Um deserto de ideias

Bons tempos, quando o pastor subia no púlpito e o candidato no palanque; quando os generais aposentavam a farda e, ato contínuo, adotavam o pijama; quando o policia só judiava dos pretos e pobres na delegacia. Cada um cuidava apenas da própria carreira. A fauna política era outra – os mercadores de sempre.

Hoje, qualquer um com alguns seguidores sobrando nas redes sociais se julga apto a governar os destinos do lugar – seja este uma selva de pedra como São Paulo, a maior cidade da América do Sul, seja uma grande extensão de praia, igual a capital sergipana.

Lá, um loroteiro profissional promete resolver os problemas de mobilidade rasgando a cidade grande com um teleférico maior ainda. Cá, uma patricinha com as unhas pintadas de vermelho quer promover justiça social distribuindo energia e fogão como quem distribuísse bananas.

A face esticada da nova política me enche de medo. Quando Emília Corrêa bate no peito e alardeia a sua capacidade realizadora exibindo as mãos limpas, sem mácula de culpa, eu tento adivinhar os calos do trabalho nas palmas abertas. Não os enxergo.

Para ser um bom prefeito, um vereador atuante, o sujeito não precisa alardear fé em deus, não precisa ser casado, nem ter filhos, não precisa emular o personagem sonso de um homem de família. Também não precisa ensaiar a coreografia juvenil dos tiktokers, alheio ao senso de ridículo , igual o candidato do homem abadá, tão desajeitado quanto o prefeito Edvaldo Nogueira. Precisa estar imbuído de espírito público. Não de disposição para entreter a plateia.

O cenário é de estiagem prolongada. No deserto sem sombra do embate eleitoral, anseio pela miragem de uma ideia.