Sábado, 18 De Janeiro De 2025
       
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Tut Fred, meu amigo cantor do Aribé


Publicado em 21 de julho de 2021
Por Jornal Do Dia


Cartaz de um show de Tuti Fred e imagens de suas apresentações na época auge

Com os cantores Benito de Paula e Roberto Carlos

Com os cantores Benito de Paula e Roberto Carlos

Cartaz de um show de Tuti Fred e imagens de suas apresentações na época auge

Cartaz de um show de Tuti Fred e imagens de suas apresentações na época auge

 

* Tereza Cristina Cerqueira da Graça
O menino Givaldo Lima nasceu no 
dia 03 de abril de 1945, na Rua 
Bahia, no Aribé. Era o segundo filho de quatro meninos e uma menina do casal José Benedito Antoniano, funcionário do Estado, e Maria do Carmo Lima, dona de casa.
O menino ‘Tut’, que ganhou esse apelido ainda muito pequeno, estudou o primário na Escola Municipal Getúlio Vargas, enquanto pegava carrego na Feirinha das Oficinas, engraxava sapatos e vendia as tainhas que seu pai pegava na região do atual Parque da Sementeira, quando estava de folga. Entre a escola e os biscates, arrumava tempo para fazer um monte de danação, principalmente algumas malvadezas comuns entre a gurizada daquela época. 
Certo dia, fora com o pai e o irmão mais velho numa festinha perto de casa, quando seu irmão cantou a música de Bob Nelson "Eu Tiro o Leite" (1949). Tut pediu para cantar também, mas seu pai não deixou. Sua chance chegou junto com um circo mambembe que se instalou na Praça Dom José Thomaz. O rapazinho, então com uns doze anos, resolveu enfrentar a fila de seleção para um show de calouros. O concorrente que o antecedeu cantou uma música romântica de sucesso na época. Tut havia se preparado para cantar aquele mesmo estilo, entretanto, observando que a plateia não apreciou muito a canção do concorrente, improvisou um samba muito popular: "Samba Rubro-Negro" (Wilson Batista, 1955).
O garoto esperto, torcedor do Vasco, levantou a plateia que cantou com ele e o aplaudiu efusivamente. Ganhou o primeiro lugar. Depois desse feito, continuou cantando entre amigos, nos barzinhos e em festas. Nessa época, a moda, o vocabulário e as músicas da Jovem Guarda faziam sucesso em todo o país e Tut se encantou com o Rei Roberto Carlos, de quem virou fã vitalício. 
Em 1969, um cantor mineiro, baixinho como ele, começou a fazer muito sucesso, com a música "Tudo Passará". Identificou-se de imediato. Começou a decorar as letras e a treinar a voz tentando igualar-se ao ídolo. Acabou apresentando-se no programa de auditório "Domingo em Festival", da Rádio Cultura, conduzido por Luiz Trindade. Surpreendeu o apresentador e a banda. Naquele mesmo dia, ganhou um pseudônimo e um convite para apresentar-se como cantor. Voltou para o Bar do Careca, na Rua Carlos Correia, onde foi ovacionado. Agora, era Tut Ned! 
Cantou nos cinemas Vera Cruz, Bomfim e Plaza, no Siqueira, em outros programas de rádio da capital e do interior, às vezes, fazendo abertura de shows de gente famosa. No início dos anos 1970, com Walter Batista, compositor e empresário, conseguiu gravar duas músicas num compacto de acetato de alumínio na gravadora SEREP. Uma delas é citada no cartaz de divulgação do artista, preparado para a turnê em Pernambuco, onde cantou em emissoras de rádio e fez shows em cinemas e clubes. 
Algum tempo depois estava com o futuro famoso empresário do Rei Roberto Carlos, José Carlos Mendonça, o Pinga, que viu no pequeno cantor uma promessa de estrelato. No fusca do empresário, fez algumas viagens para interior de Pernambuco, de Alagoas e da Bahia, quando esteve ao lado de artistas como Carlos Gonzaga, Carmem Silva, Roberto Leal, Odair José e Sérgio Reis, com quem fez dupla e virou compadre.Ograndalhão do Menino da Porteira(1973), muitas vezes, dividiu palco e quarto de pensões modestascom o pequeno Tut.
