‘Cumbuca’ tinha o jeitão do poeta.
Turismo sem tambor?
Publicado em 21 de dezembro de 2021
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
Leio a respeito do investimento realizado pelo poder público no turismo da aldeia com o ceticismo próprio de quem já ouviu todas as promessas do mundo. Não creio mais. Mareado pelo sobe e desce da Linha Verde, caminho que percorri de ponta a ponta no último fim de semana, no rastro do perfume, a cor e o sabor emanado pelas melhores lembranças da Bahia, dou-me conta da ausência que faz a Cumbuca de Amaral Cavalcante. Não há como promover o Turismo sem pensar em Cultura.
A Cumbuca jamais passou de uma ousadia, uma cria com a cara e o jeitão modernoso do poeta. De mão em mão, diz que me disse, pouca gente teve a oportunidade de folhear as suas páginas. Forma e conteúdo recomendavam a divulgação massiva da publicação. Mas os homens da Segrase não tiveram peito para assumir o desafio e espalhar a novidade.
Deveriam. Folhear a Cumbuca, publicação bissexta, sem periodicidade muito bem definida, editada com muita manha e perseverança pelo saudoso jornalista, era como dar pasto aos rangidos de uma janela pesada e arejar o ambiente crítico no qual a ideia de uma pretensa sergipanidade ainda se esforça para vingar e se fazer conhecida dos seus próprios. Uma rajada oportuna, informação prenhe de agoras e saudades, traços ligeiros e as interferências dos dias, o lodo do mangue no umbigo de nossa gente.
Não bastasse o conceito por trás do impulso, a primeira publicação de relevo com uma linha editorial enraizada nos valores locais, a Cumbuca tinha um apuro gráfico que saltava à vista, sem precedentes por essas praias. Nenhuma outra publicação local foi tão longe sem arredar o pé do próprio quintal. Era feita para se comer com os olhos.
O preço de capa não ajudava. A distribuição insuficiente era outra mancada imperdoável. No que diz respeito aos méritos editoriais da empreitada, contudo, a Cumbuca deu corpo a um feito inédito, acima de qualquer ressalva.
O poder público alega investir em Turismo. Folheio o acervo da Cumbuca e penso que para o lugar Serigy vingar de verdade, no entanto, cumpre oferecer mais do que belas paisagens.