O personagem Pereio mereceu a boa fama de maldito (Arquivo)
Um céu para Paulo César Pereio
Publicado em 14 de maio de 2024
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
O conceito de céu e inferno, uma dicotomia forjada em caldeirão fervente de culpa, certamente não constava entre as preocupações do ator Paulo César Pereio. Não se incorre, aqui, em equívoco recorrente, a confusão costumeira entre um homem e o produto de seu trabalho, o seu esforço. O personagem Pereio, no entanto, fez por merecer a fama de maldito.
Pereio bateu as botas e me pôs a pensar na arquitetura improvável de um paraíso de portas eternamente abertas para os degenerados. Imagino um grande letreiro de néon pendurado em uma marquise com ferragens expostas, prestes a desmoronar: Heaven.
No recinto escuro, gente de voz encardida apoia o corpo magro sobre os cotovelos gastos ao longo de um balcão de madeira. Uma puta velha, cigarro pendurado no bico, anota pedidos.
Pereio ergue a voz pastosa, levanta um copo vazio, balbucia algo parecido com um verso de Yeats ou uma canção de Tom Waits. Depois, emenda, cheio de razão: “Fodam-se os gringos!”.
Nota triste – O ator Paulo César Pereio morreu aos 83 anos, na tarde deste domingo (12), no Rio de Janeiro. A informação foi confirmada pelo Hospital Casa São Bernardo, onde ele estava internado. Pereio teve trabalhos marcantes na TV, teatro e no cinema, com mais de 60 filmes, alguns de grandes cineastas brasileiros como Glauber Rocha e Hector Babenco.
Ex-mulher do ator, a apresentadora da TV Brasil e atriz Cissa Guimarães prestou homenagem a Pereio em suas redes sociais. “Te amo e te reverencio imenso! Obrigada pelos nossos sagrados filhos, obrigada, obrigada, obrigada! Vai na luz meu companheiro, com todo meu amor! Salve Paulo César Pereio!”, escreveu Cissa.
Diretor do documentário “Pereio, Eu Te Odeio”, Allan Sieber celebrou a trajetória do ator e se solidarizou com a família: “Pereio odiaria odes sentimentaloides nessa hora. Tava ruim pra ele e ele saiu de cena. Timing perfeito. Coisa de grande ator. Triste, aqui, e ao mesmo tempo feliz por ter tido a oportunidade de conviver e aprender com ele. O último de uma espécie. Meu abraço na família linda”. (Com Agência Brasil)