Nas maiores redações da aldeia(Divulgação)
Um dos últimos
Publicado em 02 de novembro de 2024
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
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Conheço os meus mortos. Convivo com eles há anos, desde quando partiram desta para melhor. Tão diferentes, agora, livres da carne, alheios à gravidade, leves, quase santos.
O amigo Victor Wladimir, filho do jornalista Eugênio Nascimento, terá de aprender a se relacionar com a memória, em lugar da matéria mais bruta de uma humanidade palpável, o peso do corpo, braços, olhos e ouvidos, boca, dentes, baba e fluidos. Victor terá de se relacionar com uma humanidade sem a presença física de seu pai.
Já experimentei essa dor. Não é fácil admitir a finitude dos nossos, a nossa, uma brevidade que nos dói na medula, nos ameaça e nos nega a ilusão da eternidade. Aceitar o fim é para poucos. Não é feito ordinário perceber no calor do fogo vivo a essência do lampejo, mera faísca, o humor, o espírito.
Sobre o jornalista Eugênio Nascimento, profissional com uma vida inteira nas maiores redações da aldeia, tudo será relatado com o verbo discretamente afetivo próprio dos obituários. O jornalista Marcos Cardoso já redigiu e publicou o resumo da ópera, com a competência de praxe. Resta, aqui, admitir, portanto, a página virada – as redações agora são outras, os jornalistas já não são tão respeitáveis como já foram, um dia. Eugênio é um dos últimos.