O mineirinho Nelson Ned não gostou de saber que tinha um sósia.Mandou um recado para o Ned sergipano: ou ele tirava o nome dele do seu, ou iria processá-lo! Pinga resolveu o problema: "Seu nome agora vai ser Tut Fred!" Com o novo nome um tanto quanto consolidado, o baixinho se desligou de Pinga e foi tentar sucesso na capital baiana. Foi um período muito difícil: dormia numa pensão de quinta, tendo apenas café com pão-de-leite por almoço e jantar. Acabou sendo socorrido pelo irritado Nelsinho que lhe deu dinheiro suficiente para quitar as dívidas, almoçar decentemente e voltar a Aracaju. Mais uma vez ajudado por Pinga, Tut conseguiu realizar um sonho: conhecer de perto o Rei Roberto Carlos. O encontro foi no Hotel Palace, onde estava hospedada Sua Majestade, de quem ganhou autógrafo, discos e diversos outros ‘acessos livres’. 
Em 1981, ingressou no serviço público, como assistente administrativo no governo Augusto Franco e, depois, atuou como agente de propaganda para os canais de televisão do grupo Franco. Em 1982, casou e deixou o Aribé para residir no conjunto Santa Tereza, onde nasceram seus 4 filhos: Adriana, Álvaro, Adrigo e Alverlan. 
Continuou, entretanto, frequentando seu bairro de nascença e revendo os muitos amigos que lá deixou. Separado há sete anos e aposentado há quatro, Tut Fred morava sozinho no Conjunto Orlando Dantas. Não fazia mais shows mas, ‘em ordem de pobre’, tinha uma vida financeira tranquila. Gostava de receber amigos e cozinhar. 
O pequeno cantor do Aribétinha temperamento forte, rígidos padrões de comportamento, preferências claras e algumas cismas que, às vezes, lhe rendiam inimizades. Não frequentava bar com som ao vivo e dizia desprezar os artistas que cantam em troca de comida, cerveja ou mulher. Quando estava num bar, não suportava que algum não convidado viesse sentar-se à sua mesa; pagava a conta e deixava o intruso lá.
Católico praticante, Tut Fred conseguiu uma graça e cumpriu a promessa quehavia feito: só voltaria a cantar na Casa de Deus. Cantou na Igreja São Lucas, da Coroa do Meio, onde custeou as despesas com os músicos e a sonorização. Mandou fazer uma cruz de alumínio, de cerca de três metros, que substituiu a de madeiradesgastada pela maresia. Lá, anunciou sua última apresentação pública.Sobre o seu Aribé, disse: "Eu amo o Siqueira Campos! Hoje eu tenho um patrimônio que me dá certa tranquilidade, mas não tenho mais a felicidade que eu tinha quando morava lá, mesmo sem ter nada!" 
Conheci Tutjovem, quando passava na Rua de Bahia, retribuindo cumprimentos e distribuindo simpatia e altivez nos seus 1,15m de altura. Tornei a encontrá-lo quando o peso dos anos já tatuava nossos rostos. Desde então, nos ‘zapeamos’ quase todos os dias. No último dia 03 de julho, Fredinho fez uma deliciosa rabada: comemos, bebemos, ouvimos músicas antigas e cantamos alto. Não fazia a menor ideia de que seria a última vez que eu compartilhava a alegria e a felicidade irradiadas no vozeirão do Pequeno Gigante do Aribé! Saiba, meu amigo, que nesta terra de curta memória, "Tudo (não) Passará". Sua passagem está registrada. Siga em paz!
* Tereza Cristina Cerqueira da Graça, professora aposentada. 2ª Vice-Presidente do IHGSE. Doutora em Educação. Autora de "Malinos, Zuadentos, Andejos e Sibites: o Aribé nos anos 70 e 80" (no prelo). Admiradora e amiga de Tut Fred.

