituras sergipanas que intensifiquem os testes do chamado RT-PCR, conhecido como "exame do cotonete", que é considerado o mais preciso e eficiente dentre os que detectam o vírus. "esse teste coleta as amostras de secreções do sistema respiratórios e constatam a presença do vírus com mais precisão. Agora estramos numa fase de aplicar mais esse teste, porque, quando identificamos um caso positivo, já temos mais condições de isolar esse paciente, testar os familiares e as pessoas de mais contato, e aplicar os tratamentos necessários. Isso é o que pode nos garantir que não virá essa segunda onda de contaminação. Estamos na fase de aumentar vigilância, porque não acabou a pandemia", frisou Góes.