Capitalismo malvadão dá saudade
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Um bêbado com chapéu coco
Publicado em 01 de maio de 2020
Por Jornal Do Dia
Emprego virou privilégio. Eterno, o palhaço triste do filme ‘Tempos modernos’ estaria hoje dando graças a Deus por apertar parafusos o dia inteiro, a vida toda dentro de uma fábrica, sem saber da luz do sol.
A miséria nossa é tamanha, a ponto de o capitalismo malvadão dos panfletos sindicaisprovocar saudades. A uberização do trabalho dá a falsa impressão de recompensar a servidão voluntária. Em verdade, contudo, os ciclistas do Ifood – ninguém sabe se pretos de tão pobres, ou pobres de tão pretos – não têm alternativa razoável, nenhuma chance.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística está devendo um levantamento dos efeitos do coronavírus no mercado de trabalho verde e amarelo. Tudo indica, muita gente perdeu renda e emprego.Todas as iniciativas do governo federal neste particular privilegiaram gente como o velho da Havan, uma elite de perversos,capaz de fazer pouco caso da vida e das dificuldades alheias. A depender da solidariedade dos donos da grana, o trabalhador pode esperar uma faca enferrujada no bucho magro, enfiada bem fundo.
Outro dia, a amiga Aline Passos, militante abolicionista, observava que a massa proletária jamais teve motivos tão concretos para promover uma greve geral. De fato, a pandemia é uma questão de vida ou morte. Trata-se, em suma, de os trabalhadores se recusarem a colocar a corda no pescoço a fim de preservar a margem de lucro do patrão.
Eu, por mim, subscrevo qualquer decisão tomada em assembleia com ceticismo.A minha adesão a uma greve improvável significa nada. Eu, grevista, louco, não passo de um bêbado com chapéu coco. Praguejo à vontade, em letra cursiva ou tipo de imprensa. A pena largada, junto à poeira e os entulhos esquecidos no fundo da gaveta, não incomoda ninguém. Tanto faz, como tanto fez.
RianSantos
Emprego virou privilégio. Eterno, o palhaço triste do filme ‘Tempos modernos’ estaria hoje dando graças a Deus por apertar parafusos o dia inteiro, a vida toda dentro de uma fábrica, sem saber da luz do sol.
A miséria nossa é tamanha, a ponto de o capitalismo malvadão dos panfletos sindicaisprovocar saudades. A uberização do trabalho dá a falsa impressão de recompensar a servidão voluntária. Em verdade, contudo, os ciclistas do Ifood – ninguém sabe se pretos de tão pobres, ou pobres de tão pretos – não têm alternativa razoável, nenhuma chance.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística está devendo um levantamento dos efeitos do coronavírus no mercado de trabalho verde e amarelo. Tudo indica, muita gente perdeu renda e emprego.Todas as iniciativas do governo federal neste particular privilegiaram gente como o velho da Havan, uma elite de perversos,capaz de fazer pouco caso da vida e das dificuldades alheias. A depender da solidariedade dos donos da grana, o trabalhador pode esperar uma faca enferrujada no bucho magro, enfiada bem fundo.
Outro dia, a amiga Aline Passos, militante abolicionista, observava que a massa proletária jamais teve motivos tão concretos para promover uma greve geral. De fato, a pandemia é uma questão de vida ou morte. Trata-se, em suma, de os trabalhadores se recusarem a colocar a corda no pescoço a fim de preservar a margem de lucro do patrão.
Eu, por mim, subscrevo qualquer decisão tomada em assembleia com ceticismo.A minha adesão a uma greve improvável significa nada. Eu, grevista, louco, não passo de um bêbado com chapéu coco. Praguejo à vontade, em letra cursiva ou tipo de imprensa. A pena largada, junto à poeira e os entulhos esquecidos no fundo da gaveta, não incomoda ninguém. Tanto faz, como tanto fez.