* Tereza Cristina Cerqueira da Graça

O menino Givaldo Lima nasceu no  dia 03 de abril de 1945, na Rua  Bahia, no Aribé. Era o segundo filho de quatro meninos e uma menina do casal José Benedito Antoniano, funcionário do Estado, e Maria do Carmo Lima, dona de casa.
O menino ‘Tut’, que ganhou esse apelido ainda muito pequeno, estudou o primário na Escola Municipal Getúlio Vargas, enquanto pegava carrego na Feirinha das Oficinas, engraxava sapatos e vendia as tainhas que seu pai pegava na região do atual Parque da Sementeira, quando estava de folga. Entre a escola e os biscates, arrumava tempo para fazer um monte de danação, principalmente algumas malvadezas comuns entre a gurizada daquela época. 
Certo dia, fora com o pai e o irmão mais velho numa festinha perto de casa, quando seu irmão cantou a música de Bob Nelson "Eu Tiro o Leite" (1949). Tut pediu para cantar também, mas seu pai não deixou. Sua chance chegou junto com um circo mambembe que se instalou na Praça Dom José Thomaz. O rapazinho, então com uns doze anos, resolveu enfrentar a fila de seleção para um show de calouros. O concorrente que o antecedeu cantou uma música romântica de sucesso na época. Tut havia se preparado para cantar aquele mesmo estilo, entretanto, observando que a plateia não apreciou muito a canção do concorrente, improvisou um samba muito popular: "Samba Rubro-Negro" (Wilson Batista, 1955).
O garoto esperto, torcedor do Vasco, levantou a plateia que cantou com ele e o aplaudiu efusivamente. Ganhou o primeiro lugar. Depois desse feito, continuou cantando entre amigos, nos barzinhos e em festas. Nessa época, a moda, o vocabulário e as músicas da Jovem Guarda faziam sucesso em todo o país e Tut se encantou com o Rei Roberto Carlos, de quem virou fã vitalício. 
Em 1969, um cantor mineiro, baixinho como ele, começou a fazer muito sucesso, com a música "Tudo Passará". Identificou-se de imediato. Começou a decorar as letras e a treinar a voz tentando igualar-se ao ídolo. Acabou apresentando-se no programa de auditório "Domingo em Festival", da Rádio Cultura, conduzido por Luiz Trindade. Surpreendeu o apresentador e a banda. Naquele mesmo dia, ganhou um pseudônimo e um convite para apresentar-se como cantor. Voltou para o Bar do Careca, na Rua Carlos Correia, onde foi ovacionado. Agora, era Tut Ned! 
Cantou nos cinemas Vera Cruz, Bomfim e Plaza, no Siqueira, em outros programas de rádio da capital e do interior, às vezes, fazendo abertura de shows de gente famosa. No início dos anos 1970, com Walter Batista, compositor e empresário, conseguiu gravar duas músicas num compacto de acetato de alumínio na gravadora SEREP. Uma delas é citada no cartaz de divulgação do artista, preparado para a turnê em Pernambuco, onde cantou em emissoras de rádio e fez shows em cinemas e clubes. 
Algum tempo depois estava com o futuro famoso empresário do Rei Roberto Carlos, José Carlos Mendonça, o Pinga, que viu no pequeno cantor uma promessa de estrelato. No fusca do empresário, fez algumas viagens para interior de Pernambuco, de Alagoas e da Bahia, quando esteve ao lado de artistas como Carlos Gonzaga, Carmem Silva, Roberto Leal, Odair José e Sérgio Reis, com quem fez dupla e virou compadre.Ograndalhão do Menino da Porteira(1973), muitas vezes, dividiu palco e quarto de pensões modestascom o pequeno Tut.
