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Três perguntas para Igor Gnomo


Publicado em 09 de outubro de 2013
Por Jornal Do Dia


Pronto para as escolhas certas

Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br

O primeiro disco de Igor Gnomo impressionou meio mundo de gente. Não a mim. NorDestino (2011) ganhou destaque em publicações de peso, a exemplo da Guitar Player, abriu um monte de portas para o guitarrista e o apresentou a quem interessava. Uma estréia feliz, em diversos aspectos. Sob a enxurrada de notas despejadas sem nenhuma economia, contudo, bons temas de rock, fusion, baião e jazz restaram sufocados, como se a abrangência das possibilidades soterrasse o discernimento do músico, aparentemente incapaz de tomar um rumo e o seguir.

Por isso a apresentação de Gnomo na final do Festival Aperipê de Música, há pouco mais de uma semana, me impressionou tanto. No palco do Lourival Baptista, acompanhado por Odílio (bateria) e Paulo Groove (baixo), ele provou ser capaz de realizar as escolhas necessárias para a música fluir. O resultado foi uma performance leve e empolgante, que privilegiou a composição em detrimento da técnica e lhe garantiu o troféu de melhor instrumentista da noite.

Tudo indica que essa mudança de postura dará o tom do próximo disco de Gnomo. Quem quiser acompanhar a transformação de perto possui uma excelente oportunidade esta semana, quando Gnomo realiza um ensaio aberto para poucos e bons, como gostam os colunistas sociais (a titulação desta matéria não foi à toa), no Lado B Studio.

Jornal do Dia – Eu fiz parte da comissão julgadora do Festival da Aperipê e fiquei impressionado com a sua composição. Ao contrário dos temas registrados em "NorDestino" (2011), a música que concorreu no FAM é bem simples, dispensou as firulas próprias dos virtuoses. Ela aponta alguma mudança de rumos em sua produção musical? O seu primeiro disco é um pouco "carregado"…

Igor Gnomo – Fico muito feliz que você tenha gostado da música "Pé na estrada". Ela estará presente no meu próximo CD, "Andarilho", que deve ser lançado em breve. Este segundo disco vai ganhar um direcionamento diferente, voltado para a música brasileira, não somente para guitarristas, explorando influências Afro, unindo elementos ricos do folclore nordestino com a improvisação e linguagem do Jazz. Ao contrário do "NorDestino" que traz uma proposta smooth jazz, rock e baião, desta vez passamos mais tempo no processo de pré-produção, experimentando e pesquisando mais sonoridades. Ultimamente venho procurando boas bases em poucas notas que traduzem melhor o nosso cotidiano musical e nossas lutas. "Pé na estrada", por exemplo, foi composta com base nas sonoridades dos guitarristas Heraldo do Monte, Luciano Magno e Fred Andrade, grandes expoentes da música nordestina. Pretendo arrastar a minha sonoridade e raiz pelo mapa.

JD – Você faz alguma distinção entre o seu trabalho de instrumentista e compositor? Em outras palavras: Ser guitarrista é maior do que ser músico, simplesmente?

Gnomo – Ser guitarrista é algo que carrego desde a infância, quando ouvia clássicos do rock no toca fitas do carro do meu pai. A sonoridade gritante das guitarras sempre me fez dormir sonhando em ter uma guitarra e acordar pensando em ser um guitarrista. Quando ganhei o meu primeiro instrumento, comecei a pesquisar tudo que estava ao meu alcance sobre o "universo guitarra". O convívio e práticas de conjunto me fez pensar melhor como músico. Hoje penso não somente na guitarra, e sim na música como um todo. Meu lado compositor hoje fala mais alto. Quando estou compondo, estou sempre com um violão, pois assim trabalho e penso melhor nas linhas de contra baixo, percussão e outros instrumentos. É gratificante tocar e poder estar ligado ao universo do seu companheiro de banda, pensar em um todo é necessário.

JD – Esta semana vai ocorrer um ensaio aberto no Lado B. Eu gostei da ideia. Deve ser legal ver os músicos experimentando, ver os temas ganhando forma, coisa e tal.

Gnomo – A convite da equipe do Lado B Studio, eu e meus companheiros de jornada Odílio Saminez e Paulo Groove, vamos apresentar algumas das minhas composições e releituras que tocamos em nossas apresentações, além de compor um tema ao vivo. Esta é mais uma das atividades que desenvolvemos em prol da difusão do trabalho e da música instrumental. Desta maneira, já desenvolvi dois projetos na Bahia e que pretendo realizar aqui em Sergipe, que foi o "Jam no parque" (música instrumental, família e meio ambiente) e o "Jazz na rua da frente" (jazz, poesia e fotografia no meio da rua).

É preciso se movimentar. Esperar por grandes palcos e produções não é suficiente. Desde que cheguei a Sergipe fui muito bem acolhido e já participei de diversos eventos como o "Festival Mangaba instrumental" e o "Circuito Sesc de música", entre outros, ao lado de grandes instrumentistas e grupos como Ferraro trio, Coutto Orchestra, Café pequeno, Saulo Ferreira, Brasileiríssimo, Casa Forte e outros que fazem esta cena.

Acredito que é necessário, além da coragem, ter sempre um plano de inovação e metas. O mundo se atualiza muito rápido, é preciso estar ligado ao que acontece no mercado e como suprir nossas forças para renovar o nosso produto. A união é fundamental. Tenho grandes amigos como o Alysson Coutto, e é muito gratificante ver uma produção de alta qualidade e tamanho companheirismo para produzir sempre com outros grupos e artistas. A cena instrumental sergipana vai muito bem, com produções de alto nível, não deixa nada a desejar. O principal é produzir, esperar não basta.

Igor Gnomo realiza ensaio aberto no Lado B Studio:
Sábado, 12 de outubro, às 20 horas

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