TRIBUTO A ZÉ TRINDADE
Publicado em 07 de dezembro de 2024
Por Jornal Do Dia Se
* Manoel Moacir Costa Macêdo
A formação econômica do Brasil está vinculada aos modos de produção agrícolas. Monoculturas, Capitanias Hereditárias, escravidão e extensões de terras de perder-de-vista, marcaram a “ferro e fogo”, a identidade nacional.
Pau-brasil, cana de açúcar, café, seringueira, cacau e pecuária extensiva definiram o padrão da sociabilidade brasileira. Escravidão negra e terras abundantes definiram o modo de produzir e acumular.
O passado e contemporaneidade grosso modo, se encontram em contingências similares, Na atualidade, o Brasil é um expressivo produtor de matérias-primas oriundas da agropecuária. No mercado global um relevante exportador de commodities agrícolas, em seletivos e específicos produtos, como soja, milho, algodão e carnes.
Como consequência, dependência tecnológica, acumulação de riqueza em poucas mãos e abismal desigualdade. No dizer do professor da Universidade de Harvard dos Estados Unidos, o brasileiro Mangabeira Ungler, o Brasil está inserido no comércio global como um “produtor de natureza bruta”, em troca de conhecimento refinado e tecnologia avançada. Combinação de “desigualdade com mediocridade”.
No Brasil, continental País, a região Nordeste, expressa essas contradições. Ciclos da cana de açúcar, pecuária extensiva e cacau. Engenhos, extensas fazendas, escravidão, mando, concentração de riqueza, poder e desigualdade definiram as relações sociais vigentes. O Estado de Sergipe, o menor do País em extensão geográfica foi produtor de cana de açúcar com os seus engenhos. Influências que percorreram do passado ao presente. Não raro, uma família patriarcal dotada de terras e poder, não possuía um engenheiro agrônomo em sua prole. Simbologia da economia agrária, prestígio e ascensão social.
José Trindade, engenheiro agrônomo pela centenária Escola de Agronomia da Universidade Federal da Bahia, diplomado na contemporaneidade, não carregava nem sobrenomes de famílias tradicionais e nem detinha latifúndios. De Boquim, Sergipe, geografia de sua reencarnação, ganhou relevância pelo caminho da ciência, como pesquisador na cultura dos citros.
O labor de pesquisador ultrapassou a ciência citrícola, para alcançar a política, inicialmente agregando os produtores sergipanos de laranja numa vigorosa Associação, e adiante, como prefeito de sua cidade natal, eleito por dois mandatos pelo PSB – Partido Socialista Brasileiro. Feitos desempenhados com honestidade e competência. Primou pela ética pública e privada.
Aclamado por seus pares e destacados pesquisadores da EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, IAC – Instituto Agronômico de Campinas, e IB – Instituto Biológico de São Paulo, entre outras organizações nacionais e internacionais pelo desempenho técnico-científico. A sua contribuição, liderando uma equipe de diligentes colegas na Estação Experimental de Boquim, ajudou no seu tempo, a situar o menor Estado do País, como o maior produtor de laranja do Nordeste e o segundo do Brasil. Pai, esposo zeloso, e diligente produtor citrícola.
Zé Trindade, como é carinhosamente lembrado, está fincado nos registros da história, na obra biográfica de merecido título: “José Trindade – Um Homem Singular, Um Ser Especial”.
* Manoel Moacir Costa Macêdo é engenheiro agrônomo e advogado.