O mineirinho Nelson Ned não gostou de saber que tinha um sósia.Mandou um recado para o Ned sergipano: ou ele tirava o nome dele do seu, ou iria processá-lo! Pinga resolveu o problema: "Seu nome agora vai ser Tut Fred!" Com o novo nome um tanto quanto consolidado, o baixinho se desligou de Pinga e foi tentar sucesso na capital baiana. Foi um período muito difícil: dormia numa pensão de quinta, tendo apenas café com pão-de-leite por almoço e jantar. Acabou sendo socorrido pelo irritado Nelsinho que lhe deu dinheiro suficiente para quitar as dívidas, almoçar decentemente e voltar a Aracaju. Mais uma vez ajudado por Pinga, Tut conseguiu realizar um sonho: conhecer de perto o Rei Roberto Carlos. O encontro foi no Hotel Palace, onde estava hospedada Sua Majestade, de quem ganhou autógrafo, discos e diversos outros ‘acessos livres’. 
Em 1981, ingressou no serviço público, como assistente administrativo no governo Augusto Franco e, depois, atuou como agente de propaganda para os canais de televisão do grupo Franco. Em 1982, casou e deixou o Aribé para residir no conjunto Santa Tereza, onde nasceram seus 4 filhos: Adriana, Álvaro, Adrigo e Alverlan. 
Continuou, entretanto, frequentando seu bairro de nascença e revendo os muitos amigos que lá deixou. Separado há sete anos e aposentado há quatro, Tut Fred morava sozinho no Conjunto Orlando Dantas. Não fazia mais shows mas, ‘em ordem de pobre’, tinha uma vida financeira tranquila. Gostava de receber amigos e cozinhar. 
O pequeno cantor do Aribétinha temperamento forte, rígidos padrões de comportamento, preferências claras e algumas cismas que, às vezes, lhe rendiam inimizades. Não frequentava bar com som ao vivo e dizia desprezar os artistas que cantam em troca de comida, cerveja ou mulher. Quando estava num bar, não suportava que algum não convidado viesse sentar-se à sua mesa; pagava a conta e deixava o intruso lá.
Católico praticante, Tut Fred conseguiu uma graça e cumpriu a promessa quehavia feito: só voltaria a cantar na Casa de Deus. Cantou na Igreja São Lucas, da Coroa do Meio, onde custeou as despesas com os músicos e a sonorização. Mandou fazer uma cruz de alumínio, de cerca de três metros, que substituiu a de madeiradesgastada pela maresia. Lá, anunciou sua última apresentação pública.Sobre o seu Aribé, disse: "Eu amo o Siqueira Campos! Hoje eu tenho um patrimônio que me dá certa tranquilidade, mas não tenho mais a felicidade que eu tinha quando morava lá, mesmo sem ter nada!" 
Conheci Tutjovem, quando passava na Rua de Bahia, retribuindo cumprimentos e distribuindo simpatia e altivez nos seus 1,15m de altura. Tornei a encontrá-lo quando o peso dos anos já tatuava nossos rostos. Desde então, nos ‘zapeamos’ quase todos os dias. No último dia 03 de julho, Fredinho fez uma deliciosa rabada: comemos, bebemos, ouvimos músicas antigas e cantamos alto. Não fazia a menor ideia de que seria a última vez que eu compartilhava a alegria e a felicidade irradiadas no vozeirão do Pequeno Gigante do Aribé! Saiba, meu amigo, que nesta terra de curta memória, "Tudo (não) Passará". Sua passagem está registrada. Siga em paz!

* Tereza Cristina Cerqueira da Graça, professora aposentada. 2ª Vice-Presidente do IHGSE. Doutora em Educação. Autora de "Malinos, Zuadentos, Andejos e Sibites: o Aribé nos anos 70 e 80" (no prelo). Admiradora e amiga de Tut Fred.

 

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