Trapaças da sorte
Publicado em 17 de novembro de 2020
Por Jornal Do Dia
* Antonio Passos
Também na política acontecem dramas que parecem copiados de uma tragédia do teatro grego antigo. Um desses episódios impressionantes envolveu os ex-governadores Marcelo Deda e Jackson Barreto. Outra possibilidade que começa a ser esboçada aponta para o cruzamento das linhas do destino das atuais candidatas a cargos majoritários em Aracaju.
Quando foi iniciada a redemocratização na década de 1980, Jackson Barreto era o político de oposição com maior potencial eleitoral e vê-lo governador parecia apenas uma questão de tempo. A caminhada começou com a eleição para a prefeitura da capital em 1985, com 71,8 % dos votos, derrotando o petista Marcelo Deda.
Dois anos depois, a administração de JB era aprovada por 90,6% da população. Porém, em 1988, um mutirão reacionário articulou uma intervenção na Prefeitura de Aracaju. O Tribunal de Contas pediu a medida. A Assembleia Legislativa aprovou o pedido por 13 votos a 11 e o então governador Valadares decretou a intervenção. A Assembleia Legislativa foi o ringue mais visível daquela batalha e lá estava o deputado de primeira viagem Marcelo Deda.
Deda poderia ter votado a favor de Jackson. Poderia ter alegado dúvidas quanto ao processo o optado pela abstenção. Poderia ainda ter votado a favor da intervenção, mas, discretamente. Nada disso aconteceu. Marcelo Deda atuou como o mais contundente denunciante de JB na AL. Com a intervenção, houve uma avaliação geral de que ali fora sepultada para Jackson a aspiração máxima que, via de regra, se coloca para os políticos de um estado pequeno: ser governador.
O destino e a política deram muitas voltas e eis que, em 2010, Deda é reeleito governador de Sergipe tendo como vice ninguém mais ninguém menos que Jackson Barreto. Como todos sabem, em 2013 a morte interrompeu o mandato do petista. Pela vacância daquele que um dia pareceu ter-lhe frustrado a aspiração de ser governador, Jackson Barreto assumiu o governo estadual.
Trazendo os olhos para hoje, pergunto: onde estaria Katarina Feitoza caso uma colega dela de carreira profissional não tivesse despontado como a principal adversária eleitoral do prefeito Edvaldo Nogueira?
Parece-me que a candidatura de Danielle Garcia foi a chave que abriu a porta para a entrada inusitada e solene de Katarina Feitoza nesta campanha de 2020. Conforme as tendências eleitorais e as especulações, é possível que ela venha a assumir a Prefeitura de Aracaju em 2022. As duas são muito jovens e têm muitas caminhadas a fazer. Serão mais um caso de destinos políticos tão enroscados quanto os de Marcelo Deda e Jackson Barreto? Só o tempo dirá.
* Antonio Passos é jornalista